quinta-feira, 28 de junho de 2007
Casamento
domingo, 24 de junho de 2007
Síndrome do Fantástico... mudar...
“Se você já me explicou, agora muda de assunto.
Hoje eu sei que mudar dói, mas não mudar dói muito... muito”
(Oswaldo Montenegro)
Uma frase fantástica, anda que a intenção de seu autor tenha, talvez, sido apenas impessoal, meio psicológica, meio subjetiva...
Mas o grande lance desta música de impetuoso Oswaldo Montenegro é o que instiga.
Mudança: o que nos leva a querer mudar? As opiniões dos grandes meios de comunicação (‘bora combinar, esse papo de imprensa imparcial é tremenda balela)? nossas perdas parciais? Namoro, casamento, noivado na porta da igreja... Ou talvez um curso superior que não era o que imaginávamos...
Temos sempre a referência que a mudança é algo absolutamente particular... e, na verdade, na verdade, o grande desafio da humanidade é a mudança (que, aqui, classificaria como transformação) coletiva... e a mudança (transformação) é o grande desafio... e essa, com certeza, dói, mas deve doer muito.
O que nos levaria, o que nos colocaria dispostos a mudar e, principalmente, mudar coletivamente?
Semana passa (aliás, retrasada, pois semana passada não mudei), comentei sobre a nossa infância, sobre as crianças zapatistas e sobre o V Congresso Nacional do MST e, de passagem, a reunião de cerca de 1.000 crianças Sem-terrinha participando deste encontro.
O que elas querem? Ah, sim, elas querem... Por mais que nossos meios de comunicação induzam nossas mentes no sentido de dizer às nossas opiniões (?) que elas são levadas a querer, mas não querem por vontade própria... O que elas querem?
Elas querem um mundo de todos, em que nossos sangues não sejam explorados, em que nossas idéias não sejam exploradas, em que nossos sonhos não sejam explorados... em que nossos homens, mulheres, crianças e idosos, em que nossos trabalhadores e trabalhadoras não sejam exploradores... em que nossa natureza não seja explorada... em que nossos sentimentos não sejam explorados...
Ok... parece discurso de esquerdista perdido no mundo depois da queda no Muro de Berlim... Mas o muro caiu e a pergunta fica: O que nós realmente queremos mudar????
Bom... eu, particularmente, mudei o canal de televisão... Não assistirei ao Fantástico hoje... E tu? Pretendes mudar? Bom, se no início, mudar te fizer, de alguma maneira, doer... hummmm... eu acho que começaste bem...
Minhas mudanças me doem a algum tempo... Mas como é bom tirar a atadura... E isso é fantástico!!!!
Marcelo "Russo" Ferreira
Copyright Marcelo Ferreira. Se for utilizar o texto, dê crédito ao autor.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
terça-feira, 12 de junho de 2007
Amigos Para Sempre
Do lado esquerdo do peito,
Dentro do coração,
Assim falava a canção
Que na América ouvi’’.
(Milton Nascimento)
Amigos são seres divinos, que nos acompanham – de longe ou de perto - que estão sempre conosco, mesmo quando a quilômetros de distância. Amigos - já disse aqui numa outra ocasião - são aqueles que nos aceitam integralmente e até riem do nosso lado sombra.
Eles, os amigos, nos conhecem tanto que sabem bem quando vamos furar um programa, só pela forma como respondemos ao convite. E fingem que topamos, relevando o esperado ‘bolo’.
Amigos nunca erram nosso nome, pois sabem que podemos ter um milhão de amigos, mas que cada um é único e especial. Amigo, que é amigo, sabe a hora de falar e a hora de calar. Ele sabe quando é hora de nos deixar ‘quebrar a cara’, em respeito ao nosso processo de evolução. Ao final, estão a postos, para embalar nosso necessário pranto.
Amigos temem a ausência, mais que a presença do amigo. Dizem que são para todas as horas, as tristes e as alegres. Digo mais, nas tristes nos seguram a mão, nas comemorações alegram-se verdadeiramente com nossas vitórias, mandando embora qualquer sombra de inveja.
Amigos são a família que escolhemos e por tudo isso, não pode haver ex-amigo. Ex-amigo é no máximo aquele que nunca o foi, porque quem sabe o que é amigo, sabe que pode haver ex-namorado, ex-rolo, ex-ficante, ex-peguete, ex-amante, ex-marido – eu mesma tenho dois – ex-colega de trabalho, ex tantas coisas, só não pode haver ex-amigo. E nesse dia dos namorados, amigos, uni-vos! Porque namorados vêm e vão, amigos são para sempre!
segunda-feira, 11 de junho de 2007
“Síndrome do Fantástico”... e p’ra onde vai nossa infância?
Nestas idas e vindas de “velhos” textos, encontro uma reflexão do Sub-comandante Marcos (sim, aquele mesmo dos Zapatistas do México, dos Chiapas): “As crianças podem suscitar guerras e amores, encontros e desencontros. Magas imprevisíveis e involuntárias, as crianças brincam e vão criando o espelho que o mundo dos adultos evita e detesta. Têm o poder de mudar o que está em volta delas e transformar, por exemplo, uma rede velha e esfarrapada num moderno avião, numa canoa, num carro para ir a San Cristóbal de Las Casas. Um simples rabisco, traçado com um lápis que la Mar dá a eles para casos como estes, lhes dá corda para contar uma complexa história na qual o “ontem à noite” abrange horas ou meses, e o “logo mais” pode querer dizer “o próximo século”, onde (alguém duvida?) eles e elas são heróis e heroínas. E o são, mas não só em suas histórias fictícias, como também e sobretudo em seu ser meninos e meninas indígenas entre as montanhas do sudeste mexicano” (2001).
Cá estão as crianças do sudeste mexicano... Aliais, nós, reles mortais, felizes no mundo do consumo, talvez estejamos muito distantes de experimentar essa realidade, em toda a sua plenitude (dos jogos às necessidades). Mas, o que é mais interessante é que encontro, em outro destes escribas inconseqüentes (viva-os!), algo semelhante a quase um século atrás: "(...) e nós de fato brincamos de prendas. A pedagogia às vezes faz caretas estranhas: quarenta garotos, bastante andrajosos, bastante famintos, brincam alegremente de prendas à luz de uma lâmpada de querosene. Só que sem beijos como prenda” (MAKARENKO, 1986: p. 176).
Bom, minha reflexão em torno deste tema (que possivelmente não seria assim tratado no folhetim global) é sobre nossas infâncias... Aquela que deleitei-me no último (primeiro) artigo. Qual nossa responsabilidade como pais, mães, tios, tias, avós, avôs, adultos, padrinhos, madrinhas, educadores etc? O que devemos construir para nossos filhos, sobrinhos, netos, afilhados, alunos? Qual a relação entre a fantasia e a realidade na construção dos valores de nossos pequenos? E para que sociedade os queremos? Tem gente (ai, esses “educadores”) que acredita piamente que devemos prepará-los para a sociedade, quase de adequando-os. Eu acredito nestes escribas “ultrapassados”, pois denotam uma transformação... uma construção de pequenos lutadores do povo... e os são. É a infância, de crianças que, como nos presenteia Pedro Tierra, são que nem soca de cana: podem até cortar, mas nasce sempre.
Em tempo, para quem está em Brasília e arredores, dê uma passadinha no Ginásio Nilson Nelson, ao lado do Mane Garrincha, onde está acontecendo o V Congresso Nacional do MST e estará reunindo, também, cerca de 1200 Sem Terrinhas em cinco dias de Ciranda Infantil... Não é fantástico?
Copyright Marcelo Ferreira. Se for utilizar o texto, dê crédito ao autor.
terça-feira, 5 de junho de 2007
A arte de jogar bola
Quem aqui, independente de ter sido menino ou menina na infância, já não resgatou em suas memórias de um tempo que passou e não volta mais, suas peripécias, suas brincadeiras, suas fantasias, suas conversas sem pé nem cabeça?
Talvez nossas crianças, hoje, não tenham muito o que contar quando crescerem... Talvez até tenham, mas de longe, não tanto quanto nós, que éramos crianças e adolescentes nos obscuros anos 60, 70 e 80...
Lembrava da “Chácara do Externato Santa Terezinha”, do outro lado da rua... Tinha um muro facilmente transponível, quando ela ficava fechada. Era uma escola só de meninos (a das meninas ficava no outro quarteirão...) e nos finais-de-semana, os nada mais, nada menos do que seis campos de terra sempre tinham partidas de futebol acontecendo...
Meu pai, quando a família não estava sendo repreendida pela polícia do DOI-CODI, ia para lá sempre. Eu e minha irmã costumávamos ir para brincar na caixa de areia (servia para saltos em distância, em épocas de aulas, e para construir castelos, casas, morros e tudo o que a gente podia imaginar, quando nossas idéias ficavam livres para criar... éramos pretensos subversivos da ditadura)... Tinha também um estranho brinquedo que nunca consegui recordar o nome.... Na verdade eu brincava nele sem mesmo saber o nome.
Era um mastro com uma espécie de roldana presa no alto e quatro cordas segurando uma cadeirinha de couro na ponta, cada uma. O Jogo era simples: em duplas (eram duas) girávamos a toda velocidade e tínhamos que pegar um pequeno graveto que ficava melimetricamente colocado no chão. A velocidade do giro fazia as cadeiras se erguerem e descerem, num movimento quase que harmonioso. O objetivo era pegar o graveto no chão. A dupla que pegasse ficava no jogo a que perdesse saia e voltava para o final da fila...
Interessante que eram meninos de todas as idades. Lembro-me que nos meus 4-5 anos eu já me metia no meio daqueles gigantes de 9-10 anos e era uma fera no brinquedo. Nunca ficava menos de quatro rodadas seguidas...
Ou seja, com 4-5 anos, ficávamos literalmente soltos numa chácara que tinha um prédio (e ao lado a casa dos Padres), duas quadras, uma cancha de areia e 06 campos de futebol... E nunca isso foi um problema para nós.
Com 4-5 anos eu já adorava a liberdade (em pleno período da ditadura) de poder brincar na rua, na chácara em frente de casa, no quintal (fazendo paredão com a bola)... É verdade que já quase ateei fogo na casa com minha irmã, queimei meu colchão com o ferro (estava frio e eu queria esquentá-lo)...
Mas queria falar do futebol (naquela época, uma atividade absolutamente de meninos... menina não entrava mesmo).
Passei anos e anos jogando bola na rua... Tinha a quadra na escola, teve uma época em que me metia no handebol e no voleibol, de tal forma que eu quase nunca jogava bola na escola... Mas na rua (a “Rua de Baixo”, como costumávamos nos referir para avisar nossos pais), entre períodos de dominação dos esconde-esconde, pega-pega, garrafão, dono da rua e taco, o futebol sempre tinha seu império e domínio absoluto. Nada como a velha bola de borracha grossa (que a deixava sempre no ponto e não tinha carro que passasse por cima que a estourasse), quatro pedras para marcar a barrinha, a divisão do time (e sempre dividíamos de forma a deixar o jogo equilibrado) e pronto.
Regras eram sempre as mesmas... quando vier o carro pára onde está e após o carro sair do campo, recomeça o jogo; não vale ficar plantado no gol; bola embaixo do carro, aquele que colocar o pé primeiro nela fica com ela, e por aí vai...
Entre habilidosos e pernas-de-pau, todos jogavam... Tinha dia em que o habilidoso não jogava nada, tinha dia em que o perna-de-pau fazia “aquela” jogada e assim íamos até altas horas... Até jogo de final-de-ano, destes que acontecia à meia noite (não do dia 31, claro), com pãozinho com patês que nossas mães faziam e as garrafas de cerveja de nossos pais devidamente trocadas por Tubaína.
Outra característica destes nossos confrontos futebolísticos eram os equipamentos... Quando um ia de “iate” (aquele tênis da Rainha, sem cadarço), tinha que ter o mesmo cuidado de quem ia de “chinelo-de-dedo”, pois quando dava-se um chute, ia tênis e bola juntos... Tinha aqueles que usavam exatamente “aquele” tênis para jogar bola na rua... Mas tinha a maneira que concordávamos como aquele que melhor se aderia ao “piso” do jogo (o asfalto, não importava a hora do dia) e à bola: jogar descalço!
Ainda conseguimos testemunhar, hoje em dia, partidas de futebol de várzea (onde elas ainda resistem, é claro, pois a “Rua de Baixo” não guarda mais nenhuma marca dos incontáveis finais-de-semana que ela teve) com a galera descalça... mas infinitamente mais limitada.
Jogar bola na rua (ou qualquer outro jogo ou brincadeira) descalço era realmente para poucos. Os pés, além de muito sujos, o que sempre dava um trabalho a mais para limpá-los em casa, formavam bolhas que rapidamente transformavam-se em “bolhas abertas”... isso para os mais iniciantes, claro. E jogar, seja o que for, descalço, com a bolha aberta, quem o fez, sabe da dor e da dificuldade em andar (mesmo ou até porque calçado) nos dias seguintes.
Houve um tempo em que eu jogava só de tênis... um bem surrado e, de tanto surrado, teve um final trágico, daqueles que nossas mães, não suportando mais passar pelo nosso quarto e ver aquele objeto sem valor (para ela, claro) largado, dá um fim nele. Triste imaginar nosso melhor parceiro de peladas na rua sendo retorcido e esmagado, mesmo que resistindo bravamente, dentro de um caminhão de lixo. Talvez, lá no final desta saga, fosse encontrado em algum lixão por algum garoto de idade e tamanho dos pés semelhante e voltasse a freqüentar outros campinhos de várzea... Mas isso não podíamos saber.
Sem o tênis (e sem “autorização” para usar aquele da escola), não se tinha outra saída a não ser jogar descalço. É verdade que lá nos meus 4-5 anos, descalço era uma situação comum... Mas os pés, quando muito jovens, desacostumavam... E lá vinha a bola, colada em nossos pés descalços, com a incrível aderência destes com a bola e com o “piso”, desfilando por horas a fio mais uma partida de futebol...
– “Olha o carro!”... Gritava um!
– “Parôôô!”... gritava outro!
– “É minha, podem ver!”.. gritava aquele que chegou primeiro na bola encaixada embaixo do carro!...
... e assim íamos.
E estava justamente falando no final do jogo, com aquela bendita mania de tirar a pele que soltava da bolha que se abria em nosso pés... sem falar nas inevitáveis casquinhas que nossos dedos levavam junto a cada disputa de bola perto do meio-fio da calçada...
Demorava, quando voltávamos a jogar descalços, para as bolhas se transformarem em calos novamente, daqueles que já tínhamos aos 4-5 anos.
Hoje, fico pensando nos calos que se formavam...
Eles se formavam, porque jogávamos com nossos amigos... Todos eram amigos! As marcas que ficavam nos nossos dedos (algumas ficavam porque não dava tempo de cicatrizar e, portanto, o organismo acabava “desistindo” de recuperar aquele pedacinho da pele) eram disputadas COM nossos amigos que, em determinado momento, estava no “time adversário” (e que em determinadas ocasiões era da casa dele que vinha a água para todos)...
Nem todos os calos ficaram, porque nossos finais-de-semana foram profundamente reduzidos... Mas as lições dos calos e algumas pequenas marcas, essas sim ficaram.
Ficaram aquelas manchinhas no corpo que a gente descreve com orgulho quase olímpico:
– “Essa foi uma queda de bicicleta em que eu saí derrapando uns 6 metros!”
– “Essa foi no pega-pega!”
– “Esse foi num jogo de taco, em que peguei a bola no ar e enfiei o pé no buraco do bueiro”...
... e por aí vai!
Assim, creio eu, são os outros calos e cicatrizes.
Hoje, muita gente pode se referir a “marcas que estão no meu corpo, na minha alma, no meu coração”, e que foram feitas por nossos “amigos da Rua de Baixo”... Talvez até não gostaríamos de ter esses calos e essas cicatrizes.
Outras são feitas pelos “caras da Rua de Cima” (sempre que tem a Rua de Baixo, tem a Rua de Cima)...
Tem cicatrizes e calos que são realmente muito duras, muito difíceis de serem tratadas, limpas e curadas... Não basta só tirar a pelezinha (eca!), não basta passar a pedra-pomo para “alinhar” os calos formados.
Mas, como nos nossos jogos em que arrebentamos o pé, mas pegamos a bola no ar e isso significou a nossa dupla ficar com o taco (que dava o direito de ser a dupla que conduz o jogo ao final)... em que rasgamos o joelho para chegar com os pés embaixo do carro primeiro e isso dava aquele gol magistral, nunca filmado mas popularmente testemunhado... que saímos do jogo, fomos para casa, tomamos banho, o final-de-semana terminou e a Rua de Baixo nos aguardava no próximo final-de-semana, estes “jogos” de nossos dias atuais nos guardam, também, lembranças e marcas. E também deixam nossos corpos, nossa alma e nossos corações “calejados”... E sempre diremos, com o mesmo orgulho verdadeiro, que saímos vencedores. Porque celebramos em cada partida, porque sempre estávamos juntos e a “Rua de Cima” ia embora, simplesmente...
Quem aqui não resistiu verdadeiramente um dia sequer e continuou a respeitar seus amigos da Rua de Baixo e “os caras de Rua de Cima”, não saberá nunca tratar de suas cicatrizes e seus calos...
Eu trato dos meus...
Copyright Marcelo Ferreira. Se for utilizar o texto, dê crédito ao autor.
Pares e Ímpares - A Ditadura dos Pares
''Caminho da liberdade, estarmos com quem desejamos estar, enquanto proporcionamos felicidade e aprendizado mútuo''.
Certa feita, passeando pelo Rio de Janeiro, justo na feira de antigüidades da Praça XV, deparei-me com a materialização da ditadura dos pares. Queria comprar uma taça - vejam bem, uma taça - daquelas de champagne antigas, boca larga, rasa. Encontrei a taça perfeita, em cristal, maravilhosa. Perguntei o preço - era ótimo! Feliz e pronta para comprá-la, pedi à vendedora, porém ela me respondeu que não venderia uma taça sozinha, que venderia o par. Há anos penso no que venho chamando de ditadura dos pares. Ei-la!
Repare: quando reencontramos conhecidos, amigos, ex-colegas de trabalho a primeira coisa que nos perguntam, logo após o tradicional ' e aí, quanto tempo!' é se estamos namorando. Incrível perceber que saber se somos um par ou se ainda somos ímpar é uma preocupação bem maior do que 'como você está'. Infelizmente estamos vinculados à idéia confundida de que 'bem estar' é 'estar com alguém'.
Solteiros em geral são vistos como pessoas solitárias, tristes. Se assim não é, costumam estar associados às baladas ininterruptas, às noites nos bares ou nas festas, buscando incessantemente companhias fugazes. Pergunto-me freqüentemente o que motiva a crença de que ser um par é o único caminho para a felicidade e para a auto-realização.
Pessoas sozinhas em restaurantes, bares, cinemas, teatros freqüentemente são vistas como alienígenas, sem amigos, sem família, sem ninguém. Será que não dá para imaginar que às vezes é muito bom sair sozinho? Que ao escolher sua própria companhia a pessoa está optando por um tempo com seus pensamentos, um momento para reflexões, introspecção?
Outro dia vi num filme bem bobinho frase sábia. A mocinha dizia para o mocinho ' não vim aqui para dizer que preciso de você para viver, seria mentira. Eu não preciso de você para viver, mas vim para dizer que quero viver com você' . Sapiência do filminho hollywoodiano. Estar com alguém por livre escolha, certamente é mais que estar por necessidade de 'alguém'.
Seja a necessidade financeira - modelo ultrapassadíssimo - mas ainda vigente, seja a necessidade de companhia - dependência afetivo-sexual - seja ainda a necessidade social - esta, a tal orientadora da ditadura dos pares - subjuga o indivíduo até fazê-lo crer que não pertence, que não é adequado se não for um par. A necessidade, seja ela qual for, nesse sentido é prisão que acorrenta almas. É desprovimento do fundamental direito à liberdade de ser, de estar, de ir e vir como bem lhe aprouver.
Escolha, por outro lado, é máxima expressão da liberdade. Liberdade de ser quem se é, de estar onde se quer, com a companhia que dê prazer, felicidade e alegria ou com nenhuma companhia. Liberdade é escolher ir ao cinema sozinho - ou acompanhado. Liberdade é escolher a solitude, podendo ser par por livre-escolha e não por imposição da ditadura social, financeira ou emocional. Escolher estar só ou com alguém, portanto, na minha humilde opinião, é melhor que sentir-se 'o último dos moicanos' só porque não se é par.
''Estou sozinha porque quero estar sozinha, antes só que mal acompanhada'' (C.A., jornalista).
'' Por que alguém como você não tem namorado?'' (um homem dia desses).
Maria Cláudia Cabral
Respeite o direito autoral. Se for citar o texto, dê crédito à autora.
segunda-feira, 28 de maio de 2007
A simplicidade da Primavera
O filme conta a história de Jeanne e de Natasha, duas pessoas que se conhecem por acaso em uma festa e se tornam amigas rapidamente. Jeanne é uma professora de filosofia muito comunicativa e sozinha. Se vê desabrigada quando empresta seu apartamento pra uma prima e não deseja permanecer no apartamento do namorado, enquanto este está ausente. Natasha é uma jovem tão solitária quanto a amiga. Filha de pais separados, mora praticamente sozinha, uma vez que o pai está sempre com a namorada, que por sinal, Natasha detesta. Dessa maneira, a garota começa a ver na amiga, uma possível substituta para a namorada do pai e, aparentemente tenta fazer de tudo para aproximá-los.
O filme se baseia no discurso. Os diálogos são mais recorrentes e mais importantes que as ações. Muito se fala de filosofia, de relacionamentos, de sentimentos, de carências, de solidão, em vários jogos de palavras. E é exatamente através dessas falas que as personagens se revelam. Entretanto essas revelações são parciais. Como na vida real, não se sabe se o que uma pessoa diz é sincero e verdadeiro, ou se é uma imagem oportunista que ela quer passar de si mesma. Assim são as personagens de Rhomer: ora se mostram ingênuas e carentes, ora oportunistas e maquiavélicas.
Jeanne e Natasha falam muito de si, se entregam e confiam muito uma na outra, apesar de terem acabado de se conhecer. Surge uma cumplicidade entre elas, uma busca por saciar seu desejo de companhia, de ser o centro das atenções, de romper com a solidão. Ambas dão pouca importância ou quase nenhuma a seus respectivos namorados, tratando de forma egocentrista de seu universo particular. São personagens ressentidas com suas próprias vidas, e que, exatamente por isso, não conseguem falar de outra coisa.
Podemos afirmar que é um filme que trata sutilmente do universo feminino e de seus conflitos. As personagens principais são mulheres: fortes e fracas ao mesmo tempo. E outras personagens femininas assumem papel importante na trama, como Eve, a namorada do pai de Natasha ou sua mãe, da qual ela sempre lembra com críticas e melancolia. Enquanto isso, os homens assumem papel secundário na trama e se resumem em ser a razão dos problemas femininos. Por vezes, um toque de lesbianismo fica no ar.
Contos de Primavera, que faz parte da série intitulada Conto das Quatro Estações, traz muito da primavera que sugere no título. Apesar dos conflitos, as cenas da casa de campo no jardim florido, as cores suaves da fotografia, a sutileza com que é contado... tudo lembra a leveza da primavera.
O filme segue uma estrutura de causa e conseqüência ininterrupta, desde o momento em que Jeanne e Natasha se conhecem, até o desfecho da história do colar que havia desaparecido, sempre com uma coisa levando a outra. Apesar disso e de ter uma história facilmente compreensível, não é um filme clássico. É uma narrativa moderna, que desenvolve com naturalidade a trama das personagens sem querer emocionar ou explicar demais as coisas.
O final em aberto sugere a continuação da vida daquelas pessoas de uma maneira cotidiana, que dali pra frente pode ser diferente, exatamente porque uma cruzou o caminho da outra e isso deixou marcas; ou pode continuar seguindo seu curso normal, sem que nada se modifique, fazendo daquela história uma mera lembrança. Dualidade que acontece diariamente em nossas vidas. Trata-se de uma trama comum, com um roteiro simples e muito bem contada.
terça-feira, 15 de maio de 2007
AMOR EM TRÊS TEMPOS
Ana tem feito todos os dias o que sempre faz, deseja loucamente – ou talvez nem tanto – viver uma outra vida. Ela caminha neste momento por entre os edifícios da vizinhança. O sol já se foi, mas não completamente. Ela carrega as compras do jantar e naquele momento deseja quase tão suavemente quanto a brisa que lhe toca o rosto, simplesmente chegar a casa, sentir a poesia de Djavan e preparar o jantar.
Hoje, mais que nunca, Ana precisa de uma refeição amorosa, sutil, com gosto de felicidade. Um sorriso discreto ilumina seu rosto, faz brilhar seu olhar enigmático. É que as palavras ouvidas há pouco ainda ecoam em seus ouvidos e reverberam em todo seu corpo ‘’...eu lamento por você’’...
Por um instante nada em volta existe... Só o cheiro do fim de tarde e o imenso vazio, a dúvida – chega quase a ser dor - mas neste momento, no justo instante em que a nuvem cobre seu olhar, um feixe de luz se lhe apresenta. Parece tão claro: tudo pode ser!
Neste instante é como se não houvesse tempo ou como se ele pudesse ser seu amigo e permitisse que tudo acontecesse simultaneamente. Como se ao invés de simplesmente se virar e partir, ela tivesse ido ao encontro do homem que a fez tremer e duvidar. E juntos eles tivessem escrito uma história de plenitude. Ela quase podia ver os dois nus na varanda, sentindo o sol se pôr, sorvendo lenta e calorosamente o vinho e suas próprias almas. Sendo mais que o momento presente, sendo um novo dia a cada dia, sendo a cada instante uma nova história, sendo tudo na linha do tempo. Ela podia vê-los naquela varanda falando de velhas histórias vividas ou sonhadas por muitos anos. Sim, ela pôde ver cada instante daquela vida e assim os viu já na plenitude, na mesma varanda de mãos dadas como antes e todos os dias - conversando, conversando.
Entretanto, ao mesmo tempo, no mesmo lugar, ela opta por seguir em frente sem olhar para trás. Ela amava aquele homem e não queria ouvi-lo lamentando por sua vida, nem pela dele, mais que tudo ela o queria feliz – como fora antes – sem contratempos. Ela precisava dele inteiro e não distorcido por simulações e fraudes. Ela o preferia longe porque só assim poderia continuar admirando-o mais de perto. Ana não podia imaginá-lo outra pessoa, ela o queria, ele mesmo, inteiro, mesmo que à distância.
Ainda assim as possibilidades deles não se esgotavam. No mesmo espaço, naquela mesma tarde, não pensavam em nada, só havia a imensa presença, a perfeita conjunção. Sentiram-se simplesmente livres em seus corações e embora quisessem gritar ao mundo o que sentiam, embora quisessem compartilhar com todos a seu redor a imensa felicidade que sentiam, afogaram tal grito, bem no fundo do estômago e mesmo sentindo uma pontada de dor, permaneceram em seu anonimato, seguros e felizes em sua ilha de amor. Ainda que pequena - em tempo e espaço - era o mundo. Nele - aquele mundo - só eles viviam, e dela - aquela vida - só eles sabiam. Não partilhavam esse universo, porque lá não havia início ou fim, só o que eram e sentiam. E fora dali não havia nada, somente o cotidiano, o trânsito, as contas a pagar, o trabalho, enfim nada que valesse à pena mencionar.
‘’Lamento por você...’’ (Um homem, em algum lugar do passado)
‘’Não quero que vivamos em meio a simulações e fraudes, quero que continuemos a ser inteiros, para que possamos continuar nos admirando mutuamente’’ (Uma mulher, em algum lugar do passado)
Maria Cláudia Cabral
quarta-feira, 2 de maio de 2007
Do Improviso e do Desapego
quinta-feira, 19 de abril de 2007
O otimismo
Mas era, sobretudo, hora de dizer que no fim das contas
Sempre é o fim das contas.
Eu deixei alguém me dizer o contrário
E era dia ou era noite
E eu já não me lembro exatamente, no fim,
Quais eram as contas do qual sofria.
quarta-feira, 18 de abril de 2007
Sobre...
Na lua cheia, eu sei
Uma saudade imensa''
(Edmundo Souto, Danilo Caymi e Paulinho Tapajós)
E eu aqui... Tantas coisas sobre as quais escrever, sobre as quais pensar:
Sobre o que significa relacionamento ou 'relacionar-se com os outros no novo século'. Sobre como as pessoas têm visto seus pares. Sobre o espaço individual, sobre o sobrenatural...Sobre o olhar, sobre os olhos que se tocam – essa indiscreta invasão.
Olhares.
Sobre pais e mães e filhos e tios e sobrinhos...Sobre maridos e esposas, sobre companheiros e parceiros, sobre amantes, amores, amigos, sobre todos nós.
Os nós.
Sobre como o eu cresce e o tu diminui, sobre como os nós se agravam e gravam as relações com marcas indeléveis. Sobre o afastamento recíproco. Sobre como o meu é maior que o seu, que é maior que o nosso, que é muito maior que o dos outros, próximos ou distantes.
Próximos e Distantes.
Sobre como as tardes arrefecem diante das horas que passam, dando lugar à escuridão da noite - queiramos ou não. Sobre 'como agir diferente da multidão pode causar burburinho'.
Deus-nos-acuda.
Sobre como afetuosidade, atencão e amizade podem parecer interesse, bajulação e carência aos olhos dos habitantes da matriz em que vivemos. Sobre a ilusão da vida e como ela pode desfocar a perspectiva. Sobre as borboletas que voam no jardim. Sobre a paraíso e os sonhos. Sobre imaginar um mundo melhor e mais justo. Sobre um lugar onde não se preencham lacunas. Sobre as reticências e os significados. Sobre ter o que dizer e dizer palavras soltas sem qualquer sentido.
Caminhos.
Sobre o querer e o desejar. Sobre Schoppenhaeur. Sobre Freud. Sobre Jung. Sobre Caetano.
Sobre razão e emoção. Sobre pensar e fazer. Sobre o impulso. Sobre o pulso. Sobre a vida e a morte. Sobre escolhas.
Desígnios.
Sobre as perguntas silenciosas. Os sentimentos ocultos. Sobre os sonhos, os desejos, os impulsos, as opções. Sobre a liberdade.
Escolhas.
Copyright da Autora. Todos os direitos reservados.
quarta-feira, 11 de abril de 2007
Dos meus dias
E do que não faço.
Onde diabos está a tranqüilidade
Entre a ação e a passividade?
Entre o controlar e o deixar-se levar
Eu fico com a dúvida.
E nunca sei em que pensar,
Só penar.
Quero desesperadamente um coração inteligente.
Copyright Arca Mundo. Todos os direitos reservados.
terça-feira, 10 de abril de 2007
TEMPO DE ACONTECER uma Ode a Brasília

''Céu de Brasília
traço do arquiteto
gosto tanto dela assim''
(Caetano Veloso e Djavan)
''Sou colcha de retalhos, identifiquei-me com Brasília. Saí duas vezes, voltei. Aqui é meu lugar!'' (M.C. Ontem)
'' Vir para Brasília me fez ver muitas coisas sobre Goiânia, estou voltando'' (M.A.V., 09 de abril/2007)
quarta-feira, 4 de abril de 2007
A solução ainda é a Diplomacia
O país persa possui 9% das reservas mundiais de petróleo, além de vastas reservas de gás natural. Mas a economia não tem ido bem, e o governo de Teerã enfrenta o desafio de reduzir a inflação e o desemprego, que atingiu cerca de 11,2% da população em 2004, segundo pesquisa divulgada pela Folha de São Paulo. Tais fatores já seriam suficientes para justificar interesses de países de primeiro mundo na região. Além disso, no ano passado, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou que havia conseguido enriquecer urânio pela primeira vez, na quantidade de 3,5% do material processado. O governo afirmou que desejava produzir energia nuclear pra diversificar suas fontes de energia e não precisar mais importar de fornecedores estrangeiros. Teve então, início a mobilização de países como EUA para impedir o enriquecimento de urânio no Irã.
O enriquecimento de urânio em níveis baixos é capaz de produzir combustível para reatores nucleares, mas em quantidades elevadas, pode ser usado em bombas. A quantidade necessária para produzir uma bomba nuclear é de 90%. Sendo assim, não existem provas concretas ou indícios reais de que o país esteja interessado ou que tenha condições de desenvolver armas nucleares. Mas o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas – ONU - , afirma temer que o Irã , sigilosamente tente desenvolver uma bomba.
O Irã faz parte do Tratado de Não Proliferação Nuclear – TNP – segundo o qual, um país tem o direito de enriquecer seu próprio combustível para geração de energia nuclear com fins civis, sob a inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA. Ainda assim, no último dia 24, O Conselho de Segurança da ONU aprovou novas sanções ao Irã pela manutenção de seu programa nuclear. O pacote de sanções foca a exportação de armas, as ações do banco estatal Sepah e o comando de elite da Guarda Revolucionária do país. O Chanceler iraniano, Manuchehr Mottaki, diz que a resolução é "ilegal, desnecessária e injustificável".
Desde que teve início o conflito, EUA e Irã não cansam de demonstrar publicamente seu poderio armamentista, em testes e treinamentos militares que os governos insistem em definir como “rotineiros”, mas que explicitam uma espécie de diálogo entre as duas nações com o objetivo de provar suas forças e sua capacidade de defesa. Um dia antes do aprisionamento dos marinheiros britânicos, a marinha do Irã realizou treinos militares com o uso de submarinos e pequenas embarcações com lançadores de mísseis. Os treinos visariam mostrar poder de defesa para proteger o Golfo Pérsico e deveriam durar uma semana. Quatro dias depois, a marinha dos EUA também realizou exercícios militares no Golfo Pérsico, com o uso de navios, porta-aviões e aeronaves militares. O que nos remete às lembranças da Guerra Fria.
Tony Blair já afirmou algumas vezes que, caso a solução diplomática e imediata para o problema não seja possível, deverá ser tomada “uma posição mais dura”, mas descarta a realização de uma intervenção militar. Isso pode ser provado pelo decorrer dos dias em que os militares britânicos estão em poder iraniano. Se algo mais drástico fosse ser realizado, podemos acreditar que já o teriam feito, principalmente pelo fato de pedidos de libertação imediata vindos, inclusive da ONU, terem sido completamente ignorados pelo país persa.
Diante de toda essa situação e, levando em conta o contexto histórico, econômico e geográfico em que este conflito está inserido, podemos acreditar que, pelo menos por enquanto, os Estados Unidos e o Reino Unido não têm motivações e até mesmo coragem suficientes para realizar uma investida armada contra o Irã. Comecemos por todas as conseqüências negativas que a invasão do Iraque trouxe aos Estados Unidos: milhares de perdas humanas, com soldados morrendo diariamente em território iraquiano, a grande perda da popularidade de George W. Bush diante do seu eleitorado e da população mundial – que, diga-se de passagem, nunca gostou dele mesmo - , as perdas financeiras diante do estrondoso aumento do preço do barril do petróleo, dentre outros fatores que comprovam os inegáveis prejuízos dessa guerra. Mais uma invasão em terras do Oriente Médio agora seria absolutamente inviável.
Outros fatores a serem considerados são a superioridade territorial do Irã com relação ao Iraque, e, também, a superioridade do seu exército, com relação ao do país invadido. Tudo isso dificultaria muito mais uma invasão a terras iranianas. Além disso, o Iraque encontrava-se internamente dividido por forças religiosas, a população estava separada entre xiitas e sunitas e vivia em meio a conflitos internos. Já no Irã, não existe esse problema: a grande maioria da população (89%) é de muçulmanos xiitas e o sentimento de nacionalismo nesse país é forte.
Muitos afirmam que o Irã pode estar blefando no que diz respeito à sua capacidade de enfrentar um conflito armado, mas é verdade, também, que o país possui influências na região e que, na possibilidade de uma guerra, poderia contar com reforços, o que levaria o conflito a proporções bem maiores do que as imaginadas e com conseqüências catastróficas.
Diante de tudo isso, um conflito armado e uma intervenção direta dos Estados Unidos no Irã agora, não interessaria a ninguém e todas as partes sairiam prejudicadas. Não há sinais de que o Irã vá desistir de seu direito de enriquecer urânio e de lutar contra as sanções que têm sido impostas àquele país. Também não há indícios de que libertarão tão facilmente os prisioneiros britânicos que se encontram em Teerã. O ministro de Assuntos Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki afirmou, no último dia 24, sobre as sanções adotadas pelo Conselho de Segurança da ONU, que “A resolução se afastou dos propósitos declarados pelos patrocinadores e --com medidas contra as instituições de defesa, econômicas e educativas do país-- estão perseguindo objetivos além do programa nuclear iraniano". Afirmou ainda que o Irã não funciona com "ameaças e intimidações" e pediu aos membros do Conselho que "voltem ao caminho da negociação baseado na justiça e na verdade".
O Irã está se impondo internacionalmente, disso não tenhamos dúvidas, e ameaças “psicológicas”são realizadas diariamente de todos os lados. Mas ainda podemos acreditar que estamos longe de mais um conflito armado que desencadeia no mundo o medo da Terceira Guerra Mundial e do fim da humanidade. Também as grandes nações compartilham desse medo e com certeza, não subestimam tanto assim a soberania dos povos do Oriente Médio e suas capacidades. Tony Blair e George Bush terão que se esforçar bastante pra impor sua palavra e o medo sobre o qual governam, mas a saída ainda é a diplomacia como afirmam insistentemente os porta-vozes, nas edições diárias dos jornais. Enquanto isso, vamos vivendo o clima de Guerra Fria.
Camila Pessoa de Souza.
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terça-feira, 3 de abril de 2007
TUDO AO MESMO TEMPO, AGORA!!!
Há tantas coisas acontecendo em torno e dentro de mim, inclusive a TPM, sobre a qual falei ano passado.
Parece que tudo está acontecendo ao mesmo tempo, agora! O rock que toca ao fundo - Offspring - o filme do Adam Sandler na TV a cabo, a lua majestosa lá fora (lua majestosa é lugar comum?), o mundo girando, os vôos atrasando, o mergulho interior na terapia corporal e meus sonhos mais remotos se realizando. Sim! Meus sonhos estão se realizando.
Desculpem, mas em lugar dos palpites e críticas escreverei o mais rasgado agradecimento:
Grata estou porque vou morar na cidade que amo e que escolhi para chamar de minha;
Grata estou por que finalmente irei trabalhar na área que adoro;
Grata estou por que finalmente estou dissolvendo o muro que me separa dos meus sentimentos mais profundos;
Grata estou porque apreendi a libertar meus filhos das garras dependentes da mãe deles;
Grata estou porque tenho os melhores amigos que uma mulher pode ter;
Grata estou porque ganho menos do que mereço, mas mais do que preciso para viver;
Grata estou porque sigo em frente, cabeça erguida, mesmo depois de tropeços e tapetes puxados...
Sorrindo, sempre sorrindo...
Só posso agradecer? Não, posso mais... Posso pedir tudo o que quero: E quero muito ainda
Quero paz para o mundo;
Quero igualdade de oportunidades para toda a população brasileira;
Quero educação para todos;
Quero arte e cultura por toda parte;
Quero direitos humanos para aqueles cujos direitos ainda precisam ser minimamente respeitados;
Quero uma linda casa, com quintal e pomar, com redes na varanda, energia solar, horta, muitos livros, música, filmes e uma janela para o mundo;
Quero o mais belo pôr-do-sol a cada dia;
Quero o mais belo amanhecer, todos os dias, não necessariamente nessa mesma ordem;
Quero alguém especial para compartilhar idéias, afetos, temperos e carinhos;
Quero pássaros cantando e brisa no rosto;
Quero tudo, quero o mundo, tudo ao mesmo tempo, agora!!!
Maria Cláudia Cabral
quarta-feira, 28 de março de 2007
Fechada
Branca e envernizada, enquadrada nas paredes
E justificada nas réguas pra não ser torta.
Nada quero que me preencham,
Oca e sonora, seria eu mesma e meu nada.
Portas costumeiras, mas não na leveza.
Linda, estável, modificada:
A porta que não mede o que entra e o que sai
Apenas o que jamais a afetará.
Porta de maçanetas douradas
De quarto de bebê; na verdade,
Eu só não quero ficar em frente à sacada.
terça-feira, 27 de março de 2007
NEM AREIA, NEM PEDRA
‘’Eu sou poeta e não aprendi a amar.’’ (Cazuza e Frejat)
Honestamente? Não sei. Sei apenas que o mito do amor romântico já não cabe mais. Idealizar o ser amado, vesti-lo num modelo pré-fabricado de parceiro é caminho sem volta para a decepção. Há muitos anos ouvi uma frase, no capítulo final de uma novela das sete horas (engraçado isso), o homem dizia à mulher ‘’não amo você ‘apesar de’, mas ‘por causa de’’’. Amar talvez seja isso, aceitar o outro tal qual ele é realmente. Porque ele é egocêntrico e inflexível – e há aí um largo espaço para aprendizado recíproco e crescimento –, e não apesar de ela ser defensiva, que comporta uma sensação de ‘’então tá, eu aturo’’. Encarar a humanidade do parceiro, ver-se desnudada por ele, crescer com isso.
Estar disposto a ver de frente a humanidade do outro é colocar-se pronto para a construção do relacionamento, para a construção do amor. Não mais o amor romântico, que não depende de esforços, posto que é como chama ardente que se acende e se apaga, mas o amor platônico – cuidado aqui com o senso comum de amor platônico, vale ler um pouco mais a respeito do conceito de amor, segundo Platão – que se modifica e amadurece, que se liberta do plano mesquinho dos fatos, rumo ao plano das idéias.
Essa construção, tenho aprendido, não é possível sobre areia, tampouco é possível sobre rocha. O que significa isso, afinal? Sinto que ao estabelecer as bases do relacionamento sobre terrenos incertos – insegurança, medo, superficialidade – fica prejudicada a segurança mínima para fluir o relacionamento. Por outro lado, ao buscar a firmeza da rocha como lócus para a construção dos alicerces, perde-se a flexibilidade necessária para sobreviver aos ventos e tempestades característicos da adaptação de dois indivíduos, com formação, estrutura e história emocionais diferentes, muitas vezes muito diferentes.
Entra aqui a sabedoria chinesa sobre o bambu, que é firme, sem ser rígido e, é sólido, sem ser pesado. Tais características, a meu sentir, compõem ou constroem a relação em bases reais. Relações amparadas, volto a dizer, não no amor romântico que ouve Puccini no primeiro beijo, mas no amor platônico, que cresce e evolui sete degraus, um após o outro. A relação consciente, escolhida – o amor. Será que isso responde à pergunta?
‘’Como sabemos qual a linha que separa o apreço sincero do amor?’’ (E.T., 37 anos, numa madrugada dessas).
‘’Mas há quem passe toda a vida desiludido porque toda a vida sonha com uma ilusão e nunca arrisca amar a sério, com carne e sangue e lágrimas...’’ (comentário no Blog Silêncio, em 08 de outubro de 2003.)
Sobre o Amor Romântico:
http://www.usuarios.unincor.br/luisfranope/Amor%20romantico.htm http://silencio.weblog.com.pt/arquivo/015333.html
Sobre o Amor Platônico :
http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2005/04/amor_platonico.html
Maria Cláudia Cabral
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quarta-feira, 21 de março de 2007
As mulheres, os homens, as mulheres homens e os homens mulheres - Segunda parte
Um homem para cada dia de medo.
Um orelha feita de argila e outra de gelo.
Que ele venha por telefone ou por escrito:
Piedoso nas faltas, que não aconselhe nos gritos.
Homem desencanado dos vícios,
Preconceituoso de quermesse.
Porque o homem de botequim me dá medo
E o de livrarias nem sempre sabe o preço.
Homens que são como as melhores poesias:
Feitas no banho,
Que quando enxuto o corpo da água que refresca
Tudo já se esquece.
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terça-feira, 20 de março de 2007
AS NOSSAS ESTRANHAS CERTEZAS ABSOLUTAS DE CADA DIA
‘’Onde queres o ato eu sou o espírito, e onde queres ternura eu sou tesão
Alguém disse certa feita, que expectativa é o caminho mais curto para a decepção. Certo! Ao esperarmos azul, quando encontramos um dulcíssimo lilás não o queremos, não nos serve, simplesmente porque não era azul, e não por que lilás não seja bom – na verdade nem pensamos sobre a possibilidade do lilás, nem nos permitimos experimentar lilás.
Complexo? Nem um pouco, faz parte de nossa natureza controladora querer que coisas e pessoas sejam aquilo que queremos, ajam como esperamos. Assim, se esperamos um pedido de casamento com anel de brilhantes e o outro aparece com uma proposta de compartilhar um ‘’apêzinho’’ decorado em parceria, pronto! Já ficamos amuados, onde está meu pedido de casamento, em meio a espumante e lágrimas?
Nos recusamos não só a abrir mão de nossas receitinhas prontas de o que é felicidade, de o que é o homem/mulher que sonhamos para nós, como também cometemos o supremo sacrilégio – contra nós mesmos – de não avisar ao outro o que esperamos.
Imaginamos uma super viagem às Bahamas: muito sol, mar e mergulho, e, se recebemos um convite para uma viagem romântica para Praga, nos entregamos a elocubrar que ele/ela não nos dá o valor que merecemos, não está interessado como deveria ou como gostaríamos que estivesse. Sequer pensamos na grandiosidade de Praga.
Em regra, recusamo-nos a ver o que o outro tem, e focamos naquilo que lhe falta – ou ainda pior, naquilo que imaginamos que ele teria e, que, ele não tem (ou que não lhe demos tempo de mostrar que tem). Detalhe: o outro nunca disse que tinha, mas ainda assim sentimo-nos enganados, traídos em nossos sonhos.
Freqüentemente desejamos não o outro, mas alguém que idealizamos. E não importa o que custe, importa encaixar aquele/aquela que está diante de nós no modelo que queremos, seja fisicamente, seja emocionalmente. Assim é com pessoas, assim é com comportamentos.
Queremos que o outro nos ligue no dia seguinte pela manhã, se não for assim, significa que ele não está interessado. Ou queremos que o retorno seja recheado de propostas concretas, diante dos espaços em branco que deixamos, e, se assim não é, significa que não fomos importantes, o interlocutor não nos quer. (mas nós não fazemos propostas concretas).
Como somos peritos em julgar o comportamento e os sentimentos de nossos interlocutores... Como somos bons nas certezas absolutas, em nossas convicções cotidianas sobre o que é que o outro pensa e sente. O significado dos silêncios, das ausências, das vírgulas e até da telefonia móvel, que falha. Enfim, como somos espertos, ninguém nos engana, ninguém nos ‘’usa’’! Enchemo-nos de razão e seguimos, dedo em riste, bradando aos quatro ventos: ninguém me usa, ninguém me faz de bobo, ninguém me abandona assim! Questão fechada! Para quê dialogar? Para quê esclarecer? O outro não me serve, e isto é tudo – às vezes orgulho, às vezes desinteresse puro e simples, fruto da insustentável leveza do ser.
Nessas idas e vindas perdemos chances inestimáveis de encontrar, não a pessoa perfeita, mas aquele que poderia ser perfeito para nós. Aquele ou aquela que nos auxiliaria a vencer algumas de nossas limitações, nos auxiliaria a abrir mão do egocentrismo ou do orgulho – mesmo que só um pouco. E a quem ajudaríamos a vencer o medo da entrega, a pressa ou a estranha mania de ter certezas – malditas convicções!
‘’Esperava MUITO mais de você!”(M.D., 38 anos, depois de uma semana de um primeiro e único encontro)
‘’Eu continuo não entendendo o que fiz/não fiz’’ (C., 38 anos, depois de uma semana de um primeiro e único encontro).
''Idealizar é sofrer. Amar é surpreender.'' (Martha Medeiros)