domingo, 16 de março de 2008

Síndrome do Fantástico... Férias...



“Síndrome do Fantástico”... férias...



“Eu tava andando na rua.
Chovia e tava calor...”
(Taxímetro – Oswaldo Montenegro)


Pois é, estava de férias...
Bom, mais ou menos de férias...
Li Saramago, assisti um monte de filmes – O Clã das Adagas Voadoras e a História de Gengs-kan – e a shows – Yes, Antônio Carlos Nóbrega e B.B.King (dvd) – fantásticos, atualizei (de novo) minhas leituras de Caros Amigos e Carta Capital, revistas que sempre recomendo. Ouvi músicas lindas, músicas que me levaram a viagens sem sair do lugar.
Por outro lado, mesmo de férias, trouxe umas tarefinhas de trabalho p’ra casa. Documentos de Conselhos Nacionais, a organização de uma ação de “Formação de Formadores” (sempre gostei desta expressão: formar formadores...). E paguei contas, muitas contas.
Nas minhas férias, comprei um violão novo, com amplificador e resgatei não só minha memória de notas, minha memória das músicas que tocava, mas também minha memória das cordas, dos acordes, do juntar acordes... mas a música nova ainda não veio... ainda...
Nas minhas férias, comecei a estudar contra-baixo. Tenho um baixo acústico, preto, Gibson... Meu professor, na minha primeira aula, me ensinou “Good Times, Bad Times” do Led Zepellin, me ensinou as tríades, a tocar só com a mão esquerda (não que eu tenha aprendido ainda) e o Slepp.
Nas minhas férias, cuidei de Hércules (o macho) e Kaia (a fêmea), meus dois mestiços de pastor com são bernardo, e também da pequena Janis Joplin, que dizem que é xarpei com pastor... Ficamos longas hora na varanda de casa, vendo o tempo passar (nós quatro). Ah! Tem o maninho, um pequeno gato que adora o Hércules (e vice-versa), mas ele é mais enjoado.
Nas minhas férias, procurei cuidar da saúde, procurei cuidar do coração, procurei cuidar das palavras. Minha unha do pé encravou, meu joelho continua “rangendo” e, claro, gripei... bem na última semana. Mas dormi e continuei a acordar cedo, para ver o dia começar.
Nas minhas férias, oportunizei o silêncio e a solidão... Para refletir, tratam-se de santas companhias.
Nas minhas férias, assisti a jornais, muitos jornais... Fidel não é mais presidente de Cuba, mas Cuba continua resistindo a décadas de bloqueio econômico. Uma ilha “deste tamainho”, enfrentando não apenas a arrogância autoritária de um país quase continental, mas, principalmente, a covardia de tantos outros países que acatam este bloqueio.
Nas minhas férias, vi e revi as cenas de agressões dos fortes aos fracos. Mulheres que deveriam cuidar de um idoso, mas o agridem. Pessoas que iam assistir jogos de futebol, e se matam. Países “em nome da democracia” continuam a oprimir povos e mais povos (milenares) do oriente médio e do hemisfério sul. A soberania de outros povos é suprimida e o Imperialismo continua a defender o indefensável.
Nas minhas férias, os fantásticos e espetaculares programas dominicais continuaram a usar a tragédia alheia como seu filão de audiência. E como se explora a tragédia alheia neste mundo afora. Vi e ouvi tantos “sem saber que estávamos gravando...” que me perguntava, sempre: “e podem?”.
Nas minhas férias, mesmo nelas, continuei a assistir como o poder (ah! O poder) se manifesta constantemente à nossa volta. O poder da mídia, o poder da formação de opinião, o poder da hierarquia... vi o poder de escrever o que se acha que deve escrever, sem pensar nas conseqüências. Vi o poder se manifestar na ofensa e na ironia das palavras, (des)tratando as pessoas como se fossem “comida de enfeite” (ou enfeite de prato principal). Vi o poder se manifestar na velha regra política “quanto pior, melhor” (que chega em lugares bem menores do que a amplitude que a mídia nos faz crer que existe somente na política de peixe grande). Vi o poder se manifestar na mentira descarada, no desrespeito desnudado, no silenciar por trás da mesa.
Nas minhas férias, passeava pelo arcamundo, e como é estranho vê-lo em silêncio.
Férias, uma maneira a qual o capital e nós, trabalhadores, estabelecemos uma relação que, de fachada, parece harmoniosa.
Não descansei nas férias, mudei o ritmo.

“Se o mestre vento tenta ser como o vento, então, tem que estar em qualquer lugar”
Vida Longa ao Arcamundo!

P.S.: falei de minhas férias, de algumas coisas que, no plano geral, fiz, refiz, pensei, não pensei... nada de autoral.