segunda-feira, 22 de outubro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... O racismo (parte I)...


“ ’Parece negro', o 'parece indio’, son insultos frecuentes en América Latina; y ‘parece blanco’ es un frecuente homenaje. La mezcla con sangre negra o india ‘atrasa la raza’; la mezcla con sangre blanca ‘mejora la espécie’. La llamada democracia racial se reduce, en los hechos, a una pirámide social: la cúspide es blanca, o se cree blanca: y la base tiene color oscuro”.

(Eduardo Galeano)

Esta semana fomos surpreendidos com uma notícia incrível: o Nobel de 1962, James Watson, co-descobridor da estrutura do DNA afirma em entrevista ao londrino Sunday Times, que “somos (quem, cara pálida?) pessimistas sobre o futuro da África porque todas as políticas sociais do Ocidente são baseadas no fato de que a inteligência deles seja igual à nossa, embora todos os testes digam o contrário. Pessoas que já tiveram de tratar com um empregado negro sabem que não é verdade!. (Carta Capital – nº 467; pg 21). Além desta com a qual consultei esta passagem, outros meios de comunicação também noticiaram a estrondosa descoberta científica de Mister Watson.

Porém, por mais que tenhamos testemunhado uma série de semanários comentando a estapafúrdia impressão genética deste pesquisador, tomou a direção de minhas reflexões um chavão que a tempos circula entre acadêmicos, professores, gestores públicos, educadores de todas as linhas: devemos respeitar as diferenças.

Em princípio, uma frase que nos remete a uma relação de respeito entre as pessoas, não importando a crença, a cor, a religião, os conceitos que defende, a deficiência etc. Neste caso, este chavão apenas reitera que as diferenças, inclusive as econômicas e sociais, devem ser mantidas; não importa se ele é pobre, devemos respeitá-lo... Algo parecido com os sorrisos distribuídos ao “Precinho do Carrefour” e o vidro do carro fechado para aquele “Andarilho”.

A manifestação, portanto, de um geneticista, Prêmio Nobel, com tão pouca cobertura da imprensa, no meu ponto de vista, provoca um efeito cascata perigoso: a ciência legitima o holocausto moderno, este, do século XXI.

Para além das belas e mágicas palavras de Eduardo Galeano acima descritas, lembro-me parcialmente de uma resposta do Sub-comandante Marcos a um repórter que, ao descobrir que entre seus milicianos guerrilheiros existia um homossexual (pode um guerrilheiros maricas????) e o grande líder zapatista respondia que o “maricas zapatista” era, também, um judeu no holocausto, um negro em navios negreiros com destino ao Mundo Novo, era um muçulmano nas ruas de Nova York, era uma mulher nas fileiras militares americanas, era um analfabeto dentro de um teatro e assim seguia.

Cabe a nós, pobres e tolos mortais, nunca nos esquecermos que a nossa luta contra o poder (expresso também em todas as formas de preconceito e racismo) é a luta de nossa memória de classe contra o esquecimento, parafraseando o mesmo Galeano.

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

PS.: Em encontrando o magnífico texto do Sub-comandante Marcos, reproduzirei neste espaço (por isso o “parte I” no título). E lembrem-se: estou colocando um ponto de vista sobre o racismo que, acredito, contribua com o debate. Lembre-se de mim caso venha reproduzir essas linhas.