segunda-feira, 11 de junho de 2007

“Síndrome do Fantástico”... e p’ra onde vai nossa infância?

Inicialmente, a metáfora da “síndrome do Fantástico” se dá por uma sensação de formação de mentes e corações nos “início-de-semana”. Nada como um programa de Televisão, estilo “Revista”, com cores, matérias, fotos, gols, passeios, estilos etc. para iniciar a semana seguinte. Ante ao início da melodia de “nós temos mágicas para fazer...”, resolvi remexer alguns escritos de escribas malucos, fora de contexto, totalmente fora de sintonia histórica, porque ainda acreditam e defendem o socialismo, ainda compreendem o mundo na perspectiva da dualidade de Projetos Históricos (socialista e capitalista)... e, claro, estou entre eles.
Nestas idas e vindas de “velhos” textos, encontro uma reflexão do Sub-comandante Marcos (sim, aquele mesmo dos Zapatistas do México, dos Chiapas): “As crianças podem suscitar guerras e amores, encontros e desencontros. Magas imprevisíveis e involuntárias, as crianças brincam e vão criando o espelho que o mundo dos adultos evita e detesta. Têm o poder de mudar o que está em volta delas e transformar, por exemplo, uma rede velha e esfarrapada num moderno avião, numa canoa, num carro para ir a San Cristóbal de Las Casas. Um simples rabisco, traçado com um lápis que la Mar dá a eles para casos como estes, lhes dá corda para contar uma complexa história na qual o “ontem à noite” abrange horas ou meses, e o “logo mais” pode querer dizer “o próximo século”, onde (alguém duvida?) eles e elas são heróis e heroínas. E o são, mas não só em suas histórias fictícias, como também e sobretudo em seu ser meninos e meninas indígenas entre as montanhas do sudeste mexicano” (2001).
Cá estão as crianças do sudeste mexicano... Aliais, nós, reles mortais, felizes no mundo do consumo, talvez estejamos muito distantes de experimentar essa realidade, em toda a sua plenitude (dos jogos às necessidades). Mas, o que é mais interessante é que encontro, em outro destes escribas inconseqüentes (viva-os!), algo semelhante a quase um século atrás: "(...) e nós de fato brincamos de prendas. A pedagogia às vezes faz caretas estranhas: quarenta garotos, bastante andrajosos, bastante famintos, brincam alegremente de prendas à luz de uma lâmpada de querosene. Só que sem beijos como prenda” (MAKARENKO, 1986: p. 176).
Bom, minha reflexão em torno deste tema (que possivelmente não seria assim tratado no folhetim global) é sobre nossas infâncias... Aquela que deleitei-me no último (primeiro) artigo. Qual nossa responsabilidade como pais, mães, tios, tias, avós, avôs, adultos, padrinhos, madrinhas, educadores etc? O que devemos construir para nossos filhos, sobrinhos, netos, afilhados, alunos? Qual a relação entre a fantasia e a realidade na construção dos valores de nossos pequenos? E para que sociedade os queremos? Tem gente (ai, esses “educadores”) que acredita piamente que devemos prepará-los para a sociedade, quase de adequando-os. Eu acredito nestes escribas “ultrapassados”, pois denotam uma transformação... uma construção de pequenos lutadores do povo... e os são. É a infância, de crianças que, como nos presenteia Pedro Tierra, são que nem soca de cana: podem até cortar, mas nasce sempre.
Em tempo, para quem está em Brasília e arredores, dê uma passadinha no Ginásio Nilson Nelson, ao lado do Mane Garrincha, onde está acontecendo o V Congresso Nacional do MST e estará reunindo, também, cerca de 1200 Sem Terrinhas em cinco dias de Ciranda Infantil... Não é fantástico?
Marcelo "Russo" Ferreira
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