terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

A Contramão do Mundo ou Outro Sentido Para o Mundo (Parte II)



‘’Prefiro ser essa metamorfose ambulante,
Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante.
Do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo’’.
(Raul Seixas)


A novela pode terminar, mas o tempo não pára. Seja o nosso próprio tempo, seja o tempo pré-estabelecido pelas sociedades, seja o tempo virtual (?). A única coisa que é certa: o tempo é relativo, assim como é relativa a realidade na qual estamos inseridos.

Talvez estejamos hoje percebendo que as duas dimensões são o que os irmãos Wachowski, brilhantemente nos convidaram a ver em Matrix, sim, Rafael, isso tem a ver com Matrix.

A ilusão de uma realidade criada para nos entreter ou para nos fazer crescer. Uma experiência, um jogo. Esse é o mundo chamado real? Desse jogo, meus caros, só levamos o que aprendemos com ele, as lembranças que temos, os afetos que guardamos/vivemos. Por isso, a casa própria não enche meus olhos; por isso a estabilidade de um maravilhoso salário não me mobiliza. Quero-os, quando acontecerem, mas creiam, não perderei um segundo de convívio com os livros – meus companheiros inseparáveis – com a arte, com as pessoas, para TER bastante dinheiro no bolso ou para TER um conjunto de pedra, que me imobiliza no espaço.

Compreendo que seja muito difícil para a maioria ver a existência dos dois mundos, já que a arena onde se dá a realidade tangível é tão perfeitamente orquestrada, a pressão por nos encaixarmos, nos enquadramos é tão forte... As dores, os amores, os cheiros e odores são tão reais, a necessidade de estar adequado é tão premente. Paredes, prédios são tão palpáveis. Por outro lado, o ciberespaço é fluído e volátil. Difícil tocar essa realidade, ainda que de relance. Parece ficcção científica.

Mas, atenção! O cibespaço é apenas a ‘’dica’’ de que vivemos mesmo numa Matrix, numa ilusão material da qual nada levamos. A vida em duas dimensões é, para aqueles que a percebem; o exercício de viver numa dimensão intangível, onde o toque não acontece pela ponta dos dedos, mas pela energia das idéias, dos ideais, dos sentimentos. É o exercício do desprendimento e superação do mundo material, um fomento para a busca de um novo propósito existencial.

No entanto é ainda difícil entender uma dimensão invisível, imaterial. Há uma tendência a sentir-se só, a acreditar que a essa dimensão nos isola, nos faz solitários, mesmo tendo um milhão de amigos no mundo inteiro. Talvez porque a imagem e a matéria ainda sejam necessárias para validar a existência. Talvez porque ainda vigore a crença de que não estar só é ter alguém ao lado.

Pessoalmente, acho a solidão a dois, assim como a solidão na multidão, muito mais opressora que a solitude, que o simples ‘estar só’. O filósofo alemão Heidegger dizia que estar só é a condição original de todo ser humano, em seu brilhante Ser e Tempo. Nós, leitores, nascemos sós... E assim permanecemos até o ‘’final’’, em que partimos sós.

‘’ Temos que entrar nos vários mundos mas com a idéia de modificar’’ (R, 23 anos).

‘’ ...e o que fazemos com o tempo que se arrasta dentro de nós?’’ (LC, muitos anos mais).


Sobre Cibernética, escrevo de uma próxima vez, Rafael, por hoje vai a dica :
http://www.psicologia.org.br/internacional/ap11.htm

Mais Dicas:

Sobre Matrix
http://pt.wikipedia.org/wiki/Matrix
Sobre Heideger e solidão:
http://www.existencialismo.org.br/jornalexistencial/solideliber.html

Maria Cláudia Cabral
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