domingo, 27 de janeiro de 2008

Síndrome do Fantástico... Regina, S. Elias, Waldemar, D. Arlinda, Joilson, Evanir...

Resolvi assistir um dos programas dominicais da tv aberta... o suficiente para assistir apenas a um programa dominical da tv aberta...
Antes, uma matéria sobre chacinas na região Norte Paulistana... depois, óvnis em uma cidade americana – “nós, agora, queremos saber que história é essa de disco voador”.
Entre elas, cá estão as falas dos repórteres espetaculares: “Tudo isso aqui a senhora ‘cata’ no CEASA’... “... nesta feira da exclusão”, “você chega as quatro da manhã aqui (no lixão da CEASA)... p’ra catar?”... e bote a câmara filmando, em câmara lenta, as lágrimas e o sorriso destas pessoas...
E, depois de filmar idas e vindas, com baldes, caixas, sacos de estopa, carregando comida colhida no lixão da CEASA, pergunta-se: carregou tudo??? Só faltou perguntar se estavam cansados...
As comidas no lixão da CEASA, quando chegam na comunidade, são vendidas a 0,10, 0,20 ou 0,30 centavos, numa ocupação ainda, claro, na lona preta.
As frutas e legumes estão com ótima aparência... as pessoas da comunidade com certeza adquirem no mesmo dia, enquanto sua esposa separa o que vai para o almoço e para os vizinhos.
“É a luta de nós, sofredor...”... “Aprenderam a tirar das sobras o alimento de cada dia”, concluiu o repórter.
E dá-lhe “solidariedade” p’ra cá, “solidariedade p’ra lá”...
Já a Regina foi uma “carta” que a produção recebeu, falando da saudade de mãe, no Ceará... viagem na hora, um dia num parque aquático e no shopping popular... “Você sente falta da sua mãe?”, “você gostaria de revê-la?”... Ela é camelô e o marido está desempregado... Eles têm cinco filhos... “Vocês passam necessidade?”
Nestes meses passeando semanalmente por este espaço, nunca me senti tão incomodado com o que assisto na tv ou com o que leio em revistas semanais. É verdade que antes do arcamundo, sim, diversas vezes. Mas está cada vez mais difícil assistir a um telejornal da mídia aberta sem me perguntar: “o que é isso?”, mesmo já tendo comentado diversas vezes, neste espaço, a imparcialidade de nossos meios de formação de opinião... Mas a pergunta continua: o que é isso?... e o que nós temos a ver com isso? Com a fome de quem freqüenta o lixão, com os óvnis, com a violência, com as reportagens...
Hum... o que vocês pensa disso tudo?

Marcelo “Russo” Ferreira

Obs.: Se as perguntas que ando me fazendo são parte das perguntas que andas fazendo também, lembre-se de mim se achares algum caminho para alguma resposta.

domingo, 20 de janeiro de 2008

Síndrome do Fantástico... carta a um(a) amigo(a)...

“Meu caro amigo me perdoe por favor,

se não lhe faço uma visita.

Mas como agora apareceu um portador,

mando notícias nesta fita”

(“Meu Caro Amigo” – Chico Buarque e Francis Hime)

Olá, meu/minha velho/a amigo/a. Quanto tempo!

Desculpa não ter respondido sua última carta há mais tempo. Sei que já faz, aliás, um bom tempo, mas, uma hora a gente cria vergonha na cara e responde... ou não...

Espero que esta o/a encontre bem, assim como os seus... Aliás, sua família já deve até ter crescido um pouquinho, né não? Em tamanho e quantidade...

Bom, como deves saber, há alguns anos ando pelo Planalto Central. Uma experiência interessante, mas sinto falta de trabalhar com política pública lá na ponta mesmo, como quando morava em Recife. Ah! Tem também a sala de aula, né? Atualmente, meus alunos de ensino fundamental já devem estar razoavelmente grandes, os meninos falando grosso, as meninas já quase mulheres...

Mas, sobre tantas coisas que a gente conversava em nossas longas cartas, algumas a gente tinha uma ansiedade para receber, né? Ops... lá vai eu tergiversando de novo... Bom, acho que continuo com a mesma cara. Tocando violão e, agora, um baixo também faz parte de meu “equipamento musical”... E tem os três cachorros: Janis Joplin, Kaia e Hércules...

Nestes tempos, amizades vieram e foram-se... algumas rápidas demais... outras, longas amizades, se perderam no poder, ah!, o velho poder... “queres conhecer o homem...”. Alguns outros “tiveram” que ficar em silêncio... Mas outras amizades cruzaram o caminho e, essas, ficaram... tanto melhor foi “re-ver” “a-amigar” velhas amizades. Acho que essas são as mais importantes.

Ando numa de “Orkut” (e não fui eu quem criou o meu perfil, tu acredita?)... Incrível como acabamos nos inclinando para essas coisas que nos tiram da rua, da frente de casa, da conversa com vizinhos (aqui em Brasília? É difícil!). Encontrei algumas pessoas, algumas comunidades bacanas (Saramago, Che, MST, Máximo Gorki, Marx, alguns rock’n’roll de primeira). Também encontro as manifestações que nos assustam ante a convicção de ódio quase racial... “Eu odeio isso, esse e aquele outro” e seguem livremente... O que será que pensam de outras coisas, além daquilo que expressam nessas comunidades isoladas?

Também vi e ouvi de tudo: meias palavras, palavras oportunas, alpinistas de todo o tipo... Também me vi em minhas incoerências e as tenho tratado...

No mais, continuo vendo as coisas, a vida, a sociedade, o mundo, o homem e a mulher, como sempre os vi, pois não transformam-se:

Continuo vendo os programas espetaculares e fantásticos da tv com suas meias palavras, com suas matérias sensacionalistas, com os fatos pela metade (e a metade que lhes interessa, claro) com seu jeito estranho de apagar a memória de nossos contemporâneos brasilis.

Acompanho, quando posso, as novelas... ah! As novelas... Agora tem novela em quatro estações abertas de televisão... favelas com dono, faculdades particulares “sociais”, mutantes, anjos, igreja, dança... gente boa e gente má, apenas por serem boas ou más... E, ainda, as matérias jornalísticas popularizando a máxima hollywoodiana: a vida imita a arte.

Neste final de ano, claro, como todos os outros, as incontáveis “festas de final-de-ano”. Algumas eu fui... Uma coisa legal, foi uma experiência de um amigo secreto no trabalho, em que a gente “dispensou” a idéia do valor mínimo e passamos a ver a pessoa que sorteamos e a nossa própria pessoa para dar sentido e significado ao presente que fôssemos dar... Não sei se funcionou com todo mundo, mas comigo, pelo menos, deu certo.

Ah! Mas mais complicado foi uma festa em que a música “sensação” que tocou e lotou o salão era uma que tinha uma rima difícil, complicada até de decorar, mesmo com as 120 repetições seguidas. Era “creu! Creu! Creu!”... 120 vezes... Imagina...

Bom, meu/minha bom/boa e velho/velha amigo/a... O mais importante é que escrevi p’ra ti e isso me faz muito bem. Escrever para as pessoas, para os amigos... isso é muito bom. Pois são nossas notícias que também continuam falando da gente, não é mesmo?

Torço para que essa boa nova, de minhas notícias, de nossas notícias, assim continuem... da minha parte, continuo no mesmo lado da trincheira, continuo tentando arregimentar novos e velhos lutadores, continuo com minha boa sina de trabalhar com formação... E, mais ainda, continuo aprendendo... sempre.

Vida Longa, caro amigo...

Vida Longa, cara amiga...

Marcelo “Russo” Ferreira

Obs.: Essa é uma carta... só uma carta. Guarde-a no melhor lugar que merecer.

domingo, 13 de janeiro de 2008

“Síndrome do Fantástico”... Sinos de Londres...

Era o ano de 1989... havia entrado em um curso superior de Licenciatura em educação física e, na Faculdade de Educação Física de São Caetano do Sul (de onde seria convidado a não mais me matricular três anos depois), havia convidado uns amigos para formar uma banda de rock. O nome era Afã.

Um ano depois, tive que assumir os vocais (eu só tocava a guitarra e fazia o tal do “backing vocal’s), pois o nosso vocalista, depois de um ano, havia optado pela carreira solo... se é que ele teve a carreira solo, pois a banda mal tinha imaginado decolar.

Ficamos eu, Eduardo (que, além de baterista, era um amigo de infância, da “rua de baixo”) e Sérgio, um baixista que ficou alucinado com a nossa participação em um Festival de Música um ano antes e quis entrar para a banda.

No segundo ano desta segunda formação, compus uma música no piano. Sim, no piano (a minha herança de mainha quando ela terminar sua tarefa por essas bandas) e, depois de convidar a namorada do Baixista para assumir essa tarefa de tocá-lo (que decisão equivocada), re-assumi a guitarra e, junto com Eduardo, um baterista primeira-linha, organizamos a melodia da banda para aquela canção que seria a última que, certamente, iríamos tocar enquanto conjunto.

Faturamos, naquele festival, o prêmio de melhor conjunto...

O Afã fez algumas coisas legais, mas, na minha opinião, apesar das diferenças daquela última formação, foi a que fez coisas fantásticas... Da banda, só sei do baterista... e de minhas viagens (que continuei durante algum tempo...).

Apresento “Sinos de Londres”:

“Tudo era só desabafo / Não sabia chorar / Não sabia falar de amor / Não sabia viver toda a sua essência final.

Quando acordei no mundo / não entendi o porquê de não ver você / Espalhado na figura do seu palhaço. / No quadro, ele inerte, e a parede em chamas. / Queria a solução dos seis problemas / em mais uma viagem fantástica. / Sua mente inerte não percebeu./ Assinaram suas palavras / no seu túnel final.

Fale-me mal! / Na sua mente não tem ninguém. / Só a ilusão imortal...

Passeava no seu quarto fechado / com uma lâmina na mão: ‘é a minha saída!’ / Do oriente ao Báltico / e nos Sinos de Londres, / figuras magistrais o levavam muito além / de uma simples paisagem mórbida. / E seus personagens, invulneráveis, / esperavam de você uma dose a mais. / Nos olhos de um irmão / sai resposta final era não.

Fale-me mal / Na sua mente não tem ninguém. / Só queria ser um imortal”

Marcelo “Russo” Ferreira

PS.: Essa canção tem registro da letra e tem melodia própria – e no piano, o que é mais importante ainda. Se for, por aí, citá-la, lembre-se da história destas letras amontoadas, melodicamente amontoadas... e reconheça-a.

domingo, 6 de janeiro de 2008

“Síndrome do Fantástico”... duas histórias, a mesma bandeira...

Ontem não escutei o telefone... Ela ligou, mas o bendito celular estava escondido por entre os almofadões de casa, de modo que não pude escutá-lo tocar. Quando dei retorno, foi uma ajuda que a fez me ligar.

O pneu do carro furado, a “porca” muito apertada e a dificuldade de “desrosquear” para, assim, poder trocar o pneu. Enquanto tentava ligar para mim e/ou outro amigo que morasse próximo (ainda bem que conseguiu), comentou comigo que os carros passavam, buzinavam, falavam alguma bobagem e seguiam... Ninguém (principalmente os que perceberam a sua dificuldade) parou para auxilia-la.

Hoje, no final da manhã, entrei na Internet para baixar minhas mensagens e “encontrei” uma grande e especial amiga de Recife no MSN. Conversamos um tanto assim e ela me falava sobre as pessoas que só pensam em si, que nada fazem além do “próprio umbigo”, mesmo se algo lhe acontecesse bem na sua frente. “Não é problema meu...” diria.

Possivelmente, o pneu do carro dela não era problema de quem passava... Possivelmente, não é problema dele o que fazer sobre o que acontece debaixo do seu nariz...

Por sorte, pelo não acaso, pelo “invisível” de cada pessoa, ela acabou optando por ir ao cinema logo após a troca do pneu; encontrou uma grande amiga que não via havia um tempo e foram comer uma pizza. Por sorte, pelo não acaso de nos encontrarmos no MSN, ficamos teclando cerca de 1 hora e conversamos sobre um monte de outras coisas, de tal modo que ríamos (o tal do “hahahaha” típico da linguagem informacional) e, o que lhe parecia um dia melancólico, transformou-se num dia (ou parte dele) de grande alegria.

Essas duas pessoas, como muitas na minha vida (como poucas neste mundo), são muito especiais e demonstraram, nestes momentos que viveram e partilharam comigo, parte daquilo que vez por outra comento neste espaço: valores.

Já que o tal “espírito” de início de ano continua impregnando as telinhas de nossas TV’s, nossos rádios, os folhetos que distribuem nos sinais e nas calçadas, nas “Missa do Galo”, nas revistas, promoções etc., então, eu cedo: que possamos, neste ano que se inicia, neste dia em que desmontamos a árvore de Natal, pensar em nossos valores: solidariedade, coletividade, de transformação social, soberania e liberdade... e não nos esquecendo que esses e outros valores não são uníssonos. Eles tem lados de trincheira.

Vida Longa...

Marcelo "Russo" Ferreira

Obs.: Se for citar alguma destas palavras esperançosas (criticando ou não), não deixe de me citar, ok...? Nos últimos tempos compreendi o quão longe nossas palavras chegam...

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Síndrome do Fantástico... Feliz Ano Novo

Não tem p’ra onde... depois das festas de Natal, da celebração do nascimento de Jesus (há quem diga que ele, na verdade, nasceu entre março e abril), de tudo aquilo que em recentes visitas já foi dito neste arcamundo, chegamos na virada de ano, fogos, festas aqui e ali, shows etc. Eu mesmo fiquei entre 23:00 e meia-noite e alguma coisa, ligando para algumas pessoas e desejar “Feliz Ano Novo”... Do meu jeito, mas desejava.

Mas, lembrei-me de um texto que escrevi a cerca de dois anos, neste mesmo momento, e que havia enviado para alguns amigos e amigas, pessoas com a qual gostaria de passar bons momentos de paz, alegria, reflexões, análises...

Na véspera, ontem (dia 31), depois de trabalhar até por volta das oito horas da noite, fiquei um pouco na Explanada, vendo o movimento das pessoas chegando, uma senhora que dizia que “não tenho onde morar não senhor” me pedia uma ajuda; um outro, com jeito de quem anda, anda, anda e que tinha uma história de compositor que foi assaltado; o vendedor da cerveja que falava das pessoas que conheceu, estando sempre naquele local, entre os Blocos C e D da Explanada... Não pude mesmo deixar de recordar daquele texto e de meus sinceros desejos de “próspero ano novo”.

O ano que vingará (2008) é, no meu ponto de vista, a continuidade. Nada irá "começar"... Mesmo aquilo que nos pareça "novo", não o será, pois se assim o fosse significaria uma maneira estanque de ver a vida, tanto nossa quanto destes com a qual cruzei seus caminhos no dia 31. Aliás, continua me parecendo uma data cristão-ocidental-romana-consumista que, como muitas coisas na vida contemporânea, servem para ratificar as relações de poder e de força em nossa sociedade.

Mas, por outro lado (lá vou eu de novo), é uma data que também precisa ser apropriada pela classe social em necessidade de (auto)organização ou profundamente organizada, quer em terras brasilis, quer em outras partes deste mundo; quer no campo (mais organizada), quer na cidade. Assim foram e são datas que entraram no nosso imaginário como representação de uma coisa imutável. O "07 de setembro" que também é o dia do "Grito dos Excluídos" ou o "1º de maio", que a ditadura e a elite brasileira quiseram transformar em "Dia do Trabalho", enquanto a classe trabalhadora transformava em um dia de "celebrar" a luta e reconhecer O Trabalhador.

E as datas "apagadas" da memória do nosso povo? O 1º de janeiro pode-nos ser, também, o 53º aniversário da criação da primeira Liga Camponesa (Vitória de Santo Antão - 1955); ou o dia em que Rebeldes tomaram Havana, no triunfo da Revolução Cubana de 1959; ou, também, o dia do Levante Popular organizado pelo Exército Zapatista de Libertação Nacional (Chiapas/México - 1994); e que tal comemorarmos a Independência Negra do povo Haitiano, em 1804?... Quantos "1º de janeiro" que nossa memória "deixa escapar" porque é apenas o dia do "próspero ano novo"...?!

Que o dia 1º de janeiro se torne um dia de celebrar a continuidade da luta e a memória presente de todas as lutas e daqueles que tombaram e ainda tombam nela, por ela... a Luta. A continuidade do nosso sonho por uma sociedade justa, igual e verdadeiramente socialista. Por isso a tenho também como um dia de renovar energias, assim como procuro fazê-lo a cada tombo, a cada (muitas) rasteira e a cada "re-erguer-se". E, particularmente, nesse 1º de janeiro, estando mais uma vez longe da família e ainda "tirando a poeira do corpo", gostaria de desejar-lhe:

Próspera Revolução Cubana – que sua história, sua permanente presença e resistência ao Imperialismo nos inspire sempre;

Próspera Independência Haitiana – que a história deste povo sofrido, que, nos fatos e notícias que nos sonegam, continua resistindo e lutando por sua soberania e que a luta pela soberania dos povos nos inspire a cada dia que teremos à nossa frente, independente de outros tantos "próspero ano novo"s;

Próspero Levante Popular Zapatista - que a luta do EZLN continue a nos ensinar sobre as chagas do mundo e do imperialismo, no sentido de continuarmos a limpar nossa visão, de abrirem nossos "olhos de verem";

Próspera Liga Camponesa – que a história de lutadores e lutadoras do povo que lutaram e continuam lutando e formando novos e novos lutadores siga o caminho de nossos corações e ideais.

E que sempre possamos lembrar que as lições continuam a ser dadas a cada dia, a cada momento em que a soberania de um povo é defendida pelo povo.

Vida Longa à nossa luta por uma Pátria Livre... por uma América Livre... por um Mundo Livre!

Ainda que tombem nossos lutadores, não tombará jamais nossa luta.

Felicidades e abraço a todos e todas.

Vida Longa!

Marcelo "Russo" Ferreira

PS.: como disse anteriormente, no convite ao último artigo, meu inxirimento não me fez respeitar a data que eu mesmo escolhi para contribuir e aprender no arcamundo. Mesmo assim, ainda que considerando que parte do que escrevi é história, não tendo eu direitos autorais sobre ela, comentando por aí alguma destas palavras aqui descritas, não deixe de citar-me, ta?