quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Editorial nº 09: Dando adeus a 2006.....

E acabou esse ano! Finalizamos 2006 com muito a comemorar e uma das nossas maiores realizações, sem dúvida, foi a concretização da Arca Mundo. Aos nossos leitores (Sim! Nós temos leitores, e ótimos leitores, por sinal...), um gigante MUITO OBRIGADO, por gastar um pouco do seu tempo, acessando esse blog, lendo e comentando nossos textos... pois de que nos adiantaria escrever para ninguém? Dando adeus a um ano turbulento de novidades e acontecimentos, receberemos 2007 com muita energia, com desejos de sucesso, de transformação, de sorrisos, de aconchegos, de música boa, de catarse, de lágrimas, de pequenos grandes momentos, de amor e sexo e de muitas amizades a todos!!! A Arca entra de férias, pra acompanhar o ritmo de nossos colaboradores, mas estará de volta no dia 30 de janeiro, incontestavelmente, e com muitas novidades! Nos despedimos com uma análise sobre o Natal, da Maria Claudia e com um ensaio sobre viver o presente com poesia, nesse ano que chega! Boas férias e um graaaaaande abraço apertado a todos!

Camila Pessoa.
Copyrigth Arca Mundo. Todos os direitos reservados.

Para viver devagar e intensamente...

Escrevi esse texto há alguns dias.... em um momento no qual eu não queria pensar em nada do que já aconteceu ou do que estava por vir. Acho que todas as pessoas deveriam passar a viver assim: no presente! Um instante de cada vez... hoje, talvez, eu nem me sinta mais assim... mas naquele momento foi bonito e importante analisar os fatos com aqueles olhos felizes. E é isso que eu desejo a todos no ano que chega: pensemos devagar e aproveitemos cada instante de uma maneira única, sem deixar que ele passe despercebido pelos nossos olhos passivos e ocupados....


Preciso escrever... Sinto que de alguma forma tenho que pôr pra fora o que estou sentindo e estou sentindo tanto!!!!!! Sinto pureza, sinto magia, sinto paixão. Acabo de pensar naquele filme... como as pessoas poderiam ter um tanto bom de paixão dentro de si, um tanto daqueles... simplesmente sentir, sem culpa, sem medo, sem remorso, sem temor, sem vergonha.... eu sonho em poder ser assim, me libertar. Quem sente e sente somente com orgulho do que traz dentro de si é livre, mas tão livre, mas tão livre, que mal cabe dentro de si de tanta paixão, de tanto sofrer, de tanto imaginar, de tanto pintar e colorir e dizer e tocar e sorrir e correr e beijar e cheirar... pude sentir o cheiro de todas as coisas hoje. Cheirava a jardim, cheirava a nascer do sol, com aquelas gotinhas de orvalho e a neblina na estrada, como aquela música que cheira os seus cabelos. Quando percebo-me tão transbordando de dentro de mim como estou agora, sinto vontade de chorar. Hoje choro por pensar no quanto consigo gostar de você. Vou chorar e vou sentir o seu perfume e vou tocar os seus cabelos e te abraçar bem forte. De um jeito passional, de um jeito secreto, cheirando a rosas vermelhas do meu quintal. Hoje choro por pensar que não me importa o que vai acontecer amanhã.... não sei se amanhã chegaremos ao fim da rua, daquela rua que é o fim de nós dois... e é por isso que não me importa... só quero chorar agora de saber que gosto tanto de você e que acaba de me acariciar o rosto com a pontinha do seu nariz. Eu gosto de você não por você mesmo, mas porque sua presença me faz me sentir bem, e me sentir mal, me faz sorrir e me causa espanto, porque você não é gratuito, nem é clichê, mas é pra ser desvendado, mesmo que eu sinta que talvez nunca saiba você.Te saber seria sem graça, te saber seria muito simples.... não gosto de você simples, gosto de me aventurar e de me sentir segura nessa aventura, nem que seja na duração de um momento sublime em que toca a música: “Parece que o amor chegou aí... eu não estava lá, mas eu vi!” E de pensar que em outras noites em que o caminhão de lixo passava, eu nem sabia que existia você. E que a minha felicidade reside em tantas coisas secretas... queria poder ser passional o bastante pra te dizer, mas sabe? Acho que o silêncio tem sido tão belo nos últimos tempos... acho que o não-dizer me tem feito tanto bem... porque nessa ânsia de falar, de desenhar, de querer transparecer... acabo apagando a magia e perdendo meus segredos pelas pernas.... quero que você me saiba, sim! Mas de outro jeito, fora da minha loucura antiga, sem que eu precise dizê-lo... de um jeito sutil que você possa cheirar, possa ler, possa tocar no silêncio e entender tudo. Enquanto eu te beijava, eu pensava: Nossa! Eu gosto muito de você! Mas acho que o meu olhar dentro das minhas pálpebras serradas, dirigindo-se à sua direção, pôde te dizer muito mais. Não pretendo me deixar dominar por sentimentos obsessivos, por doutrinas utópicas, por expectativas absurdas.... eu quis resistir a você hoje, por um segundo apenas... e logo, novamente eu te quis...além de minha imaginação, sei que posso amar de novo, sei que posso amar diferente, de um jeito mais maduro, mais inocente e que posso dirigir meu amor a você e que posso receber com muito sorriso o que você tem a me dar...e que posso querer mais sem precisar pedir nada em troca..... você mesmo se dirá e se dirigirá a mim, como tiver de ser, simples assim...Estamos começando de novo... e acho que agora é mais profundo, mais sincero, mais calmo e mais bonito. Independentemente de amanhã, só queria te dizer que hoje foi maior, mais belo e que me lembrarei disso, pretendo me lembrar.

Camila Pessoa.
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quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

É NATAL


Ou Dr. João da Silva, homem de bem.



" Então feliz natal
Para negros e para brancos
Para amarelos e vermelhos
Vamos parar de brigar
Um natal muito feliz..."

(John Lennon)

...É Natal! Até ontem era natal, e o Dr. João da Silva, homem de bem, pai de família, cumpridor de seus deveres cívicos e morais foi a missa do galo com a família. Ele e a esposa criaram 3 filhos com esmero, dentro da mais absoluta moral cristã.

Ele era funcionário público, embora houvesse arrumado esse emprego com a ajuda do tio nos idos de 88, bem no apagar das luzes, era servidor dedicado. Chegava às 09 e saía às 05, certamente que com duas horas de almoço, porque afinal, família é muito importante, protegida pela Constituição! Até se tornar deputado.

Dr. João da Silva era boa gente, tudo sempre tinha solução. Fazia amigos por onde passava, sempre auxiliando aqueles conhecidos que precisavam de seus préstimos na repartição. Um dia o vizinho, José Oliveira, precisando de um contrato com a administração para engordar a conta da família e poder mandar a filha para o intercâmbio, falou com Dr. João. Este, homem de bem, pai de família, cidadão exemplar, logo deu um jeitinho para que o vizinho conseguisse seu contrato. Afinal, para que servem os amigos? Solidariedade com o próximo é uma virtude.

Não foi o José Oliveira, igualmente homem de bem, policial aposentado que arrumou para darem cabo daqueles dois moleques que rondavam a vizinhança incomodando todo mundo? Merecia este agradecimento, porque quem pode agüentar com dois marginaizinhos de 9 e 11 anos rondando a vizinhança, quando se tem filhas em casa?

Aliás, Dr. João da Silva é pai exemplar. Cuida das filhas como se flores fossem, tal delicadeza. Estão sempre belas e perfumadas, sempre bem vestidas e calçadas. E ai daquele que passar dos limites! Embora ele não tenha idéia de quais são os limites. Afinal, elas são meninas de bem, moças de família. Diferentes da Ditinha, aquela guriazinha faceira, filha da Maria, que Dr. João levou para a última pescaria de amigos, com mais uma dúzia de meninotas iguais a ela para entretê-los nas noites quentes na beira do rio.

É tão generoso, Dr. João da Silva, depois que se elegeu deputado, com a ajuda do primo Eduardo, dono da construtora, e do cunhado Dionísio, que dirige a companhia de eletricidade, ficou ainda mais caridoso. Acredita que deu emprego para mais de 100 bóias-frias? Pois é, vivem agora como reis em sua fazenda no Centro-Oeste – ou será no Norte, no Nordeste, no Sul ou no Sudeste? – têm até direito a refeição, sim senhor! Comem uma vez ao dia, dormem em barracão coberto de telha – com forro! E trabalham todos os dias. Como é bom, o Dr. João! Dá-lhes de comer, local para dormir e ainda lhes dá trabalho, tudo por uma mísera contribuição do dobro do salário.

E é tão caridoso, Dr. João, que cuida dos filhos dos bóias-frias, os meninos vão para a carvoaria, aprender a ser homem desde cedo e ajudar a família. ‘’Um homem sem trabalho e sem família não é nada!’’ As meninas... Bem, as meninas ele leva para a pescaria.

E é natal, ou era até ontem. Dr. João reuniu a família, foi a igreja, orou a Deus para que tivesse piedade dos pobres de sua cidade, do seu estado e de seu país. Coitadinhos dos pobres! Ao sair, deixou generosa contribuição e ainda deu uma esmola para o sem-teto que beirava a escadaria. Como é bom, Dr. João!

E é natal, ou era até ontem!

''O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.'' (Érico Veríssimo)


Maria Claudia Cabral.
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terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Editorial nº 08: Sem maiores interferências...

Me parece medíocre esse editorial, mas sinto como se não tivesse nada demais a dizer. Esta edição está diferente.... pude ler cada texto de uma maneira, cada um dentro do assunto que objetiva abordar.... portanto, não pretendo induzir qualquer interpretação... apenas leiam e sintam cada análise, cada poesia, cada novidade com uma empolgação ímpar.... sem maiores interferências e curtindo cada linha da minha mediocridade.... boa leitura a todos! Ah! Só mais uma coisa.... declaro abertamente a falta que nos fazem os textos dos demais ilustres escritores da Arca Mundo... saudades de vocês, e voltem logo!
Camila Pessoa de Souza
Copyrigth Arca Mundo. Todos os direitos reservados.
“Todo estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. [...]

Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de suas paisagens. [...]

De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Tem de ser duas paisagens, mas pode ser – não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem – que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior. [...]”.

(Fernando Pessoa)


A ausência das nuvens


Dias ensolarados nos lembram felicidade
Ou sono, que ao sol coube dissipar e não pode.

Dias nublados nos lembram dias nublados...

Mas no dia nublado de hoje
Eu lembrei da felicidade.

Esse descompromisso compromissado em sorrir por instantes.
Um desleixo preocupado em ouvir a dor do outro
E esquecer-se das próprias fadigas cotidianas.

No dia nublado de hoje eu lembrei de você
E tive seu rosto frente aos meus olhos
Suas mãos postas sobre minha força contida
E toda sua inconstância esmiuçada na minha amargura de viver
Com a sensação do tempo pela metade.

E lembrava daquele momento na brisa da tarde
De um dia nublado que nasceu ensolarado.
E de sua dor que já é minha.

Maria Clara Dunck
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IÉ! Preacher na HBO!



Está confirmado: Preacher realmente vai virar uma série pela HBO, com uma hora de duração por episódio. A data de estréia é indefinida, mas já se sabe que o roteiro do piloto ficará por conta de Mark Steven Johnson, que assinou Demolidor e O Motoqueiro Fantasma (este estréia em março de 2007). Os criadores da série em quadrinhos, Garth Ennis (roteirista) e Steve Dillon (ilustrador), serão co-produtores da empreitada da HBO.
Eu, particularmente, estou bastante otimista com a série. Não só porque Preacher tem um argumento maravilhoso e reinventou o arquétipo do anti-herói (e é um dos meus quadrinhos favoritos, sem dúvida), mas também porque a HBO, atualmente, produz as melhores séries que tenho visto. Deadwood e Rome, por exemplo, deixam para trás – e muito – a grande maioria de suas concorrentes sem grandes dificuldades. Outro bom motivo é a inclusão de Ennis e Dillon na equipe do seriado, o que enriquece muito a adaptação (é só ver o resultado de Sin City, acompanhado de perto por Frank Miller), ao contrário do que aconteceu com Alan Moore, que viu uma a uma de suas séries quadrinizadas serem acompanhadas por péssimas adaptações para o cinema, salvo algumas exceções.
Para quem não sabe, Preacher é a série que lançou Ennis no estrelato, sendo escrita de 1995 a 2000 e perfazendo um total de 66 edições. A história gira em torno de Jesse Custer, um pastor possuído pela entidade Gênesis, uma criança nascida da união entre um anjo e um demônio. Sua voz tem um poder parecido com a palavra de Deus, que faz as pessoas o obedecerem forçadamente e sem questionamentos. Ele fuma demais, bebe demais, diz palavrões em excesso e é acompanhado por Tulipa, sua ex-namorada que reencontra anos depois e Cassidy, um vampiro que nada tem do estereótipo do espécime, é obsceno, recheia seus diálogos de fucks, bebe demais e dorme na carroceria de uma caminhonete sob uma lona. Jesse é perturbado por anjos burocratas que estão atrás de Gênesis para aprisiona-lo enquanto procura Deus, que sumiu no mundo, para buscar explicações e saber porque ELE abandonou sua criação.
Garth Ennis, como a maioria dos bons roteiristas da atualidade, é Inglês (na verdade, é da Irlanda do Norte), e não tem papas na língua. Seus quadrinhos são fortes e bastante críticos, esculachando qualquer forma de moralidade (e a cristã é apenas uma delas) e com um senso de humor (negro) bastante aguçado, criando personagens como Billy Bob, o amigo de Jesse Custer na infância que era todo deformado pois sua família casava entre si para ‘preservar a linhagem’. Agora é torcer para a série de TV ser tão boa quanto sua versão original, mas não igual (como a maioria dos fãs de quadrinhos chatos e bitolados exige), pois isso nada acrescentaria.
AAAhh... só mais uma curiosidade: Jesse Custer, o pastor protagonista de Preacher, é assombrado pelo fantasma de John Wayne, que conversa com ele, lhe dá dicas e o segue desde seus cinco anos de idade.
César Henrique Guazelli.
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NAMORO OU (E) AMIZADE




‘’ Amor é um livroSexo é esporteSexo é escolhaAmor é sorte...’’
(Rita Lee)



Bem que tentei, mas não foi possível deixar o assunto da edição anterior. Inaugurando a almejada interatividade a que se propôs Arca Mundo, voltaremos ao tema. 
Alguém comentou sobre o porquê não namorarmos nossos melhores amigos – apresentou como razões a possessividade, o rótulo do compromisso, a fidelidade – e atenção, desavisados, fidelidade não é lealdade - que surgem em razão do sexo. Fica a pergunta a martelar a minha cabeça: por que o sexo altera as relações a ponto de gerar expectativas e posse?

Em última análise estaríamos admitindo que há um abismo entre relações afetivas e relações sexuais. Mais que isso, estaríamos admitindo que o sexo macula o companheirismo, a confiança, o afeto, a parceria. De novo me pergunto: por que?
É como se ao entregar o corpo, surja o direito de ter direitos sobre o outro. Por que? Ao mesmo tempo, por que ao expressar afeto fisicamente por alguém necessito de um rótulo para designar aquela relação? Rótulos são o termo de posse? Não saberia responder a nenhuma das questões aqui propostas, aliás, foram postas para reflexão.

Certo é que enquanto sexo for uma ‘selva de epiléticos’ deixaremos de viver grandes histórias ou destruiremos umas tantas outras. Enquanto buscarmos garantias para nos entregarmos, seremos escravos de nós mesmos. Enquanto acreditarmos que podemos ter a posse de alguém – com ou sem sexo – estaremos aprisionados à ilusão de que somos Deus e podemos controlar algo além de nossos egos desgovernados. Pior que tudo, sofremos com isso.

...mas este ainda é o mundo em que vivemos, cabe a nós tentarmos mudar – não o mundo, não o outro – a nós mesmos e nossas atitudes diante das relações.

‘’...É, amores vêm e vão, amigos são para sempre’’ ( Uma mulher, 12 dez 2006).

‘’Se é para amar, siga amando os seus amigos, eles não te desapontarão enquanto forem amigos’’. (Um homem, 13 dez 2006).



Maria Claudia Cabral.
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quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Editorial nº 07: Sobre o dia-a-dia

E voltamos finalmente às misturas nossas de cada dia!!!! Começamos a celebrar o Natal... que coisa linda!!! E brega, alienada, comercial........ muito bem humorada a crítica do Paulo Henrique dessa semana referente às festas de fim de ano!!! Humm além disso.... alguém já parou pra pensar em como seria mais feliz e em como a vida seria mais fácil se pudéssemos amar nossos melhores amigos? Esse é o tema escolhido nessa edição por Maria Claudia Cabral! Nosso amigos são perfeitos para nós, mas.... são nossos amigos, quase irmãos!!! Todo mundo fala isso, né? Talvez devêssemos tentar reconsiderar, ao invés de ficar por aí quebrando a cabeça com pessoas tão diferentes de nós mesmos! (Fácil é falar! Além de nós, quem mais continua se aventurando?) Além disso, Rafael C. Parrode faz um rápido giro pelos últimos filmes do mestre cineasta Almodóvar, Maria Clara Dunck nos delicia com mais um de seus poemas e Eula Lôbo tenta abrir-nos os olhos pra uma realidade na qual quase nunca reparamos! Aos nossos leitores: continuamos ansiando por seus comentários para que possamos concretizar nossa comunicação de duas direções! Um abraço e boa leitura!!!


Camila Pessoa.
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As Cores de Almodóvar


Lembro-me da primeira vez que vi Carne Trêmula, filme esteticamente menos efusivo do cineasta Pedro Almodóvar, mas talvez o mais carregado de violência e sexo, de relacionamentos conturbados, de carne, de traição... Aqui Almodóvar não carrega nas cores como fazia nos filmes de sua primeira fase, quando filmava o universo feminino daquela maneira deliciosamente abusada e arregalada, no limite entre o kitsch e o bom-gosto. Carne Trêmula é então o início de uma fase mais madura e mais consciente de Pedro Almodóvar diante de seus fantasmas do passado, seus dramas de infância e sua visão particular do mundo.

Eis então, que ele surge com o extraordinário Tudo Sobre Minha Mãe, filme em que ele destila sua paixão à cinefilia, homenageando o clássico All About Eve (A Malvada de Joseph Mackienwiks) ao mesmo tempo que abusa do melodrama, mantendo um impressionante domínio da imagem, nesse que é talvez o seu melhor roteiro e possivelmente o mais sensível de seus filmes. Filme ainda com forte toque feminino, Tudo Sobre Minha Mãe é, entretanto, uma mudança forte na carreira de Almodóvar, em que ele parece mais sóbrio, lidando com temas mais caros, mais fortes, abusando do melodrama e da metalinguagem pra homenagear o cinema e sua mãe, numa de suas obras-primas mais bonitas, que fazem brotar lágrimas dos olhos sem muito esforço.

Mas é com Fale com Ela - na minha opinião, seu melhor filme - que Almodóvar irá chegar ao ápice de seu talento como fazedor de imagens que é. Ele parece estar num equilíbrio impressionante entre estética e conteúdo, nesse que é o seu primeiro filme efetivamente masculino, ainda que diga muito sobre as mulheres. Almodóvar nessa história monstruosamente humana e delicada, irá criar um filme denso, triste e riquíssimo, nos brindando ainda com seqüências inesquecíveis como a da tourada ao som de Elis Regina e da magistral cena do cinema erótico mudo, em que um dos personagens adentra uma imensa genitália feminina.

Má Educação é o encerramento de um ciclo de um Almodóvar mais sombrio, forte, emocionalmente mais violento e contundente. Nesse que é o seu filme mais pessoal, ele irá numa abusada homenagem aos filmes Noir, criar sua obra mais obscura e visceral. Um filme que escancara os fantasmas de seu passado, numa crítica contundente à igreja, mas antes de qualquer outra coisa, uma homenagem ao cinema, porque, com seus planos meticulosamente filmados, no seu uso impressionante de vários tipos diferentes de janelas ao longo do filme e na montagem absurdamente impecável ele irá criar o seu filme mais seu, mas inquestionavelmente o mais singular de toda a sua carreira.

Chegamos então a Volver, novo filme do mestre espanhol em que ele parece encerrar sua brilhante fase dark, pra nos confrontar com a leveza do universo feminino (ainda que leveza para Almodóvar seja algo como incesto ou coisas do tipo), repleto de cores que só mesmo ele consegue pintar com tanta beleza, num retorno a seus temas do início da carreira, às suas antigas musas – Carmen Maura e Penélope Cruz excelentes – e a sua maneira bem particular de tratar de dramas humanos. Volver é indiscutivelmente um belo filme, mas não chega a ter a potência dos filmes da recém terminada segunda fase de Pedro.

Se Volver não é a obra-prima que passamos a esperar de Almodóvar depois de uma sequência impressionante de filmes geniais, é na pior das hipóteses, um dos melhores filmes do ano, o que quer dizer que Almodóvar não precisa se superar filme a filme pra fazer cinema de alto nível. Até seus filmes menores são maravilhosos. O que faz de Volver uma pequenina e formidável pérola pintada lindamente com as cores de Almodóvar.
Rafael C. Parrode.
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quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Sessão de cinema



Acaso não construímos dia-a-dia nossas próprias tragédias?


"Não me conheço com certeza suficientemente bem para saber se poderia escrever uma verdadeira tragédia; porém me assusto só de pensar em tal empresa, e estou quase convencido de que a simples tentativa poderia destruir-me”.
(Goethe)


Fazer tudo como se fosse a primeira vez
Eu vi pichado naquela parede fria
Porque cada livro, filme ou tato
É um achado inverossímil
Nessa dormência.

Pra quem já quis mil peças
Numa mesma imaginação,
Pedir uma presença é dureza.
Agora eu só sei que o acaso
Tem suas verdades incontestáveis.

Esses lugares-comuns da existência,
As brotoejas de um corpo carregado,
São os poucos espaços que ainda possuo.
Talvez tudo seja só um passado
Que continua afetando meus pulsos
Por ser o que me sustenta.

Cada cena daquele espetáculo
É um pedido de carência.
E eu já tenho tudo, menos satisfação.

Acostumei-me a pedir sem cobrar
E a receber sem recibo.
Na verdade eu nunca o quis,
Mesmo clamando na janela de Deus
Um gole dessa piedade sem adjetivos.

Maria Clara Dunck.
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Então é natal...

É incrível como as coisas mudam rápido. Num dia você dorme com sua cidade apagada e com a aparência rotineira. No outro, ela já está toda enfeitada com ornamentos cafonas e luzes douradas. É nessa hora que você se dá conta que o final do ano chegou e que o Natal está prestes a acontecer. Nada mais normal se essas mudanças não acontecessem no meio de outubro, mais de dois meses antes do dia 25 de Dezembro.
A cada dia parece que o “clima de natal” chega mais cedo. Já em outubro pode-se perceber que pessoas estão mais felizes. Os adultos estão ansiosos com o depósito da primeira parcela do 13º salário e as crianças já estão com suas extensas listinhas de presentes prontas. Mas, certamente, os mais radiantes com a chegada dessa data tão especial são os comerciantes.
Afinal, é nesse período que a maioria dos trabalhadores está recebendo um salário a mais. Um rendimento que teoricamente deveria ser “extra”, mas que quase sempre está comprometido há tempos. Isso devido às dívidas acumuladas no ano (o que de certa forma inclui as despesas do natal passado) ou aos gastos previstos para o natal que está para chegar.
Mas por que é no natal a época em que o comércio está mais movimentado? Para responder a essa pergunta podemos utilizar inúmeras explicações históricas e religiosas, as quais não nos interessa abordar nesse artigo. O mais sensato é pensarmos no caráter capitalista do natal. Assim como todas as outras datas comemorativas, o comércio e a cultura consumista construíram o evento como sendo uma desculpa para se gastar. Para você fazer parte da sociedade comum, você tem que dar presentes e consumir uma ceia farta nessa época. Ou então você é um alienígena e está fora do jogo.
Mas para tornar o natal a melhor data para o comércio brasileiro, foi preciso forçar um pouco mais a barra que nas outras datas. Para chegar a esse ponto, apelou-se para a força da família. O natal é uma data especificamente familiar. Não se ouve falar de grandes festas ou comemorações públicas na noite de natal. O dia 25 é uma data para se passar com os familiares. Família que é feliz de verdade tem que distribuir presentes entre si e passar a noite se fartando de comida.
A indústria cultural norte-americana tratou de criar o estereótipo das comemorações natalinas. Famílias reunidas num momento feliz, comendo o tradicional peru, cantando músicas natalinas e distribuindo os presentes depositados em baixo do frondoso pinheiro enfeitado com artefatos decorativos. Tudo isso sob a neve do inverno rigoroso.
Como bons subdesenvolvidos que somos, tratamos logo de copiar esse modelo, ainda que com algumas adaptações. A família reunida permanece, agora acrescida de alguns parentes mais distantes. O peru não é tão tradicional, mas também continua firme, podendo ser trocado pelo Chester®. As músicas natalinas se resumem ao CD da Simone lançado há décadas, mas que insistem em nos atormentar anualmente.
A distribuição de presentes também acontece. Entretanto, agora possui o nome de “amigo secreto”, uma maneira econômica de se distribuir presentes, já que normalmente pelo menos um item todo mundo recebe. O pinheiro decorado é bem semelhante. Porém, agora ele deixa de ser natural e passa a ser sintético. Alguns até com pontinhas de tinta branca simulando neve. A decoração permanece, agora acrescida de luzes piscantes coloridas que, às vezes, até tocam alguma música. Por fim, por incrível que pareça, até a neve nós tentamos copiar. É uma anomalia que no Brasil, em pleno verão tropical, as lojas enfeitem suas fachadas com espumas brancas que, acreditam os comerciantes, dão efeito de neve. Tudo extremamente cafona. Alguns lugares ainda forçam seus empregados a usarem gorros e jaquetas semelhantes ao que o Papai Noel usa. Isso em lugares em que ar-condicionado só existe na sala do chefe. Não consigo entender o motivo de tal escolha. Tudo bem que o Papai Noel é do pólo norte, mas será que não existem maneiras mais criativas de se representar o natal? Com certeza sim. Basta usar um pouquinho da criatividade.
Paulo Henrique dos Santos.
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Ser Inteiro e Não pela Metade



Por que não namoramos nossos melhores amigos?


''...somos feitos de silêncio e sons,
tem certas coisas que eu não sei dizer''
(Lulu Santos)

Boa parte das pessoas passa a vida a procurar a metade da sua laranja, a tampa da sua panela e outras expressões que igualmente denotam que somos apenas parte de algo que se completa só com outro. A busca fica cada dia mais difícil, porque no momento em que procuramos no outro a complementação de nós mesmos, projetamos nele nossa outra metade.
Sim, a meu sentir – e não estou sozinha – as metades que devem se encontrar são nossas metades. Porque todos nós somos feitos de antagonismos e complementaridades. Somos sim e não, somos côncavo e convexo, somos razão e emoção, posto que a metade racional não existe sem seu antagônico-complementar: metade emocional. Ao encontro harmonioso destas nossas duas partes, chamo de 'Ser Inteiro'.
Ser inteiro pressupõe aceitar, com todos os paradoxos inerentes ao encontro das metades que nos complementam e que são parte de nós. Ser inteiro é integrar-se pelo auto-conhecimento e pelo amor-próprio. Ao ser inteiro, interajo com o outro, troco, compartilho, entrego-me. Ao ser inteiro, aceito o outro tal qual ele é, e não espero que seja um modelo idealizado por mim, não tento encaixá-lo a todo custo em algo que existe só porque criei.
A simples busca de nossa metade ideal, já é problema na certa, mas a confusão não pára por aí.
Pois bem, nesse ponto começa o maior dos paradoxos. Temos amigos do gênero oposto (ou do mesmo gênero), com os quais temos uma relação de entrega total, de aceitação plena. Com tais amigos somos inteiros, não tememos mostrar nosso lado sombra, nem sorrir, nem chorar. Não tememos ligar no meio da madrugada, só para contar a grande besteira que fizemos e ouvirmos ''eu te avisei!”. Tais amigos nos conhecem do avesso, nos protegem, nos acolhem, brigam conosco, nos aceitam como somos – com todos os nossos defeitinhos chatos.
Por alguma razão não os vemos com olhos de sedução. São como irmãos - é comum dizermos. Por que não nos apaixonamos por eles? Por que não os namoramos? Se são eles que nos ouvem quando mais precisamos, que nos acompanham – mesmo de longe – nos bons e nos maus momentos?
Nosso melhor amigo é nosso parceiro perfeito. Está conosco haja o que houver, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, nas baladas e nos sábados chuvosos em frente ao dvd. Não raras vezes, é nosso companheiro nas viagens, nas histórias – são nossa história. Somos inteiros com eles, eles são inteiros conosco. Gostamos de nossos amigos do jeitinho que eles são, sem tirar, nem pôr.
E me perguntarão ''Como poderia namorar meu amigo?''. Respondo, usando a resposta de um grande amigo ''E quem quer namorar inimigo?''
''Com você sou eu mesma, sinto-me inteira'' (Amiga ao amigo, 03 de Dez de 2006)
''Não me sinto à vontade para falar algumas coisas com meus amigos homens, com algumas amigas, eu falo'' (Amigo à amiga, 03 de Dez de 2006).
Maria Claudia Cabral.
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Mídias ambientais também têm seu preço.


Cada vez mais cresce o número de jornalistas e outros profissionais que se interessam pela divulgação de temas ambientais, a conscientização ecológica alastra-se pelo universo da comunicação. No entanto, as mídias são verdadeiros problemas para os profissionais que pensam ambientalmente.
As pautas ambientais sofrem todo tipo de resistência, retaliações e, como não poderia deixar de ser, divergências entre os modelos implantados pelas cartilhas econômicas ortodoxas que reproduzem a mentalidade de países industrializados. As mídias ambientais produzem uma quantidade enorme de informação, mas acabam sendo obrigadas a pesquisá-la, traduzi-la, estudá-la, para reduzir tudo isso e enquadrar no espaço pequeno que lhe é disponibilizado na grande mídia. Quando conseguem um espaço maior, esse é disputado a tapas com as pautas convencionais nos cadernos de economia, ciência, agricultura, entre outros.
A falta de mídias especializadas deriva de um modelo jornalístico que acompanhou toda evolução do capitalismo. O público precisa de informações rápidas, úteis e em rápido prazo. Não há mais o interesse por avaliação de temas e por isso os profissionais da comunicação não tem mais o compromisso de educar e conscientizar. E quando nos referimos a uma mídia especializada, como são as mídias ambientais, estamos, em primeiro lugar, nos posicionando como "educadores". Aqueles que formarão quadros para liderar, estimular e orientar jovens para assumir responsabilidades e representar as futuras gerações.
O jornalismo diário é essencial para o mundo de hoje, principalmente para oferecer empregos para todos os que estão aí, saindo das faculdades e procurando oportunidades para estarem na mesma pirâmide social que o atual modelo de consumo aspira. No entanto, é necessária a existência de mídias especializadas, principalmente as ambientais, elas procuram no seio das redes eletrônicas a estratégia para suas organizações, a fim de implantar um modelo econômico sustentável.
Para quem ousa participar, ou mesmo incentivar veículos de comunicação especializados, há muito a se fazer, uma vez que todo modelo que vigora foi construído sobre uma perspectiva ultrapassada, com as necessidades de consumo, velocidade extremamente rápida e capacidade de se obter a matéria prima extraída predatoriamente do meio ambiente.
A mídia ambiental é uma potencial forma de fomentar uma economia sustentável. Seus profissionais muitas vezes pagam e, na maioria dos casos, com voluntarismo, boa vontade, compromisso e abnegação para verem a consolidação e a democratização da informação ambiental. Tudo isso porque os amantes da ecologia acreditam que só uma revolução sócio-ambiental pode dar uma nova chance à sobrevivência e a boa vivência da humanidade.

SEU JEITO DE OLHAR

Com um olhar mais atento
Verá o Planeta em agonia
Verá a vida ameaçada
Verá destruição da ecologia
Verá água e ar contaminados
E entenderá a minha teimosia

Q seu olhar, atinja seus sentimentos
Q sua reação seja de preservar
Q assumas compromisso pessoal
O que foi destruído ajude a recuperar
Q o meio ambiente seja protegido
Q seja cidadão, o seu jeito de olhar
Para que as flores não sejam de papel
arvores não deixem de existir
Para que a vida prevaleça no amanhã
A consciência precisamos difundir
Para que os animais não sejam dizimados
Precisamos urgentemente reagir

Sem amor não haverá sensibilidade
Sensibilidade é condição para o agir
Sem o respeito à diversidade da vida
O equilibrado, não vamos conseguir
Se o homem não parar para pensar
Que aguarde
O pior está por vir

Virgilio - Ecologista

Eula Lôbo
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