terça-feira, 27 de março de 2007

NEM AREIA, NEM PEDRA


‘’Eu sou poeta e não aprendi a amar.’’ (Cazuza e Frejat)




Amar se aprende amando, já dizia o poeta – ou terá sido o filósofo? Não importa, vale saber que amar é muito mais que mergulhar de olhos fechados num mar de sensações e sonhos. Que é mais que o friozinho na barriga, as mãos suadas – ou espalmadas, como diria Vinícius. ‘Amar se aprende amando’, mas afinal como sabemos onde está a fronteira entre o apreço sincero ou o tesão ou a carência e o amor?


Honestamente? Não sei. Sei apenas que o mito do amor romântico já não cabe mais. Idealizar o ser amado, vesti-lo num modelo pré-fabricado de parceiro é caminho sem volta para a decepção. Há muitos anos ouvi uma frase, no capítulo final de uma novela das sete horas (engraçado isso), o homem dizia à mulher ‘’não amo você ‘apesar de’, mas ‘por causa de’’’. Amar talvez seja isso, aceitar o outro tal qual ele é realmente. Porque ele é egocêntrico e inflexível – e há aí um largo espaço para aprendizado recíproco e crescimento –, e não apesar de ela ser defensiva, que comporta uma sensação de ‘’então tá, eu aturo’’. Encarar a humanidade do parceiro, ver-se desnudada por ele, crescer com isso.


Estar disposto a ver de frente a humanidade do outro é colocar-se pronto para a construção do relacionamento, para a construção do amor. Não mais o amor romântico, que não depende de esforços, posto que é como chama ardente que se acende e se apaga, mas o amor platônico – cuidado aqui com o senso comum de amor platônico, vale ler um pouco mais a respeito do conceito de amor, segundo Platão – que se modifica e amadurece, que se liberta do plano mesquinho dos fatos, rumo ao plano das idéias.


Essa construção, tenho aprendido, não é possível sobre areia, tampouco é possível sobre rocha. O que significa isso, afinal? Sinto que ao estabelecer as bases do relacionamento sobre terrenos incertos – insegurança, medo, superficialidade – fica prejudicada a segurança mínima para fluir o relacionamento. Por outro lado, ao buscar a firmeza da rocha como lócus para a construção dos alicerces, perde-se a flexibilidade necessária para sobreviver aos ventos e tempestades característicos da adaptação de dois indivíduos, com formação, estrutura e história emocionais diferentes, muitas vezes muito diferentes.


Entra aqui a sabedoria chinesa sobre o bambu, que é firme, sem ser rígido e, é sólido, sem ser pesado. Tais características, a meu sentir, compõem ou constroem a relação em bases reais. Relações amparadas, volto a dizer, não no amor romântico que ouve Puccini no primeiro beijo, mas no amor platônico, que cresce e evolui sete degraus, um após o outro. A relação consciente, escolhida – o amor. Será que isso responde à pergunta?



‘’Como sabemos qual a linha que separa o apreço sincero do amor?’’ (E.T., 37 anos, numa madrugada dessas).



‘’Mas há quem passe toda a vida desiludido porque toda a vida sonha com uma ilusão e nunca arrisca amar a sério, com carne e sangue e lágrimas...’’ (comentário no Blog Silêncio, em 08 de outubro de 2003.)




Sobre o Amor Romântico:
http://www.usuarios.unincor.br/luisfranope/Amor%20romantico.htm http://silencio.weblog.com.pt/arquivo/015333.html


Sobre o Amor Platônico :
http://www.saindodamatrix.com.br/archives/2005/04/amor_platonico.html




Maria Cláudia Cabral
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