quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Sessão de cinema



Acaso não construímos dia-a-dia nossas próprias tragédias?


"Não me conheço com certeza suficientemente bem para saber se poderia escrever uma verdadeira tragédia; porém me assusto só de pensar em tal empresa, e estou quase convencido de que a simples tentativa poderia destruir-me”.
(Goethe)


Fazer tudo como se fosse a primeira vez
Eu vi pichado naquela parede fria
Porque cada livro, filme ou tato
É um achado inverossímil
Nessa dormência.

Pra quem já quis mil peças
Numa mesma imaginação,
Pedir uma presença é dureza.
Agora eu só sei que o acaso
Tem suas verdades incontestáveis.

Esses lugares-comuns da existência,
As brotoejas de um corpo carregado,
São os poucos espaços que ainda possuo.
Talvez tudo seja só um passado
Que continua afetando meus pulsos
Por ser o que me sustenta.

Cada cena daquele espetáculo
É um pedido de carência.
E eu já tenho tudo, menos satisfação.

Acostumei-me a pedir sem cobrar
E a receber sem recibo.
Na verdade eu nunca o quis,
Mesmo clamando na janela de Deus
Um gole dessa piedade sem adjetivos.

Maria Clara Dunck.
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Então é natal...

É incrível como as coisas mudam rápido. Num dia você dorme com sua cidade apagada e com a aparência rotineira. No outro, ela já está toda enfeitada com ornamentos cafonas e luzes douradas. É nessa hora que você se dá conta que o final do ano chegou e que o Natal está prestes a acontecer. Nada mais normal se essas mudanças não acontecessem no meio de outubro, mais de dois meses antes do dia 25 de Dezembro.
A cada dia parece que o “clima de natal” chega mais cedo. Já em outubro pode-se perceber que pessoas estão mais felizes. Os adultos estão ansiosos com o depósito da primeira parcela do 13º salário e as crianças já estão com suas extensas listinhas de presentes prontas. Mas, certamente, os mais radiantes com a chegada dessa data tão especial são os comerciantes.
Afinal, é nesse período que a maioria dos trabalhadores está recebendo um salário a mais. Um rendimento que teoricamente deveria ser “extra”, mas que quase sempre está comprometido há tempos. Isso devido às dívidas acumuladas no ano (o que de certa forma inclui as despesas do natal passado) ou aos gastos previstos para o natal que está para chegar.
Mas por que é no natal a época em que o comércio está mais movimentado? Para responder a essa pergunta podemos utilizar inúmeras explicações históricas e religiosas, as quais não nos interessa abordar nesse artigo. O mais sensato é pensarmos no caráter capitalista do natal. Assim como todas as outras datas comemorativas, o comércio e a cultura consumista construíram o evento como sendo uma desculpa para se gastar. Para você fazer parte da sociedade comum, você tem que dar presentes e consumir uma ceia farta nessa época. Ou então você é um alienígena e está fora do jogo.
Mas para tornar o natal a melhor data para o comércio brasileiro, foi preciso forçar um pouco mais a barra que nas outras datas. Para chegar a esse ponto, apelou-se para a força da família. O natal é uma data especificamente familiar. Não se ouve falar de grandes festas ou comemorações públicas na noite de natal. O dia 25 é uma data para se passar com os familiares. Família que é feliz de verdade tem que distribuir presentes entre si e passar a noite se fartando de comida.
A indústria cultural norte-americana tratou de criar o estereótipo das comemorações natalinas. Famílias reunidas num momento feliz, comendo o tradicional peru, cantando músicas natalinas e distribuindo os presentes depositados em baixo do frondoso pinheiro enfeitado com artefatos decorativos. Tudo isso sob a neve do inverno rigoroso.
Como bons subdesenvolvidos que somos, tratamos logo de copiar esse modelo, ainda que com algumas adaptações. A família reunida permanece, agora acrescida de alguns parentes mais distantes. O peru não é tão tradicional, mas também continua firme, podendo ser trocado pelo Chester®. As músicas natalinas se resumem ao CD da Simone lançado há décadas, mas que insistem em nos atormentar anualmente.
A distribuição de presentes também acontece. Entretanto, agora possui o nome de “amigo secreto”, uma maneira econômica de se distribuir presentes, já que normalmente pelo menos um item todo mundo recebe. O pinheiro decorado é bem semelhante. Porém, agora ele deixa de ser natural e passa a ser sintético. Alguns até com pontinhas de tinta branca simulando neve. A decoração permanece, agora acrescida de luzes piscantes coloridas que, às vezes, até tocam alguma música. Por fim, por incrível que pareça, até a neve nós tentamos copiar. É uma anomalia que no Brasil, em pleno verão tropical, as lojas enfeitem suas fachadas com espumas brancas que, acreditam os comerciantes, dão efeito de neve. Tudo extremamente cafona. Alguns lugares ainda forçam seus empregados a usarem gorros e jaquetas semelhantes ao que o Papai Noel usa. Isso em lugares em que ar-condicionado só existe na sala do chefe. Não consigo entender o motivo de tal escolha. Tudo bem que o Papai Noel é do pólo norte, mas será que não existem maneiras mais criativas de se representar o natal? Com certeza sim. Basta usar um pouquinho da criatividade.
Paulo Henrique dos Santos.
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Ser Inteiro e Não pela Metade



Por que não namoramos nossos melhores amigos?


''...somos feitos de silêncio e sons,
tem certas coisas que eu não sei dizer''
(Lulu Santos)

Boa parte das pessoas passa a vida a procurar a metade da sua laranja, a tampa da sua panela e outras expressões que igualmente denotam que somos apenas parte de algo que se completa só com outro. A busca fica cada dia mais difícil, porque no momento em que procuramos no outro a complementação de nós mesmos, projetamos nele nossa outra metade.
Sim, a meu sentir – e não estou sozinha – as metades que devem se encontrar são nossas metades. Porque todos nós somos feitos de antagonismos e complementaridades. Somos sim e não, somos côncavo e convexo, somos razão e emoção, posto que a metade racional não existe sem seu antagônico-complementar: metade emocional. Ao encontro harmonioso destas nossas duas partes, chamo de 'Ser Inteiro'.
Ser inteiro pressupõe aceitar, com todos os paradoxos inerentes ao encontro das metades que nos complementam e que são parte de nós. Ser inteiro é integrar-se pelo auto-conhecimento e pelo amor-próprio. Ao ser inteiro, interajo com o outro, troco, compartilho, entrego-me. Ao ser inteiro, aceito o outro tal qual ele é, e não espero que seja um modelo idealizado por mim, não tento encaixá-lo a todo custo em algo que existe só porque criei.
A simples busca de nossa metade ideal, já é problema na certa, mas a confusão não pára por aí.
Pois bem, nesse ponto começa o maior dos paradoxos. Temos amigos do gênero oposto (ou do mesmo gênero), com os quais temos uma relação de entrega total, de aceitação plena. Com tais amigos somos inteiros, não tememos mostrar nosso lado sombra, nem sorrir, nem chorar. Não tememos ligar no meio da madrugada, só para contar a grande besteira que fizemos e ouvirmos ''eu te avisei!”. Tais amigos nos conhecem do avesso, nos protegem, nos acolhem, brigam conosco, nos aceitam como somos – com todos os nossos defeitinhos chatos.
Por alguma razão não os vemos com olhos de sedução. São como irmãos - é comum dizermos. Por que não nos apaixonamos por eles? Por que não os namoramos? Se são eles que nos ouvem quando mais precisamos, que nos acompanham – mesmo de longe – nos bons e nos maus momentos?
Nosso melhor amigo é nosso parceiro perfeito. Está conosco haja o que houver, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, nas baladas e nos sábados chuvosos em frente ao dvd. Não raras vezes, é nosso companheiro nas viagens, nas histórias – são nossa história. Somos inteiros com eles, eles são inteiros conosco. Gostamos de nossos amigos do jeitinho que eles são, sem tirar, nem pôr.
E me perguntarão ''Como poderia namorar meu amigo?''. Respondo, usando a resposta de um grande amigo ''E quem quer namorar inimigo?''
''Com você sou eu mesma, sinto-me inteira'' (Amiga ao amigo, 03 de Dez de 2006)
''Não me sinto à vontade para falar algumas coisas com meus amigos homens, com algumas amigas, eu falo'' (Amigo à amiga, 03 de Dez de 2006).
Maria Claudia Cabral.
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Mídias ambientais também têm seu preço.


Cada vez mais cresce o número de jornalistas e outros profissionais que se interessam pela divulgação de temas ambientais, a conscientização ecológica alastra-se pelo universo da comunicação. No entanto, as mídias são verdadeiros problemas para os profissionais que pensam ambientalmente.
As pautas ambientais sofrem todo tipo de resistência, retaliações e, como não poderia deixar de ser, divergências entre os modelos implantados pelas cartilhas econômicas ortodoxas que reproduzem a mentalidade de países industrializados. As mídias ambientais produzem uma quantidade enorme de informação, mas acabam sendo obrigadas a pesquisá-la, traduzi-la, estudá-la, para reduzir tudo isso e enquadrar no espaço pequeno que lhe é disponibilizado na grande mídia. Quando conseguem um espaço maior, esse é disputado a tapas com as pautas convencionais nos cadernos de economia, ciência, agricultura, entre outros.
A falta de mídias especializadas deriva de um modelo jornalístico que acompanhou toda evolução do capitalismo. O público precisa de informações rápidas, úteis e em rápido prazo. Não há mais o interesse por avaliação de temas e por isso os profissionais da comunicação não tem mais o compromisso de educar e conscientizar. E quando nos referimos a uma mídia especializada, como são as mídias ambientais, estamos, em primeiro lugar, nos posicionando como "educadores". Aqueles que formarão quadros para liderar, estimular e orientar jovens para assumir responsabilidades e representar as futuras gerações.
O jornalismo diário é essencial para o mundo de hoje, principalmente para oferecer empregos para todos os que estão aí, saindo das faculdades e procurando oportunidades para estarem na mesma pirâmide social que o atual modelo de consumo aspira. No entanto, é necessária a existência de mídias especializadas, principalmente as ambientais, elas procuram no seio das redes eletrônicas a estratégia para suas organizações, a fim de implantar um modelo econômico sustentável.
Para quem ousa participar, ou mesmo incentivar veículos de comunicação especializados, há muito a se fazer, uma vez que todo modelo que vigora foi construído sobre uma perspectiva ultrapassada, com as necessidades de consumo, velocidade extremamente rápida e capacidade de se obter a matéria prima extraída predatoriamente do meio ambiente.
A mídia ambiental é uma potencial forma de fomentar uma economia sustentável. Seus profissionais muitas vezes pagam e, na maioria dos casos, com voluntarismo, boa vontade, compromisso e abnegação para verem a consolidação e a democratização da informação ambiental. Tudo isso porque os amantes da ecologia acreditam que só uma revolução sócio-ambiental pode dar uma nova chance à sobrevivência e a boa vivência da humanidade.

SEU JEITO DE OLHAR

Com um olhar mais atento
Verá o Planeta em agonia
Verá a vida ameaçada
Verá destruição da ecologia
Verá água e ar contaminados
E entenderá a minha teimosia

Q seu olhar, atinja seus sentimentos
Q sua reação seja de preservar
Q assumas compromisso pessoal
O que foi destruído ajude a recuperar
Q o meio ambiente seja protegido
Q seja cidadão, o seu jeito de olhar
Para que as flores não sejam de papel
arvores não deixem de existir
Para que a vida prevaleça no amanhã
A consciência precisamos difundir
Para que os animais não sejam dizimados
Precisamos urgentemente reagir

Sem amor não haverá sensibilidade
Sensibilidade é condição para o agir
Sem o respeito à diversidade da vida
O equilibrado, não vamos conseguir
Se o homem não parar para pensar
Que aguarde
O pior está por vir

Virgilio - Ecologista

Eula Lôbo
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