quarta-feira, 6 de dezembro de 2006

Sessão de cinema



Acaso não construímos dia-a-dia nossas próprias tragédias?


"Não me conheço com certeza suficientemente bem para saber se poderia escrever uma verdadeira tragédia; porém me assusto só de pensar em tal empresa, e estou quase convencido de que a simples tentativa poderia destruir-me”.
(Goethe)


Fazer tudo como se fosse a primeira vez
Eu vi pichado naquela parede fria
Porque cada livro, filme ou tato
É um achado inverossímil
Nessa dormência.

Pra quem já quis mil peças
Numa mesma imaginação,
Pedir uma presença é dureza.
Agora eu só sei que o acaso
Tem suas verdades incontestáveis.

Esses lugares-comuns da existência,
As brotoejas de um corpo carregado,
São os poucos espaços que ainda possuo.
Talvez tudo seja só um passado
Que continua afetando meus pulsos
Por ser o que me sustenta.

Cada cena daquele espetáculo
É um pedido de carência.
E eu já tenho tudo, menos satisfação.

Acostumei-me a pedir sem cobrar
E a receber sem recibo.
Na verdade eu nunca o quis,
Mesmo clamando na janela de Deus
Um gole dessa piedade sem adjetivos.

Maria Clara Dunck.
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1 comentário:

Anónimo disse...

Maravilhoso, Maria Clara. Como antes, um poema intenso, pulsante. Amei!