domingo, 28 de outubro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... Mudança...

“As idéias podem viajar, mas não a bordo de tanques”

(Eric Hobsbawm)

Vire e mexe, nós nos vemos, quer no trabalho, quer em casa, em períodos de mudança. Mudamos desde o endereço de casa e/ou do trabalho até as coisas de lugar dentro destes espaços. Tanto em uma mudança grande como em uma mudança pequena (aquelas que, na verdade, são apenas pequenas arrumações), sempre nos vemos no meio de coisas que tem imensas e até intensas histórias:

As fotos: do pai com bigode, da mãe com uma flor no cabelo, da vó tocando piano e da família, dos aniversários, da cachorra lambendo nossos amigos, dos nossos amigos, algumas namoradas e as quase esposas (não ao mesmo tempo, claro), das viagens e das pessoas que conhecemos nestas viagens, do trabalho que fazia com a comunidade durante o período de Formação Superior, dos amigos da Universidade e do Mestrado, das várias atividades com o MST (Estágios de Vivência, Encontro dos Sem Terrinha, coleta de dados do mestrado), dos Congressos, Seminários, Conferências e Encontros de toda ordem (e seus crachás ainda guardados), dos amigos de todos os nossos trabalhos, área e temas, das muitas paisagens...

As cartas: amigos e amigas de São Paulo, Rio de Janeiro, Goiás, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Piauí, Pará, Paraíba, Bahia, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Ceará, Rondônia, Espírito Santo, Maranhão. Da biza, quando eu era bem pequeno (e escrevi minha primeira carta)... Cartas e cartas que, com o tempo, por motivos que nem sabe-se se vale a pena pontuar, ficaram, não foram respondidas e, se o foram, não foram re-respondidas...

Os Textos: de estudos, de místicas, poemas, poesias, pequenas histórias, textos importantes para a nossa formação, textos que até foram fundamentais para a definição de não apenas qual caminho tomar, mas o porquê de tomar este caminho e as possíveis armadilhas e desafios destes caminhos...

Os livros: uma centena e tanto de livros que também nos dizem e dizem-nos a quem queira ou não interessar: Marx, Trotsky, Lênin, Rosa Luxemburgo, Miguel Arroyo, Carlos Von Sohsten (opa! Esse é meu primo), Maria Cecília Minayo, Severino, Engels, Leandro Konder, Dostoiévsky, Paulo Freire, Elio Gaspari, Garcia Marques, John Reed, Frei Beto, Francisco de Assis, Patativa do Assaré, Bertold Brecht, Nikolai Ostrovsky, Ferrez, Drauzio Varella, Saramago, Pistrak, Michael Löwy, Máximo Gorki, Huizinga, Máuri de Carvalho, Noam Chomsky, Ricardo Antunes, Gilles, Pernault, Michael Moore, Manoel Correa de Andrade, Roseli Caldart, João Pedro Stédille, Ademar Bogo, Kosik, Chaptulin, Tânia Bacelar, Tiago de Mello, Anna Seghers, James Hunter e outra centena de autores... inclusive eu...

E, em todas essas fotos, cartas, textos, livros mais os CD’s, os objetos pessoais, os quadros e painéis, os crachás, algumas camisas (beeeeeeem velhas mas ainda em condições de uso), tudo isso diz respeito aos caminhos percorridos, às viagens realizadas, as mudanças necessárias. Tudo isso, para todos nós, diz respeito de nossas idéias, diz respeito do que acreditamos, pelo que e por quem lutamos, contra o que e contra quem lutamos... Todos nós...

Em um tempo em que, cada vez mais, observamos as idéias de uma democracia deturpada serem divulgadas e manipuladas por tanques ou pela imprensa, me vejo em um domingo de arrumação da casa, de arranhar o violão, de lavar a roupa, de dar comida aos cachorros, de limpar o cantinho da nova ninhada da Janis Joplin (minha cachorrinha) e de estudar mais um pouco... E, como se fosse uma surpresa, cá estão as imagens, os sons e as letradas palavras que me acompanham, por vezes me ensinando, por vezes me aprendendo a difícil e necessária escola dos lutadores do povo...

E você? Com quem aprendes e a quem apreendes?

Vida longa...

Marcelo “Russo” Ferreira

Obs.: as fotos não aparecem aqui, nem os textos e as cartas. Os livros se encontram por aí... Mas, em usando a parte pequenas das minhas idéias aqui escritas, não deixe de citar-me, ok?