quarta-feira, 25 de outubro de 2006

Diário da Mostra SP de Cinema - Dia 2: 24/10/06


Dois Italianos e dois brasileiros:

Anche Libero Va Bene

Muito da aceitação de um filme vem da bagagem emocional que cada espectador carrega consigo. E acho que grande parte do meu carinho pelo filme do diretor estreante Kim Rossi Stuart, chamado Anche Libero Va Bene, vem dessa identificação, mesmo que vaga, de alguns momentos da minha infância.
Anche Libero Va Bene se apóia na já batida dinâmica da família disfuncional, em que um pai com seu casal de filhos, tem que lidar com os problemas do cotidiano, após ser abandonado pela esposa. Se engana, porém, quem pensa que o filme gira em torno da figura do pai, e mesmo se, a princípio, a dinâmica daquela família dá o tom do filme, seu grande protagonista é o filho caçula, interpretado com uma violência emocional impressionante pelo pequeno ator Alessandro Morace.
Stuart que, além de dirigir, interpreta o pai, demonstra uma impecável cumplicidade com os atores, e principalmente, filma aquela relação familiar com muita paixão, sem cair em estereótipos ou modelos de comportamento. Cada personagem reage aos acontecimentos de maneira muito peculiar, sem qualquer moralismo ou convenção que os transforme em anjos ou demônios.
Com o retorno da mãe visivelmente fragilizada e perturbada, toda a dinâmica diária a que a família se acostumara, acaba se transformando drasticamente. Mas é nesse momento que Stuart volta sua câmera ao caçula da casa, registrando de maneira delicada seu universo e como, ao longo do tempo, ele irá se fechar em um mundo particular. Mundo esse, que tenta ao máximo excluir todos os problemas que sua família enfrenta e que ele parece carregar em suas costas sozinho, mesmo sabendo, como muito bem diz o título do filme, que ele é o líbero da casa. Líbero aqui, é o jogador de futebol que distribui a bola, que arma o jogo e dá sustentação ao time. Aqui no Brasil, traduziram o título para Estamos Bem Mesmo Sem Você, título esse que deturpa de certa forma toda a construção dramática do filme, pois ninguém ali consegue lidar bem com a ausência.
A certa altura do filme, derramei a primeira lágrima da Mostra, pois, mesmo Stuart fugindo ao máximo do drama fácil e gratuito, tudo ali parece convencer plenamente, e em se tratando de uma estória tão melancólica e emotiva, não há como fugir desse tipo de reação. Saí então do filme com aquele baita sorriso no rosto, não por ele ter um final feliz ou coisa do tipo, mas por ter visto um filme em que a catarse parece vir com calma, sem imposição, de maneira iluminada, sensível, e muito, muito gratificante.
Cotação:****

O Céu de Suely

Karim Ainouz, na apresentação de seu segundo longa hoje, disse que, pra se fazer um filme, deve-se estar apaixonado pela estória que irá contar, e que, no caso de O Céu de Suely, foi ainda mais apaixonante, pois foi uma viagem à sua infância no Ceará, às lembranças de sua mãe e de suas tias que nunca saíram de sua pequena cidade natal no agreste nordestino. Ela disse, ainda, que esse filme era sobre o que poderia ter acontecido se alguma delas assim tivesse feito, e que o cinema é fascinante, porque permite esse tipo de suposição. Disse também que, diferentemente de Madame Satã, um filme basicamente noturno e boêmio, o Céu de Suely é um filme de luz, de céu, de dia.
Toda essa introdução feita Ainouz numa sessão lotada, aumentou ainda mais o poder do filme sobre mim. O Céu de Suely gira em torno de sonhos, de pessoas comuns, banais que não se sentem confortáveis no mundo em que vivem, desiludidas nesse país que pouco olha para seu povo. Karim, desde Madame Satã demosntra completo domínio da imagem, potencializado ainda mais pela fotografia impressionante de Walter Carvalho e pela competência de todo o elenco. Mas o mais marcante é como ele imprime seu olhar aguçado, lírico e livre de moralismos ao contar a estória de Hermilla (interpretada por Hermilla Guedes, que dá seu nome à personagem em uma interpretação assustadoramente bonita). Ela volta à cidade natal de Iguatu com o filho bebê a fim de recomeçar a vida ao lado do namorado, que chegará logo depois com uma gravadora de Cds para serem pirateados e vendidos em uma banca no centro da cidade. Com o tempo, Hermilla percebe que está sozinha novamente, que o pai de seu filho sumiu, e que todo o futuro que ela havia sonhado havia se desfacelado. Ela agora vende rifas de whisky e lava carros num posto de gasolina para juntar algum dinheiro e se mudar para a cidade mais longe que um ônibus puder levá-la. A passagem não é nada barata e é ai que Hermilla resolve rifar "uma noite no paraíso" com Suely (seu novo nome) com o objetivo de conseguir todo o dinheiro de que precisa para se mudar.
O filme é dono de ao menos três sequências memoráveis, como aquela em que Hermilla e João, um antigo namorado, vão de moto ao motel tendo o crepúsculo como moldura de suas fraquezas e sentimentos; ou aquela em que sua avó lhe exige que peça desculpas; mas principalmente na cena final do filme que não pretendo contar pra não estragar o impacto que ela traz. Impressionante também como a câmera captura Iguatu, cidade perdida no sertão cearense, cortada por uma linha de ferro, repleta de luzes e sons de carros e de músicas bregas tocadas em volume máximo, das pipas presas nos fios do poste, das casa rústicas e pobres.
O Céu de Suely é, sem dúvida, o melhor filme nacional que vejo em anos, porque é cinema pensando o Brasil em carne e osso, sem firulas, sem deturpações. É um filme sobre gente comum, sobre o ordinário (no bom sentido da palavra), sobre sonhos, sobre gente. Imperdível!
Cotação: ****

Sonhos de Peixe

Fascinante como um filme tão brasileiro, na sua maneira próxima e íntima de se capturar o dia-a-dia de uma vila de pescadores, venha de um russo. Kirill Mikhanovsky demonstra um impressionante domínio no registrar dos corpos e das vozes de seus personagens, em sua maioria interpretados por não-atores - o que imprime um realismo incrível a tudo - em contraponto com as sequências quase surreais dos pescadores no fundo do mar. O filme busca com delicadeza um olhar quase documental sobre os moradores da vila, sua relação com aquele espaço, com o mar. A princípio nos aproxima muito de todos aqueles personagens e em seguida nos coloca frente a frente com seus dilemas e impasses. Sonhos de Peixe é um filme que, se não tem o lirismo de O Céu de Suely, carrega toda a sua força no seu registro impecável do cotidiano. Algo semelhante a Barravento de Glauber Rocha. Mikhanovsky tem bastante interesse também em investigar o fascínio do brasileiro ante o poder da TV. Todos ali na vila não perdem um só capítulo da novela "O Beijo do Pecado" e será a televisão, o aparelho que criará o grande climax do filme. Sonhos de Peixe é, assim como o de Karim Ainouz, um filme que olha diretamente para o povo, sem interferências; e por isso mesmo é político: registra uma realidade que pouca gente está acostumado a ver e diante dela, nos faz pensar nesse país desigual em que vivemos. Esses dois filmes nacionais de hoje deveriam chegar o quanto antes, nas casas da elite, da classe média, dos políticos brasileiros, pra revelar um Brasil que essas pessoas só conhecem pelas lentes distanciadas de um Globo-Repórter ou qualquer outro programa feito, menos para abrir os olhos para revelar um Brasil de abismos, do que para fazer-nos pegar no sono dos justos.
Cotação:***

O Crocodilo

Quem pensa que um filme sobre Berlusconni será útil apenas para os italianos, se engana profundamente. Queria muito poder transmitir em TV aberta, nessa época de eleições, esse maravilhoso filme de Nanni Moretti, no horário nobre, no horário da novela, ou mesmo no lugar desses debates imbróglios que temos visto ultimamente.
Mas o que mais impressiona neste filme de Moretti é a união perfeita entre cinema e política, pois a todo o tempo ele destila sua paixão pela sétima arte, pela dura odisséia que é fazer um filme, quanto mais um filme político, de denúncia. O Crocodilo podia muito bem estar dentro da Retrospectiva do Cinema Político Italiano que a Mostra trouxe este ano.
O cineasta equilibra comédia com metaliguagem, num filme que em momento algum quer fazer a denúncia pela denúncia simplesmente. Moretti quer, através de uma obra complexa e rica como essa, questionar os limites do poder, da farsa; ao mesmo tempo que aposta numa narrativa absolutamente intimista de um produtor de filmes "B" em completo estado de falência profissional e emocional.
Há muitas cenas sublimes em O Crocodilo, todas donas de uma riqueza visual tão deslumbrante que é impossível não embarcar nessa viagem cerebral de Moretti. Um exemplo é aquela em que Bonomo, dormindo em um dos cenários construídos para seu novo filme “O Crocodilo”, acorda com o estúdio sendo destruído por uma garra de um trator que poderia muito bem ser a boca de um grande crocodilo. O fato é que o cineasta, antes de qualquer coisa, foca seu filme na instituição do cinema e na briga de Bonomo, um produtor de direita, que vê no roteiro da novata Teresa (um roteiro sobre Berlusconi claramente de esquerda) a única chance de salvar seu estúdio, e será esse projeto, sua redenção. Sua luta pra conseguir filmá-lo é mostrada com doçura e ao mesmo tempo com doses cavalares de uma ironia fina e ácida. A relação que Bonomo tem com a mulher e os filhos é registrada com a mesma força intimista de outro belo filme seu, O Quarto do Filho.
O Crocodilo é, sem dúvida, um filme que eu gostaria que alguém aqui no Brasil tivesse peito e a inteligência de fazer. Não importa, pois apesar de tocar em um ponto específico da história recente da Itália, assim como toda obra de arte, fala de uma maneira universal. Segundo dia de festival, segunda obra-prima até aqui.
Cotação: *****
Rafael C. Parrode
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Diário da Mostra SP de Cinema: 1º Dia: 23/10/06

Uma das coisa mais bacanas dentro da Mostra é que, antes de cada filme, há uma pequena apresentação, em alguns casos, do próprio diretor ou de alguém ligado à produção do filme. Com isso, a aderência, o contato com a obra em questão acaba sendo mais fácil, porque acabamos ouvindo de pessoas de dentro da produção sobre o próprio filme. Foi assim com Diários de Perlov, em que a esposa do diretor falecido ano passado, Nora Perlov nos deu depoimento emocionante sobre a obra, e que, infelizmente só tive a chance de ver os dois primeiros episódios; e também com Proibido Proibir, em que Jorge Durán contou como foi a experiência de filmar os jovens brasileiros. Foi um dia marcado pela correria entre uma sala e outra, nos horários sempre colados e que exigiam que eu subisse ladeiras acima e abaixo a fim de chegar a tempo às sessões. Ainda assim, foi um dia gratificante por me colocar em contato com filmes tão diferentes, mas que vistos de uma só vez acabam por criar um vínculo interessante.

Diários de Perlov 1 e 2

Foi com esse filme que comecei o primeiro dia da Mostra, vendo as duas primeiras partes de um diário filmado, composto por seis episódios de uma hora cada, realizados pelo cineasta David Perlov, que morreu ano passado. Perlov, professor de cinema de uma universidade de Tel-Aviv, estava desapontado com os rumos que o cinema da década de 70 estava tomando, se tornando muito mais produto de publicidade e de ideologias baratas, do que uma expressão artística. Com isso, resolveu filmar o seu cotidiano e de sua família, bem como de tudo o que acontecia a sua volta. Nasceu assim Diários de Perlov,filme em que o cineasta registra, do período de 1970 até meados de 90, as banalidades do dia-a-dia, do cotidiano, do olhar a janela, do olhar as pessoas e seus rostos, do olhar a vida em sua plenitude.
Perlov consegue momentos de grande força, como quando filma as mulheres no muro das lamentações em alvoroço com o estouro da guerra do Yon-Kipur; quando filma Nora sua esposa em seus momentos de intimidade; quando visita um cemitério que se divide entre suicidas, velhos e vítimas de guerra; do seu reencontro com o passado na cidade de São Paulo (o diretor nasceu aqui) ou quando, no segundo ato, ele e sua câmara captam momento de grande força: sua filha voltando de viagem desiludida com o namorado. Diários de Perlov abriu de uma maneira quase surreal a minha chegada a esta Mostra que, em apenas um dia, se mostrou surpreendente, funcionando quase como um prólogo a esta maratona incessante de filmes que estou vivendo. Isso porque, antes de tudo, o filme é sobre a paixão de se filmar, de se documentar via imagens as coisas mais simples, e por isso mesmo, mais carregadas de mistério e fascinação.
Cotação:****


Mary

É difícil falar sobre esse novo filme de Abel Ferrara. Primeiro, porque é o mais complexo de seus trabalhos e por isso merece muitas revisões. Segundo, porque é um Ferrara que parece estar mais ligado ao cinema dito de arte do que ao de gênero que ele se consagrou fazendo, como o policial, a ficção científica e os filmes de ação.
Entretanto, é um Ferrara no pleno domínio da linguagem cinematográfica. Ele consegue criar cenas que simplesmente seriam impossíveis de se colocar no papel, numa consciência impressionante da misé en scene.
Muita gente andou criticando o filme por não ser tanto sobre Marie (Juliette Binoche), que após interpretar Maria Madalena em um filme sobre a vida de Cristo, resolve largar tudo pra se encontrar com a fé e com Deus, mudando-se para Jerusalém. Não é de graça que Ferrara abre seu filme com a cena em que Jesus ressuscita e pede a Maria que avise a seus discípulos, no filme dentro do filme que é "In My Blood", dirigido por Tony Childress (interpretado por Mathew Modine que hora parece um alter ego de Ferrara e outra uma caricatura de Mel Gibson). Mas o filme na verdade tem três protagonistas e é em torno deles que a trama irá girar. Portanto, além de ser um filme de Marie, é também um filme de Tony e do apresentador de TV Theodore (o sempre estupendo Forest Whitaker) e seus questionamentos sobre fé, raça, sexo e Deus. Na verdade, pra mim, Ferrara disse muito sobre o papel da mulher na sociedade (e isso pouca gente percebeu) e sobre essa busca incessante pela verdade sobre Cristo, quando nos esquecemos dos reais ensinamentos do "mestre" que é simplesmente amar o seu próximo. É claro que Ferrara não cai nas facilidades desses temas tão batidos e vai muito além, porque mesmo buscando a redenção e a fé, cada personagem ainda enfrenta momentos de grande violência, dúvida, sempre emoldurados pelas imagens impecáveis que se fundem umas às outras através de sua montagem maravilhosa.
Ferrara também nunca se esquece de falar de Nova York, o que me lembrou bastante em alguns momentos, de outro filme brilhante seu, X-Rmas (Gangues do Gueto). Mas e a trama? Theodor é um apresentador que está fazendo uma série de programas sobre Cristo. Quem foi ele? Quem foram seus verdadeiros discípulos? E quem e por quê mataram-no? São essas algumas das perguntas do apresentador que são respondidas por teólogos e estudiosos de verdade. Theodor é um homem como qualquer outro, trai a mulher, tem suas dúvidas, seus impasses. De outro lado está Tony, diretor megalomaníaco, que vem sofrendo críticas a seu filme por mostrar um Cristo bem diferente do que as escrituras diziam. E por último Marie, atriz famosa que larga tudo pra se entregar aos ensinamentos de Cristo. Ferrara entrelaça a vida desses três personagens os colocando frente a frente com suas dúvidas e fraquezas, e por isso, o filme é muito menos sobre Deus, Cristo e religião do que sobre seres humanos, que erram, se redimem e erram novamente. É um filme denso, forte, que acumula seu poder nas suas imagens impressionantes. A primeira obra-prima do festival.
Cotação:*****

Proibido Proibir

O cinema nacional andava carente de filmes que falassem diretamente com o universo dos jovens, sem aquele olhar deturpado global de Malhação. Jorge Durán então, reúne sua turma de alunos e ex-alunos de cursos de cinema ministrados por ele, pra falar sobre uma fase decisiva na vida dos jovens: a universidade. Não é sem razão, que ele centra seu filme em 3 personagens, Paulo (Caio Blat inspirado), amigo de León (Alexandre Rodrigues), que namora com Letícia (a sempre graciosa Maria Flôr). Paulo faz medicina, o que dá ao filme um tom mais humano, mais carnal. León faz jornalismo, é negro (e o melhor da sala) e me parece ser o personagem mais frágil e unidimensional da trama, pois será ele quem vai lidar com o elemento "denúncia" do filme. Letícia, por sua vez, é o olhar estético que Durán imprime em seu filme. Ela faz arquitetura, e será pelos olhos dela que veremos os personagens se relacionarem com o espaço a sua volta. Ela é, sem dúvida, o link estético que Durán precisava pra fazer um filme que lidasse com a imagem de uma maneira menos óbvia, investigando os espaços, a arquitetura decadente do Rio e conseqüentemente, seus personagens e suas ações. É um filme que carrega alguns problemas consigo, em parte pelo elenco secundário e também pelo terço final, que desvia o filme de sua seara humana pra fazer uma denúncia que já estava sendo feita ao longo de todo o filme, com mais sutileza. Nada porém que soe gratuito. Proibido Proibir é um filme acima da média por lidar de maneira mais próxima com o jovem, sem ser burlesco, caricato.
Cotação:***

O Violino

Filme mexicano, com forte tom político. Segue a vida de três gerações de uma família de camponeses (avô, pai e filho), músicos, num momento complicado da história recente do México em que o exército, à procura de guerrilheiros rebeldes, expulsa camponeses de seus vilarejos e os assassina, à procura de informação sobre a guerrilha. É dessa forma que Genaro, que ganha a vida tocando violão em bares junto com seu pai Plutarco - que mesmo com uma só mão, toca seu violino enquanto Lúcio seu neto, recebe o dinheiro das pessoas que estão em volta - tem sua mulher e filha capturadas pelo exército e levadas para casas de prostituição na cidade. A princípio, o filme parece carregar alto tom maniqueísta, distinguindo de maneira fácil e óbvia, os bons dos maus. É essa, por exemplo, a diese de uma das cenas mais bonitas do filme, quando Plutarco, sem saber o que responder ao neto sobre sua mãe, conta uma estória sobre os homens bons e os homens gananciosos, quando Deus mandou que os homens de bem lutassem contra os invejosos e maus, a fim de recobrar a paz na terra. A câmera, que a princípio está fixa em avô e neto, se afasta e num movimento lento, enquanto a estória é contada pelo velho, vai passando pela fogueira e subindo em um tronco de árvore até se fixar na lua.
Filmado em um preto-e-branco granulado, mas que às vezes parece colorir todas aquelas paisagens, o filme ganha força na figura serena do velho Plutarco, homem sábio, artista, de rosto marcado e de olhares profundos. Interpretado belíssimamente por Don Angel Tavira, prêmio de melhor ator em Cannes na mostra Un Certain Regard. É um filme irregular na sua composição, mas que carrega sua força nos personagens que parecem vindos do neo-realismo italiano. E se antes, o diretor Francisco Vargas parecia tratar tudo de maneira maniqueísta, ele se redime quando Plutarco, a fim de buscar sua nora e neta, conhece o comandante do exército e passa a ensiná-lo a tocar violino. O comandante que, a princípio, era um tirano, parece amolecer diante daquele homem tão sábio e cheio de vida que é Plutarco, e se mostra humano ao menos em uma cena do filme. O Violino fecha, assim, esse promissor primeiro dia da Mostra de maneira doce e dura ao mesmo tempo, numa obra que, se está longe de ser uma obra completa, é ainda assim um filme e tanto.
Cotação: ***
Rafael C. Parrode
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