segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Síndrome do Fantástico... para além da pipoca...

“Nosso medo mais profundo não é sermos incapazes. Nosso medo mais profundo é termos poder demais. É a nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos assusta...”

(do filme “Coach Carter”)

Busquei neste belo filme, em que Samuel L. Jackson interpreta um técnico de basquete de uma escola (acho que pública) americana, as minhas reflexões desta semana. Com toda a conhecida e repetida performance e produção hollywoodiana, os valores subscritos e explícitos nos vários diálogos dos jovens alunos-atletas de basquete daquela escola, nas cenas cortadas – mas que ficam no menu do dvd – nos critérios sobre o futuro de cada jovem ali personalizado, a pergunta que me instiga, e que é repetida por duas vezes durante o filme, é: “qual o seu maior medo?”. Essa pergunta era feita (por que será?) ao jovem de origem hispânica, de sobrenome Cruz.

O que me chamava a atenção neste filme e, em especial, nesta personagem, é justamente o desafio. Algo na linha – como já escrito em outra oportunidade neste espaço – do “mudar dói, mas não mudar dói muito”. Neste momento, minha reflexão tenta ser mais desafiosa ainda.

O que nos move a mudar e/ou o que nos move a não mudar, a permanecer no mesmo lugar, no mesmo sentimento, no mesmo ponto de vista de mundo? Alguns diriam, com o forte incentivo moral de nossa mídia tupiniquim, que é a força de vontade de cada um, aquela que está “dentro” de nós. Diriam, como costumamos escutar enfaticamente nos mais diversos programas matinais, dominicais etc’ais que, “se você tem um sonho, vá atrás dele”, “tens que ter força de vontade para conquistar seus sonhos, somente assim irá alcançá-los”, como se o mundo, a sociedade, as relações humanos fossem um grande oceano de oportunidades iguais para todos os 6 bilhões iguais neste mundo.

Outros diriam que está em nossa luz espiritual, bem no estilo “nasceu iluminado”. Para mais além, diriam (e dizem, principalmente, os “exemplos” de vencedores globais”) que “Deus foi bom comigo”, o que nos levaria a arriscada conclusão de que Deus pode não ser tão bom com outros – isso me lembra o sub-comandante Marcos, do EZLN, mas já é história para outro domingo.

Bom, meus ímpares parceiros de viagens do Arcamundo. Eu acho que o trecho em epígrafe traduz bem aquilo que não apenas acredito, mas que paciente e historicamente procuro defender todos os dias de minha vida e existência: o poder que temos dentro da gente é o que nos move e/ou nos imobiliza. Mais ainda, é o poder coletivo que temos que nos fortalece ou nos imobiliza... coletivamente.

Certa vez, comentei neste espaço um treco do livro “A Mãe” de Máximo Gorki – foi no artigo “Síndrome do Fantástico... meu convite...” de 26 de agosto último – um fantástico escritor do período revolucionário da extinta URSS. Citei um trecho, uma passagem realmente bonita e profunda da personagem de nome Pavel (“(...) a nós, nada nos impede de sermos interiormente livres (...)”), e é naquela passagem que me inspiro quanto penso no “poder que temos dentro da gente” e o quão é importante não apenas conhecê-lo, mas conquistá-lo e, acima de tudo, colocá-lo à disposição da construção de um mundo não apenas melhor, mas completamente diferente deste que assistimos debaixo da sacada de nossas janelas... mas é apenas um ponto de vista.

Assistir um filme, vez ou outra, nos provoca isso: revermos nossos sonhos (não apenas os nossos sonhos individuais, mas aqueles com a qual acreditamos serem úteis e verdadeiros para a humanidade), revermos os caminhos percorridos para chegarmos o mais perto possível destes sonhos, termos a certeza de quem está ao nosso lado e quem está contra nós por esses sonhos... Mas, também, sonharmos sempre juntos, como “sonho que se sonha junto, vira realidade”.

Temos muito o que sonhar... ainda bem...

Vida Longa!

P.S.: e lembre-se: se algo do que escrevi por aqui puder ser honrosamente usado por ti, em seus caminhos e descaminhos, não esqueça de citar-me, ok?