terça-feira, 31 de outubro de 2006

Editorial n° 02: Uma Arca de Metades


Como todo acontecimento na vida tem que ter um pontapé inicial, a Arca Mundo deu seus primeiros passos. Nossa edição de estréia nos orgulhou muito, nos mostrou o caminho que devemos seguir daqui pra frente e o quão divertido e rigoroso será ele! O mais difícil foi feito. A partir de agora, passaremos todos a outra fase, a de aperfeiçoamento e descobertas.
Buscaremos, aos poucos, uma identidade visual para a Arca e para nossos próprios textos.
Alcançaremos juntos e, ao mesmo tempo de maneira individual, nossas metades. Algo que nos complete e nos deforme, que seja rígido e esculachado, pensado e espontâneo, adorado e repudiado, lembrado e esquecido, poético e banal.
Na segunda edição,um dos nossos focos é o comportamento humano: temos um ensaio sobre a guerra, baseado no Mal Estar na Civilização de Freud, com a participação de Carollyne Almeida, que veio nos prestigiar. Maria Claudia Cabral nos fala sobre a dificuldade de relacionamento entre homens e mulheres nos dias atuais. Paulo Henrique dos Santos nos conta um pouco dos cines pornôs da cidade. E por falar em pornografia, César Guazelli estréia na Arca Mundo com o pé direito e novidades pornográficas do mundo dos quadinhos! Temos ainda, uma reportagem sobre as novas do Shopping Bougainville e, para quem estava se deliciando com a cobertura da Mostra de Cinema de São Paulo, ainda há mais textos por vir do diário de nosso correspondente cinéfilo, que já está de volta, com muita coisa pra contar!
Aos nossos leitores: sintam-se à vontade para fazer parte dessa mistura, para ser nossa outra metade, para comentar, criticar e sugerir. A evolução dessa Arca, com certeza, será muito prazerosa de se acompanhar!
“Que as palavras que eu falo não sejam ouvidas como prece nem repetidas com fervor, apenas respeitadas como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimento. Porque metade de mim é o que eu ouço, mas a outra metade é o que calo. “ Oswaldo Montenegro
Camila Pessoa
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Encontros e Desencontros


''Eu conheço tantos caras legais que me pedem para apresentar uma amiga legal para namorar, e tantas amigas que me pedem para apresentar um cara legal para namorar, por que essas pessoas não estão conseguindo se encontrar?''

Já há algum tempo ouço a queixa de que as pessoas não se encontram. Se há tantos homens em busca de um relacionamento bacana - e creio que há - e se há tantas mulheres sozinhas buscando seu par, por que eles não se encontram?

Uma das verdades possíveis é que homens e mulheres mudaram muito nas últimas décadas e, embora supostamente saibam quem são, ainda não sabem o que querem. Ficam espremidos entre a programação secular dos papéis aprendidos e reforçados por gerações e as conquistas alcançadas com a revolução sexual.

Querem a independência, leveza e auto-suficiência construídas pela carreira bem sucedida, mas sentem falta - especialmente os solteiros - do par-perfeito, da alma-gêmea, do modelo socialmente estabelecido da família feliz de fotografia (pai, mãe, 2 filhos – um menino e uma menina – dois carros na garagem, casa própria e apartamento na praia).

Chegam a ficar escravos desse holograma e a viver em função da busca incessante pela realização do modelo. A certa altura não importa quem seja o 'par-perfeito', importa que com ele formará a esperada família feliz.

Tal busca começa de mansinho, no final da década dos vinte anos. O tempo vai passando... ao entrar na era balzaquiana, a cobrança vai ficando mais premente e ao aproximar-se dos quarenta vira uma verdadeira caça ao tesouro, em que não importa se um gosta de praia e o outro de montanha, o importante é ser um par. O importante é constituir família. Se assim não é, um discreto sabor amargo surge na boca e a sensação de não-pertencimento toma conta, invade.

Por outro lado, outros disponíveis 'no mercado' – notadamente aqueles que já foram casados – oscilam tal qual um pêndulo entre a serenidade da vida sozinho e a angústia da solidão. Ora querem alguém, ora querem a auto-suficiência. Desejam um colo aconchegante numa noite chuvosa, mas não estão dispostos a negociar espaços, compartilhar conquistas. Construíram uma imagem idealizada de parceiro e vão, por tentativa e erro, experimentando as pessoas que encontram, verificando se encaixam no modelo.

Daí surgem as intermináveis listas de requisitos 'básicos', tais como: 'dormir do lado esquerdo da cama'; ' não gostar de Roberto Carlos'; ou idealizam o tipo de relação, querem, às vezes, um amor tatuagem. Enfim, esses requisitos 'imprescindíveis' para a felicidade a dois. Se não encaixa, se não atende aos requisitos 'básicos', é o fim daquilo que nem começou.

Alguém pode me dizer quem quer estar agarrado à pele de alguém nos dias de hoje, sem vida própria, totalmente parasita de outro alguém, sendo levado? Sem vontade própria, sem desejos, sem sonhos, sem caminho? Enfim...

''Você já ouviu Tatuagem, do Chico? Quero uma tatuagem como aquelas para mim.'' (Um homem, 28 de outubro de 2006)
''Eu não sou como tatuagem.'' (Uma mulher, 28 de outubro de 2006)
Maria Claudia Cabral
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Mais uma do Bruxo



O inglês Alan Moore, um dos mais virtuosos autores de quadrinhos de todos os tempos, é conhecido pelo seu visual cavernoso, hábitos estranhos e uma capacidade incrível de produzir obras primas. Entre seus trabalhos estão: Watchmen – talvez o melhor quadrinho já feito sobre super-heróis até hoje - V de Vingança - adaptado para o cinema pelos irmãos Wachowski contra a sua vontade e a fase áurea da série O Monstro do Pântano, em que aparece pela primeira vez o personagem John Constantine. A mais nova empreitada do autor é Lost Girls, obra polêmica ilustrada por sua mulher, Melinda Gebbie.
Lost Girls narra o encontro de três personagens célebres da literatura infantil às vésperas da Primeira Guerra Mundial para contarem suas aventurais sexuais da juventude. São elas Wendy de Peter Pan, Dorothy de O Mágico de Oz e Alice de Alice no País das Maravilhas. Daí, dá pra imaginar no vespeiro em que Moore se meteu. O Great Ormond Street Hospital, detentor dos direitos autorais de Peter Pan, acusou o autor de uso indevido da imagem de Wendy, o que resultou na proibição da obra no Reino Unido. Os grupos de direita e organizações conservadoras também torcem o nariz para o autor.
Nos EUA, Lost Girls foi publicado pela editora Top Shelf em duas reimpressões de 10.000 cópias, que se esgotaram rapidamente. No Reino Unido, a editora conseguiu permissão para publicar Lost Girls, mas, para isso, teve que negociar com o Ormond Hospital argumentando que uma batalha judicial seria danosa para as duas partes. A Top Shelf também pagou um valor não revelado para a instituição para a publicação da obra no Reino Unido, conforme determinação do parlamento britânico.No Brasil, a editora Devir adquiriu os direitos de publicação de Lost Girls, que deverá aparecer por aqui em 2007 em três edições: uma em março, uma em junho e uma em setembro.
Com Lost Girls, Moore mostra mais uma vez sua capacidade (e prazer) em incomodar os conservadores e a grande indústria. Criar pornografia (o autor faz questão de chamar Lost Girls de pornográfica) com ícones do imaginário infantil é uma manobra arriscada. Ao fazê-lo, Moore teve a consciência de sua influência e prestígio no mundo dos quadrinhos, o que por si só já garante a difusão da obra para além do cenário underground. Além isso, fazer um trabalho erótico tendo como ilustradora a própria esposa é, no mínimo, excêntrico. Agora é só esperar.

Para quem estiver com pressa, aqui vai o torrent de Lost Girls:
http://tp.searching.com/details/106178/Lost+Girls(Adult).torrent?id=106178&nothing=Lost+Girls(Adult).torrent
César Henrique Guazelli
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O Cinema que de santo só tem o nome


“Foi uma alegria a notícia do primeiro cinema de Goiânia, que se chamou Santa Maria. Feito em 1939 às pressas e com pouco recurso, constou o cinema de sala enorme, tosca, sem declive algum. Quanto mais atrás se sentava, maior o sofrimento. Parece que para a aquisição das cadeiras, o critério adotado foi o ‘vale tudo’, porque havia cadeiras de tábuas, de palhinhas, de pés lisos, pés retorcidos, encosto alto, encosto mais baixo, de todo jeito enfim. Essas cadeiras eram soltas, independentes, sem ligação que as prendesse umas às outras. E isso, que pode parecer um defeito, para nós foi um benefício. É que podíamos afastá-las caso em nossa frente se sentasse uma pessoa avantajada. E nos dias de chuva é que a coisa funcionava. As goteiras eram muitas e estar dentro do cinema era quase o mesmo que estar do lado de fora. Cada qual procurava então, arrastar sua cadeira para os lugares mais secos e ninguém ouvia bulhufas do filme, porque o barulhão do arrasta pé não deixava”

Retirado das memórias datilografadas de Marilda de Godói, 82 anos, pesquisadora, membro da Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás e moradora do Centro de Goiânia desde os 11 anos.


É uma tarde chuvosa de outubro. Estou dentro do carro procurando alguma coisa inexistente. Na verdade, quero tempo para criar coragem e entrar no cinema. Mas todo esse receio para se entrar numa simples sala de cinema? Não é qualquer um. Trata-se do Cine Santa Maria, o mais antigo cinema de Goiânia e há cerca de 15 anos, um dos cinemas pornôs mais famosos da cidade. Infelizmente, a coragem não foi suficiente. Mesmo sabendo que a matéria deveria ser entregue em menos de uma semana.
Um dia se passa e estou eu novamente no mesmo lugar, estacionado a poucos metros do estabelecimento. Dessa vez estou acompanhado de mais dois colegas de jornalismo que me abstenho de citar os nomes. Um deles me grita lá de fora dizendo para sair do carro. Não há motivos para tanto nervosismo. Afinal, que mal há em entrar num cinema cujos filmes exibidos não são os que normalmente estão em cartaz nos cinemas do shopping? Se encontrasse com alguém ali eu poderia muito bem me passar por intelectual e dizer que estava fazendo uma pesquisa etnográfica. Mas pensando bem, a pessoa que também estivesse ali estaria mais constrangida que eu.
Saio do carro e vou andando rumo à entrada. Por pouco não passo reto. Se não fosse um puxão dado na hora certa, essa pauta já estaria caída a algum tempo. Na recepção há um pequeno número de funcionários. Um na bilheteria e três na roleta. Procurei não pensar no que os três imaginaram de nós. Fingi dar uma olhada na programação e escolhi um dos três filmes que estavam anunciados no momento. Cometo minha primeira gafe. Num cinema pornô, você não compra as entradas individuais. Você compra uma espécie de passaporte que te dá direito a assistir a todos os filmes. Corrigido o erro e alguns sorrisos sem graça depois, estamos nós passando pela catraca que, pra piorar a situação, trava, fazendo com que essa, que deveria ser uma travessia rápida, dure alguns minutos e prolongue o constrangimento.
Resolvido o problema com a roleta, caminhamos rumo à sala. No hall de entrada vejo um freezer de cerveja no local onde deveriam ser vendidas pipocas e jujubas. Pelo menos uma coisa o cinema pornô tem de melhor em relação ao cinema tradicional: vendem-se cervejas. Igual aos cinemas europeus. Preferi não tomar nenhuma, apesar de que talvez o álcool pudesse aliviar um pouco a tensão do ambiente.
Já estávamos dentro da sala. Ela é um pouco mais clara do que nos cinemas comerciais. O som é bem razoável. Ouvem-se os gemidos dos atores com clareza. Algumas modificações foram feitas da época em que ele era freqüentado por Marilda de Godói, até atualmente. No lugar das cadeiras móveis foram colocadas poltronas acolchoadas e imóveis. Sentar nelas? Não, obrigado. Estou bem em pé.
O cinema não estava muito freqüentado. Havia um grupo de travestis que circulava pela sala animadamente. Outras estavam acompanhadas nas cadeiras. Infelizmente, de algumas delas não pudemos ver o rosto. Também em pé, mas escorados nas paredes, havia homens de todos os tipos. Alguns bem caricatos. Outros que certamente estavam ali clandestinamente. Havia também vários que ainda estavam com o uniforme de trabalho. Por motivos óbvios, não encontramos nenhuma mulher lá dentro.
Uma coisa me chamou a atenção. Se o local era com certeza um ambiente freqüentado por homossexuais, por que os filmes exibidos eram heterossexuais? Até os cartazes na entrada comprovavam que toda a programação do dia era hetero. Não consigo acreditar em nenhuma outra explicação que não seja a de que até os cinemas pornôs ainda são moralistas. Infelizmente.
O contato entre as pessoas é muito rápido. Não mais que algumas poucas palavras. Talvez nenhuma palavra. Os que se entendiam iam direto para algum lugar mais reservado para se entenderem ainda melhor. A sala cheira a sexo. O nível de insalubridade é muito grande. Não sei como um ambiente daqueles conseguiu o alvará da Vigilância Sanitária.
Alguns minutos depois saímos da sala. Cheguei à conclusão que tudo o que precisaria para escrever esse relato já tinha obtido. Além disso, alguns olhares cobiçosos começaram a se direcionar ao nosso rumo. É melhor evitar problemas. Afinal, nós que estávamos invadindo o local e ninguém sabia que nosso objetivo ali era buscar informações para uma matéria jornalística. Nem tão jornalística, na verdade.
Enfim, após essa visita ao Cine Santa Maria, posso ter certeza que o cinema freqüentado pelos pioneiros de Goiânia já não existe mais. Assim como aconteceu com todo o Centro, a degradação já chegou às salas cinematográficas mais antigas há algum tempo. Assim como o Santa Maria, existem pelo menos mais dois outros cinemas que se tornaram pornôs. Os que não viraram pornôs, viraram igrejas. Então, para quem quiser assistir um filme mais “família”, é melhor procurar o shopping mais próximo.

Cine Santa Maria
Endereço: Rua 24, quase esquina com a Anhanguera
Horários: das 13 às 20 horas
Preço – R$: 6,00
Classificação etária de todos os filmes: 18 anos
Paulo Henrique dos Santos
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Por que a guerra?




Imagine all the people living life in peace.
John Lennon

“Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?” (Por que a guerra?, Einstein, p.193)

A agressividade é algo inerente ao homem e dela provém, inclusive, a origem de nossa civilização, uma vez que a mesma, com suas leis, regras e imposições, surgiu para conter os impulsos agressivos do homem e permitir que fosse possível a convivência em comunidades.

O ser humano é naturalmente egoísta, daí sua agressividade. Ele é incapaz de ser completamente altruísta, de pensar em irmandade e seguir o mais notório mandamento cristão, “Amar ao próximo como a si mesmo”. Na verdade, o mais correto, segundo Sigmund Freud, seria “Amar ao próximo como ele me ama”. O amor completo e gratuito ao próximo é algo impossível, utopia, pois o ser humano só é capaz de amar, se ele encontra no próximo características de si mesmo, ou seja, se ele se vê ou vê seus ideais de vida no próximo. “Ela merecerá meu amor, se for de tal modo semelhante a mim, em aspectos importantes, que eu me possa amar nela; merecê-lo-á também, se for de tal modo mais perfeita que eu, que nela eu possa amar meu ideal de meu próprio eu (self)” (O mal-estar na civilização, Freud, p.114)

Se o homem fosse capaz de amar incondicionalmente, não haveria agressividade e portanto, nunca teria havido guerra. A forma encontrada pelo ser humano de conter a agressividade foi a criação de leis que regem e determinam a vida e impedem que todas as pulsões (Isso, Princípio de Prazer, Pulsão de Morte) sejam exteriorizadas.

O Isso é o repositório de todas as pulsões, onde ficam os desejos, a libido, o impulso de agir, de buscar prazer incessantemente, sem limites. O Supereu se desenvolve do Isso e domina-o, trata-se das inibições das pulsões. É o repositório das leis, a ordem máxima interiorizada e que não é a mesma para todos os indivíduos.

Através do Supereu a agressividade do homem é recalcada e vai sendo acumulada até certo ponto, quando o mesmo encontra alguma justificativa para exteriorizar essa agressividade. Podemos dizer, portanto, que a guerra é nada mais que uma válvula de escape de toda agressividade recalcada. Muitos homens justificam sua participação em guerras porque foram seduzidos por alguém ou alguma ideologia. Só que para ser seduzido é preciso se deixar seduzir, ou seja, toda justificativa não passa de uma desculpa banal.

Não seria absurdo afirmar, portanto, que a guerra é uma busca, mesmo que inconsciente, pelo prazer. Segundo Freud, Princípio de Prazer é uma busca incessante pela satisfação sem limites e também uma forma de evitar o desprazer, sofrimento. Frente ao Princípio de Prazer, temos o Principio de Realidade, que nada mais é que o Princípio de Prazer adaptado ao mundo real. “Um homem pense ser ele próprio feliz, simplesmente porque escapou à infelicidade ou sobreviveu ao sofrimento, e que, em geral, a tarefa de evitar o sofrimento coloque a de obter prazer em segundo plano.” (O mal-estar na civilização, Freud, p.85)

O homem só consegue distinguir o prazer porque já experimentou o sofrimento (contraste), se a dor não existisse, não seria possível a alegria (satisfação) na sua ausência. Portanto, a guerra é uma busca de prazer, pois sem a guerra (sofrimento) não haveria paz (satisfação). “Nada é mais difícil de suportar que uma sucessão de dias belos” (Goethe) .

Outra possível causa da guerra, é a divisão da humanidade em grupos, nações, crenças, castas etc. Na maior parte das vezes, para conseguir unir um grupo, é preciso que se estabeleça, em comum, ódio a um outro grupo. Podemos citar vários exemplos, Hitler contra judeus, negros e homossexuais; atualmente, a briga entre Ocidente e Oriente, envolvendo o terrorismo e a idéia maniqueísta distorcida do mal contra o bem; os conflitos entre torcidas de futebol; e o próprio sentimento nacionalista exagerado, que coloca culturas e povos em confronto.

Se não houvesse uma divisão, se todos nos enxergássemos como homens, humanidade, irmandade e não como grupos que competem entre si, aí sim poderíamos eliminar a guerra da sociedade. Se nos amássemos incondicionalmente, talvez poderíamos controlar nossa pulsão agressiva e dar um verdadeiro sentido à noção de civilização. Contudo, isso se mostra utópico, pois o egoísmo humano nunca o permitirá “amar ao próximo como a si mesmo” e como a guerra sempre fez parte da história do homem desde o princípio, sem que fossem necessárias maiores justificativas, ela sempre se fará presente, até que consigamos pôr um fim a nós mesmos.
Camila Pessoa e Carollyne Almeida
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A volta por cima do gigante decadente


Investidores traçam perspectivas otimistas para a reabertura do Shopping Bougainville

A reabertura do Shopping Bougainville ao público, que estava prevista para o dia 24 de outubro, foi mais uma vez adiada. A nova data é 22 de novembro. O shopping será inaugurado oficialmente dia 21 de novembro com um evento restrito aos lojistas, funcionários e convidados. A mudança de data ocorreu por causa do atraso nas obras do espaço onde ficará uma das principais lojas, a Renner, e também devido à demora na entrega dos equipamentos para as cinco salas de cinema.
A decisão para a mudança de data ocorreu pelo consenso entre os lojistas e a direção do Bougainville, que acreditam em um impacto maior da abertura em uma única etapa. A inauguração parcial do shopping, de acordo com o superintendente do empreendimento, Walbis Suel, não exerceria o mesmo poder de atração junto ao público. Com o atraso na reabertura, também será possível a inauguração do shopping já com a decoração de Natal - em que estão sendo gastos cerca de 250 mil reais - e promoções de final de ano.
Dos 110 espaços reservados às lojas, 99 já foram locados. Os outros 11 ainda disponíveis são vistos pela direção do Bougainville como reservas estratégicas, que serão preenchidas conforme a demanda e as exigências dos consumidores. Além de lojas de Goiânia, também haverá estabelecimentos de Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte e São Paulo.
Durante o período de reforma, apenas a estrutura de concreto do prédio foi mantida. O interior foi totalmente modificado, incluindo a parte elétrica, telefônica, hidráulica, escadas rolantes e elevadores. O piso e decoração também foram alterados visando atender ao público alvo do empreendimento: as classes A e B. O azulejo, por exemplo, é todo em granito São Paulo e agora o Shopping tem três entradas e saídas de carros, sendo a principal toda coberta para embarque e desembarque dos clientes.
O Shopping Bougainville foi arrematado da massa falida da Encol em leilão pelo valor de R$14,78 milhões de reais por um conjunto de investidores formado pelo Grupo Orca, detentor de 40% das ações, Lacerda Par, com 20% das ações e um grupo formado por Merzian Construtora, Pinauto Veículos, Linknet e Agropecuária Stival, que juntos têm 40% das ações. Os empreendedores investiram um total de 40 milhões de reais enquanto os lojistas desembolsaram cerca de 15 milhões na montagem de seus estabelecimentos.
Inicialmente, a compra efetuada pelos investidores correspondeu a 70% das ações. Os outros 30% pertenciam ao Fundo de Previdência dos Funcionários da Caixa Econômica Federal (Funcef). Para garantir o controle total sobre o empreendimento, os sócios compraram o restante do shopping, garantindo a posse de 100% das ações.
Estima-se que, após sua reabertura, o Bougainville receba cerca de 600 mil pessoas por mês, valor que deve aumentar consideravelmente em datas como o Natal, Dia das Mães e Dia dos Namorados. O shopping deverá gerar aproximadamente 3,6 mil empregos, sendo 1,1 mil diretos. Este número poderá aumentar de acordo com o crescimento do volume de vendas e a consolidação do novo empreendimento.
Antes do fechamento para reformas, o Shopping Bougainville, inaugurado em 1990, passou por um longo período de crise, agravado com a abertura do Goiânia Shopping, em 1995 e a falência da Encol, em 1999. Durante esses anos, não conseguiu manter o volume de vendas necessário à sua manutenção e satisfação de seu público alvo, as classes A, B e C, e acabou se tornando ponto de encontro do público alternativo, especialmente jovens, atraídos pelo cinema e café Lumiére e pelo pequeno movimento.
Em 2001, foi arrendado pela Lagoa Verde, empresa especializada em revitalizar empreendimentos, já então com apenas 54% da área reservada para lojas locada. A empresa não obteve os resultados esperados e no dia 20 de dezembro de 2004 o Bougainville foi a leilão com o valor inicial de R$ 10,5 milhões. Não houve negociação, pois o grupo de investidores achou o valor inviável frente à relação custo-beneficio. O shopping passou então por um ano de crise aguda até ser arrematado dia 15 de dezembro de 2005, quando foi fechado para reformas.


César Henrique Guazelli
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