terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Editorial nº 08: Sem maiores interferências...

Me parece medíocre esse editorial, mas sinto como se não tivesse nada demais a dizer. Esta edição está diferente.... pude ler cada texto de uma maneira, cada um dentro do assunto que objetiva abordar.... portanto, não pretendo induzir qualquer interpretação... apenas leiam e sintam cada análise, cada poesia, cada novidade com uma empolgação ímpar.... sem maiores interferências e curtindo cada linha da minha mediocridade.... boa leitura a todos! Ah! Só mais uma coisa.... declaro abertamente a falta que nos fazem os textos dos demais ilustres escritores da Arca Mundo... saudades de vocês, e voltem logo!
Camila Pessoa de Souza
Copyrigth Arca Mundo. Todos os direitos reservados.
“Todo estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. [...]

Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de suas paisagens. [...]

De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Tem de ser duas paisagens, mas pode ser – não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem – que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior. [...]”.

(Fernando Pessoa)


A ausência das nuvens


Dias ensolarados nos lembram felicidade
Ou sono, que ao sol coube dissipar e não pode.

Dias nublados nos lembram dias nublados...

Mas no dia nublado de hoje
Eu lembrei da felicidade.

Esse descompromisso compromissado em sorrir por instantes.
Um desleixo preocupado em ouvir a dor do outro
E esquecer-se das próprias fadigas cotidianas.

No dia nublado de hoje eu lembrei de você
E tive seu rosto frente aos meus olhos
Suas mãos postas sobre minha força contida
E toda sua inconstância esmiuçada na minha amargura de viver
Com a sensação do tempo pela metade.

E lembrava daquele momento na brisa da tarde
De um dia nublado que nasceu ensolarado.
E de sua dor que já é minha.

Maria Clara Dunck
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IÉ! Preacher na HBO!



Está confirmado: Preacher realmente vai virar uma série pela HBO, com uma hora de duração por episódio. A data de estréia é indefinida, mas já se sabe que o roteiro do piloto ficará por conta de Mark Steven Johnson, que assinou Demolidor e O Motoqueiro Fantasma (este estréia em março de 2007). Os criadores da série em quadrinhos, Garth Ennis (roteirista) e Steve Dillon (ilustrador), serão co-produtores da empreitada da HBO.
Eu, particularmente, estou bastante otimista com a série. Não só porque Preacher tem um argumento maravilhoso e reinventou o arquétipo do anti-herói (e é um dos meus quadrinhos favoritos, sem dúvida), mas também porque a HBO, atualmente, produz as melhores séries que tenho visto. Deadwood e Rome, por exemplo, deixam para trás – e muito – a grande maioria de suas concorrentes sem grandes dificuldades. Outro bom motivo é a inclusão de Ennis e Dillon na equipe do seriado, o que enriquece muito a adaptação (é só ver o resultado de Sin City, acompanhado de perto por Frank Miller), ao contrário do que aconteceu com Alan Moore, que viu uma a uma de suas séries quadrinizadas serem acompanhadas por péssimas adaptações para o cinema, salvo algumas exceções.
Para quem não sabe, Preacher é a série que lançou Ennis no estrelato, sendo escrita de 1995 a 2000 e perfazendo um total de 66 edições. A história gira em torno de Jesse Custer, um pastor possuído pela entidade Gênesis, uma criança nascida da união entre um anjo e um demônio. Sua voz tem um poder parecido com a palavra de Deus, que faz as pessoas o obedecerem forçadamente e sem questionamentos. Ele fuma demais, bebe demais, diz palavrões em excesso e é acompanhado por Tulipa, sua ex-namorada que reencontra anos depois e Cassidy, um vampiro que nada tem do estereótipo do espécime, é obsceno, recheia seus diálogos de fucks, bebe demais e dorme na carroceria de uma caminhonete sob uma lona. Jesse é perturbado por anjos burocratas que estão atrás de Gênesis para aprisiona-lo enquanto procura Deus, que sumiu no mundo, para buscar explicações e saber porque ELE abandonou sua criação.
Garth Ennis, como a maioria dos bons roteiristas da atualidade, é Inglês (na verdade, é da Irlanda do Norte), e não tem papas na língua. Seus quadrinhos são fortes e bastante críticos, esculachando qualquer forma de moralidade (e a cristã é apenas uma delas) e com um senso de humor (negro) bastante aguçado, criando personagens como Billy Bob, o amigo de Jesse Custer na infância que era todo deformado pois sua família casava entre si para ‘preservar a linhagem’. Agora é torcer para a série de TV ser tão boa quanto sua versão original, mas não igual (como a maioria dos fãs de quadrinhos chatos e bitolados exige), pois isso nada acrescentaria.
AAAhh... só mais uma curiosidade: Jesse Custer, o pastor protagonista de Preacher, é assombrado pelo fantasma de John Wayne, que conversa com ele, lhe dá dicas e o segue desde seus cinco anos de idade.
César Henrique Guazelli.
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NAMORO OU (E) AMIZADE




‘’ Amor é um livroSexo é esporteSexo é escolhaAmor é sorte...’’
(Rita Lee)



Bem que tentei, mas não foi possível deixar o assunto da edição anterior. Inaugurando a almejada interatividade a que se propôs Arca Mundo, voltaremos ao tema. 
Alguém comentou sobre o porquê não namorarmos nossos melhores amigos – apresentou como razões a possessividade, o rótulo do compromisso, a fidelidade – e atenção, desavisados, fidelidade não é lealdade - que surgem em razão do sexo. Fica a pergunta a martelar a minha cabeça: por que o sexo altera as relações a ponto de gerar expectativas e posse?

Em última análise estaríamos admitindo que há um abismo entre relações afetivas e relações sexuais. Mais que isso, estaríamos admitindo que o sexo macula o companheirismo, a confiança, o afeto, a parceria. De novo me pergunto: por que?
É como se ao entregar o corpo, surja o direito de ter direitos sobre o outro. Por que? Ao mesmo tempo, por que ao expressar afeto fisicamente por alguém necessito de um rótulo para designar aquela relação? Rótulos são o termo de posse? Não saberia responder a nenhuma das questões aqui propostas, aliás, foram postas para reflexão.

Certo é que enquanto sexo for uma ‘selva de epiléticos’ deixaremos de viver grandes histórias ou destruiremos umas tantas outras. Enquanto buscarmos garantias para nos entregarmos, seremos escravos de nós mesmos. Enquanto acreditarmos que podemos ter a posse de alguém – com ou sem sexo – estaremos aprisionados à ilusão de que somos Deus e podemos controlar algo além de nossos egos desgovernados. Pior que tudo, sofremos com isso.

...mas este ainda é o mundo em que vivemos, cabe a nós tentarmos mudar – não o mundo, não o outro – a nós mesmos e nossas atitudes diante das relações.

‘’...É, amores vêm e vão, amigos são para sempre’’ ( Uma mulher, 12 dez 2006).

‘’Se é para amar, siga amando os seus amigos, eles não te desapontarão enquanto forem amigos’’. (Um homem, 13 dez 2006).



Maria Claudia Cabral.
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