quarta-feira, 4 de abril de 2007

A solução ainda é a Diplomacia

Depois da Guerra no Iraque, a população mundial teme que o conflito gerado entre Irã e Estados Unidos devido ao programa de enriquecimento de urânio do país persa, culminem em um novo conflito armado no Oriente Médio. Nos últimos dias o quadro de tensões se agravou devido à prisão de quinze marinheiros britânicos no Golfo Pérsico, sob a acusação de invasão de águas iranianas. Os marinheiros continuam sob o poder de Teerã, o que ocasionou séria crise diplomática entre Irã e Reino Unido.
O país persa possui 9% das reservas mundiais de petróleo, além de vastas reservas de gás natural. Mas a economia não tem ido bem, e o governo de Teerã enfrenta o desafio de reduzir a inflação e o desemprego, que atingiu cerca de 11,2% da população em 2004, segundo pesquisa divulgada pela Folha de São Paulo. Tais fatores já seriam suficientes para justificar interesses de países de primeiro mundo na região. Além disso, no ano passado, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, anunciou que havia conseguido enriquecer urânio pela primeira vez, na quantidade de 3,5% do material processado. O governo afirmou que desejava produzir energia nuclear pra diversificar suas fontes de energia e não precisar mais importar de fornecedores estrangeiros. Teve então, início a mobilização de países como EUA para impedir o enriquecimento de urânio no Irã.
O enriquecimento de urânio em níveis baixos é capaz de produzir combustível para reatores nucleares, mas em quantidades elevadas, pode ser usado em bombas. A quantidade necessária para produzir uma bomba nuclear é de 90%. Sendo assim, não existem provas concretas ou indícios reais de que o país esteja interessado ou que tenha condições de desenvolver armas nucleares. Mas o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas – ONU - , afirma temer que o Irã , sigilosamente tente desenvolver uma bomba.
O Irã faz parte do Tratado de Não Proliferação Nuclear – TNP – segundo o qual, um país tem o direito de enriquecer seu próprio combustível para geração de energia nuclear com fins civis, sob a inspeção da Agência Internacional de Energia Atômica – AIEA. Ainda assim, no último dia 24, O Conselho de Segurança da ONU aprovou novas sanções ao Irã pela manutenção de seu programa nuclear. O pacote de sanções foca a exportação de armas, as ações do banco estatal Sepah e o comando de elite da Guarda Revolucionária do país. O Chanceler iraniano, Manuchehr Mottaki, diz que a resolução é "ilegal, desnecessária e injustificável".
Desde que teve início o conflito, EUA e Irã não cansam de demonstrar publicamente seu poderio armamentista, em testes e treinamentos militares que os governos insistem em definir como “rotineiros”, mas que explicitam uma espécie de diálogo entre as duas nações com o objetivo de provar suas forças e sua capacidade de defesa. Um dia antes do aprisionamento dos marinheiros britânicos, a marinha do Irã realizou treinos militares com o uso de submarinos e pequenas embarcações com lançadores de mísseis. Os treinos visariam mostrar poder de defesa para proteger o Golfo Pérsico e deveriam durar uma semana. Quatro dias depois, a marinha dos EUA também realizou exercícios militares no Golfo Pérsico, com o uso de navios, porta-aviões e aeronaves militares. O que nos remete às lembranças da Guerra Fria.
Tony Blair já afirmou algumas vezes que, caso a solução diplomática e imediata para o problema não seja possível, deverá ser tomada “uma posição mais dura”, mas descarta a realização de uma intervenção militar. Isso pode ser provado pelo decorrer dos dias em que os militares britânicos estão em poder iraniano. Se algo mais drástico fosse ser realizado, podemos acreditar que já o teriam feito, principalmente pelo fato de pedidos de libertação imediata vindos, inclusive da ONU, terem sido completamente ignorados pelo país persa.
Diante de toda essa situação e, levando em conta o contexto histórico, econômico e geográfico em que este conflito está inserido, podemos acreditar que, pelo menos por enquanto, os Estados Unidos e o Reino Unido não têm motivações e até mesmo coragem suficientes para realizar uma investida armada contra o Irã. Comecemos por todas as conseqüências negativas que a invasão do Iraque trouxe aos Estados Unidos: milhares de perdas humanas, com soldados morrendo diariamente em território iraquiano, a grande perda da popularidade de George W. Bush diante do seu eleitorado e da população mundial – que, diga-se de passagem, nunca gostou dele mesmo - , as perdas financeiras diante do estrondoso aumento do preço do barril do petróleo, dentre outros fatores que comprovam os inegáveis prejuízos dessa guerra. Mais uma invasão em terras do Oriente Médio agora seria absolutamente inviável.
Outros fatores a serem considerados são a superioridade territorial do Irã com relação ao Iraque, e, também, a superioridade do seu exército, com relação ao do país invadido. Tudo isso dificultaria muito mais uma invasão a terras iranianas. Além disso, o Iraque encontrava-se internamente dividido por forças religiosas, a população estava separada entre xiitas e sunitas e vivia em meio a conflitos internos. Já no Irã, não existe esse problema: a grande maioria da população (89%) é de muçulmanos xiitas e o sentimento de nacionalismo nesse país é forte.
Muitos afirmam que o Irã pode estar blefando no que diz respeito à sua capacidade de enfrentar um conflito armado, mas é verdade, também, que o país possui influências na região e que, na possibilidade de uma guerra, poderia contar com reforços, o que levaria o conflito a proporções bem maiores do que as imaginadas e com conseqüências catastróficas.
Diante de tudo isso, um conflito armado e uma intervenção direta dos Estados Unidos no Irã agora, não interessaria a ninguém e todas as partes sairiam prejudicadas. Não há sinais de que o Irã vá desistir de seu direito de enriquecer urânio e de lutar contra as sanções que têm sido impostas àquele país. Também não há indícios de que libertarão tão facilmente os prisioneiros britânicos que se encontram em Teerã. O ministro de Assuntos Exteriores iraniano, Manouchehr Mottaki afirmou, no último dia 24, sobre as sanções adotadas pelo Conselho de Segurança da ONU, que “A resolução se afastou dos propósitos declarados pelos patrocinadores e --com medidas contra as instituições de defesa, econômicas e educativas do país-- estão perseguindo objetivos além do programa nuclear iraniano". Afirmou ainda que o Irã não funciona com "ameaças e intimidações" e pediu aos membros do Conselho que "voltem ao caminho da negociação baseado na justiça e na verdade".
O Irã está se impondo internacionalmente, disso não tenhamos dúvidas, e ameaças “psicológicas”são realizadas diariamente de todos os lados. Mas ainda podemos acreditar que estamos longe de mais um conflito armado que desencadeia no mundo o medo da Terceira Guerra Mundial e do fim da humanidade. Também as grandes nações compartilham desse medo e com certeza, não subestimam tanto assim a soberania dos povos do Oriente Médio e suas capacidades. Tony Blair e George Bush terão que se esforçar bastante pra impor sua palavra e o medo sobre o qual governam, mas a saída ainda é a diplomacia como afirmam insistentemente os porta-vozes, nas edições diárias dos jornais. Enquanto isso, vamos vivendo o clima de Guerra Fria.

Camila Pessoa de Souza.

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