segunda-feira, 22 de outubro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... O racismo (parte I)...


“ ’Parece negro', o 'parece indio’, son insultos frecuentes en América Latina; y ‘parece blanco’ es un frecuente homenaje. La mezcla con sangre negra o india ‘atrasa la raza’; la mezcla con sangre blanca ‘mejora la espécie’. La llamada democracia racial se reduce, en los hechos, a una pirámide social: la cúspide es blanca, o se cree blanca: y la base tiene color oscuro”.

(Eduardo Galeano)

Esta semana fomos surpreendidos com uma notícia incrível: o Nobel de 1962, James Watson, co-descobridor da estrutura do DNA afirma em entrevista ao londrino Sunday Times, que “somos (quem, cara pálida?) pessimistas sobre o futuro da África porque todas as políticas sociais do Ocidente são baseadas no fato de que a inteligência deles seja igual à nossa, embora todos os testes digam o contrário. Pessoas que já tiveram de tratar com um empregado negro sabem que não é verdade!. (Carta Capital – nº 467; pg 21). Além desta com a qual consultei esta passagem, outros meios de comunicação também noticiaram a estrondosa descoberta científica de Mister Watson.

Porém, por mais que tenhamos testemunhado uma série de semanários comentando a estapafúrdia impressão genética deste pesquisador, tomou a direção de minhas reflexões um chavão que a tempos circula entre acadêmicos, professores, gestores públicos, educadores de todas as linhas: devemos respeitar as diferenças.

Em princípio, uma frase que nos remete a uma relação de respeito entre as pessoas, não importando a crença, a cor, a religião, os conceitos que defende, a deficiência etc. Neste caso, este chavão apenas reitera que as diferenças, inclusive as econômicas e sociais, devem ser mantidas; não importa se ele é pobre, devemos respeitá-lo... Algo parecido com os sorrisos distribuídos ao “Precinho do Carrefour” e o vidro do carro fechado para aquele “Andarilho”.

A manifestação, portanto, de um geneticista, Prêmio Nobel, com tão pouca cobertura da imprensa, no meu ponto de vista, provoca um efeito cascata perigoso: a ciência legitima o holocausto moderno, este, do século XXI.

Para além das belas e mágicas palavras de Eduardo Galeano acima descritas, lembro-me parcialmente de uma resposta do Sub-comandante Marcos a um repórter que, ao descobrir que entre seus milicianos guerrilheiros existia um homossexual (pode um guerrilheiros maricas????) e o grande líder zapatista respondia que o “maricas zapatista” era, também, um judeu no holocausto, um negro em navios negreiros com destino ao Mundo Novo, era um muçulmano nas ruas de Nova York, era uma mulher nas fileiras militares americanas, era um analfabeto dentro de um teatro e assim seguia.

Cabe a nós, pobres e tolos mortais, nunca nos esquecermos que a nossa luta contra o poder (expresso também em todas as formas de preconceito e racismo) é a luta de nossa memória de classe contra o esquecimento, parafraseando o mesmo Galeano.

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

PS.: Em encontrando o magnífico texto do Sub-comandante Marcos, reproduzirei neste espaço (por isso o “parte I” no título). E lembrem-se: estou colocando um ponto de vista sobre o racismo que, acredito, contribua com o debate. Lembre-se de mim caso venha reproduzir essas linhas.

domingo, 14 de outubro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... Desacostumado...

Em 2002, exatamente no dia 14 de fevereiro (aniversário de nascimento da companheira de Lênin, a educadora Nadezhda Konstantinovna Krupskaia), eu estava em minha defesa de dissertação, cujo título era “O Lúdico-revolucionário no MST: a prática pedagógica do Encontro dos Sem Terrinha”. Como todos os que vivem e/ou viveram esse parto de fechar uma monografia, uma dissertação ou uma tese, por mais organizado que estejam, é sempre nos meses que antecedem a defesa que as noites viram dias, os dias continuam dias e as horas passam rápidas e lentas, não necessariamente nesta ordem.

Durante os dois meses que antecederam minha defesa, estabeleci duas estratégias no quarto do apartamento em que morava (e que servia de escritório): a primeira, tinha a ver com meu rendimento intelectual que sempre foi à noite e, por isso, coloquei mantas densas nas janelas para que a sensação noturna fosse, a cada dia, se estabelecendo. A segundo foi deixar o violão bem ao lado, no pedestal.

Enquanto organizava a dissertação, seus capítulos, descrição metodológica, idas e vindas entre os capítulos, aquele parágrafo que demorou um dia para sair, novas consultas bibliográficas, retomar anotações de diário de campo, e-mail’s e mais e-mail’s com a orientadora etc., vez por outra botava tranqüilamente o violão no colo e começava a dedilhar pequenas melodias, novas ou já conhecidas por mim.

Eis que, numa manhã de uma longa e produtiva noite de trabalho, resolvo dar fruição aos pequenos dedilhados que deslizavam por aquelas seis cordas, já havia alguns dias. Saiu uma leve melodia, bem para violão mesmo, um pouco até fora de meu estilo que sempre busca batidas melódicas mais progressivas.

Toquei-a em público uma vez... há algum tempo não a toco e hoje fiquei buscando as notas. Encontrei-as parcialmente, mas lembrei com alegria o momento em que a compus.

Apresento “Desacostumado”:

Ando tão acostumado com a vida./ Desacostumado de não caminhar em frente, sem olhar p’ra trás./ Sem parar p’ra beber um copo d’água, cristalina./ Ando tão acostumado com a melodia que agora vou tocar/ que talvez nem fosse preciso cantar,/ só um zin-ze-za-du-iê-na-iê p’ra você,/ sempre acostumada a ouvir minhas canções ao pé de ouvido, debaixo da sacada do seu coração./ Em que pese minha nota desafiada.

Ando tão mal acostumado/ a ter idéias difusas, saudavelmente viajadas./ Um mundo sem perdedores, amores sem desamores/ e o anti-herói com anti-poderes/ que só consegue ver na Lua sua super-visão./ Imagens sem ilusão, / infinito e concreto pensamento/ abstrato quando meus dedos tocam você./ Minha viagem desafiada.

Não vale a pena eu me perder neste caminho./ Eu descaminho./ Não vale a pena eu perder este caminho.

Ando tão mal desacostumado/ a bem querer o que é longinquamente perto de minhas mãos./ Um abraço mais profundo,/ um sorriso intransponível, apaixonado./ Se penso em você, esqueço o seu nome/ e passo a imaginar nossos odores em contato./ Um beijo pelo tato,/ não existe nada mais desafiado.

Não vale a pena eu me perder neste caminho./ Eu descaminho./ Não vale a pena eu perder este caminho

Marcelo "Russo" Ferreira

PS.: Essa canção tem registro da letra e tem melodia própria. Mas, se alguém se arriscar de “reescrever” sua melodia, lembre-se da história destas letras amontoadas, melodicamente amontoadas... são de minha história.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Visão (Parte I)

''...o essencial é invisível aos olhos'' (Saint-Exupèry)








Perder a visão...Deve ser doloroso perder a visão. Sempre tive muito medo de duas coisas: perder a visão e perder a razão. Outro dia, na verdade há dois anos atrás, precisei fazer uma cirurgia nos olhos. Fiquei uma semana sem ver. Talvez tenha sido uma das melhores experiências da minha vida. Enxerguei coisas que antes não via.
Viver na escuridão fez-me valorizar os sons e as texturas como jamais ousara tentar. Passava os dias escutando cada ruído em torno de mim, conseqüentemente experimentei viver imersa no tempo presente. No tempo daqueles sons que me envolviam.
Aprendi onde é minha boca, senti a textura e o cheiro da minha própria pele. É verdade, eu jamais havia parado para saber como sou, que cheiro exalo, qual o sentido do toque em meus braços e pernas e joelhos e pés. De repente passei a buscar mais informações táteis a meu respeito. Vi com a ponta dos dedos meus próprios dedos, minhas mãos.
Não só minhas mãos, mas as mãos que me auxiliaram naquele período: o apoio, o carinho, a atenção e a segurança de que necessitava naquele instante, naquelas mãos. Aprendi, timidamente, a importância de confiar nas mãos que estão ao lado. Aprendi a aceitar o guia, ainda que hesitante e insegura. Notei que a entrega às vezes é necessária, e tinha de estar preparada para depositar em outras mãos, mesmo que brevemente, meu destino doce ou ocre.
Senti o cheiro forte do café pela manhã, passei a acordar com ele. Notava o cheiro ligeiramente morno dos dias ensolarados. Percebia o passar das horas pela temperatura, pela brisa. E o odor do mato seco, que invadia minha janela naquele setembro, teve outro senso.
...Percebi que passara a enxergar mais que antes. Naquele curto período de tempo em que estive confinada à escuridão, libertei-me. Alcei vôos incríveis por espaços desconhecidos. Vi além, vi por trás das cascas das árvores, por debaixo da pele dos bichos. Tateei a minha própria alma, abracei a alma humana e senti na ponta dos dedos e em cada milímetro de minha pele os espinhos e a rosa - sem um não há o outro.
Maria Cláudia Cabral
Respeite os direitos autorais. Se for citar, dê créditos à autora.




domingo, 7 de outubro de 2007

Síndrome do Fantástico... Hiram de Lima Pereira


"Temos orgulho de sermos filhas e esposa de Hiram Pereira"”

(Carta Aberta de Célia Pereira ao Cônsul da Venezuela – meados de 1960)


Essa semana, pela minha organização inaugurada mês passado, eu estaria apresentando mais uma de minhas pequenas viagens entre o papel e o violão. Mas, por conta da data, tive que abrir uma exceção, afinal, há 94 anos atrás, em 03 de outubro de 1913, nascia Hiram de Lima Pereira, na cidade de Caicó, no sertão do Seridó, Rio Grande do Norte.

O Velho Hiram foi dirigente e Deputado Estadual pelo Partido Comunista no RN – uma das maiores votações da legenda na época – redator do Jornal do Povo (órgão da imprensa oficial do partido), vogal numa das Juntas de Conciliação da Justiça do Trabalho sediada na capital pernambucana (depois de ter-se mudado para Recife em 1949), engajou-se ativamente na construção da Frente do Recife, que conquistou a prefeitura em 1955 com o engenheiro Pelópidas Silveira, cujo sucessor foi Miguel Arraes, eleito prefeito da capital em 1959 e governador em 1962. Hiram foi secretário municipal de Administração por três mandatos consecutivos. Somam-se as suas atividades políticas as atividades teatrais junto ao Movimento de Cultura Popular de Pernambuco (onde atuavam também minhas tias, mainha e painho) e no Teatro Popular do Nordeste, encenando “A Pena e a Lei” do bom e velho Ariano Suassuna.

Foi clandestino durante a ditadura militar que se instalou neste país (e que, sob alguns meios produtivos, como a mídia, ainda permanecem), usando o nome de guerra de José Vanildo de Almeida, um parente falecido. Tombou na luta (e em luta) em 1975, quando foi capturado e morto pelo DOI-CODI de São Paulo, na Rua Tutóia – onde me apresentei para exame médico quando do meu alistamento militar, 12 anos depois. Minha vó (que já não toca piano por essas bandas, mas já está fazendo cafuné no “velho”), meu pai, minhas tias foram presos neste período. Lembro-me um dia em que mainha, já tendo buscado eu e minha irmã (pequenos) na escola, foi reencontrá-lo na Padaria perto de casa, feliz da vida, enquanto eu não entendia o que havia ocorrido.

Minha memória me remete a apenas uma cena com o Velho, numa brincadeira “Serra, serra! Serrador! Serra a barba do vovô” em um final de noite, chego a apostar que era um domingo. Diz a lenda (quem citava isso era Paulo Cavalcante em “O causo, eu conto como o causo foi” e que com ele se engajou na Frente do Recife), que foi ele quem batizou minha irmã, fantasiado de “padre defensor das idéias da TFP” e ninguém desconfiou, só os mais próximos e atentos as peripécias teatrais dele. E foi só desconfiança...

Mas, o que mais me inspirou a escrever sobre ele – como se precisasse de alguma inspiração para este tema – foi um fato absolutamente inusitado, impossível de prever e que me aconteceu nesta última 6ª feira: estávamos, eu e meu amigo João Alberto, na IV Feira Nacional de Agricultura Familiar e Reforma Agrária em Brasília, aguardando o show do Cordel do Fogo Encantado, um grupo de corda e percussão que veio de Arcoverde (PE) para o mundo, quando encontro com Cássia Damiani, colega de trabalho e seu amigo que eu acabara de conhecer. Chamava-se Sandro e era de Caicó e conhece a história de meu avô. Falava-me que existe uma Praça na cidade – Praça da Liberdade – e que foi rebatizada com o nome de um generalzinho latifundiário local. Sandro revelou-me que, ante à nova denominação dada à Praça da Liberdade, resolveu escrever uma carta à praça e que, no corpo do texto, defendeu que se fosse para ser rebatizá-la, deveria se chamar Praça Hiram de Lima Pereira. Nada mais coerente, haja visto o nome de meu avô ser sinônimo de Liberdade.

Da história do Velho, há a ONG Hiram de Lima Pereira, com sede em Natal... A mais recente publicação, lançada pelo Governo Federal sobre os arquivos secretos militares, praticamente reitera que se escreveu em “Brasil! Nunca Mais” e o “Dossiê dos Mortos e Desaparecidos Políticos a partir de 1964”. Somam-se as várias cartas, fotos, artigos que minha Tia Sachenka me envia constantemente.

Não tive, portanto, a oportunidade histórica de conviver com ele, de aprender com ele, de aprofundar minha militância, minha prática política em defesa do projeto histórico socialista... Mas, mesmo assim, o acervo e a herança histórica, política, guerrilheira e popular que ele deixa (junto com tantos outros que ainda tombam nas trincheiras da luta da memória contra o esquecimento) são infinitas e, neste artigo, cabe-me apenas uma nova homenagem ao Velho...

Vida Longa a Hiram de Lima Pereira!

Vida Longa a Hiram LIBERDADE de Lima Pereira!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

Obs.: Este artigo é uma homenagem a todos os lutadores e lutadoras do povo. Que, como disse-me recentemente uma companheira de luta, na folha de um livro, tombaram na luta e, por isso mesmo, devemos lutar. Os direitos autorais são da história de meu avô.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... Lutamos e cantamos...

“Marchar é mais do que andar

É mostrar com os pés o que dizem os sentimentos

Transformar a quietude em rebeldia

É traçar com os passos o roteiro

que nos leva à dignidade sem lamentos”

(Marchar e Vencer – Ademar Bogo)

Essa semana que passou, por conta das inúmeras atividades em torno das “comemorações” da Semana Nacional do Idoso (que culminou com o seu Dia Oficial – 1° de outubro), acompanhei um Seminário sobre o Idoso que aprofundava o tema deste ano: Envelhecer com dignidade.

Em uma das mesas que acompanhei, lá estavam 62 anos de militância: Clara Charf, viúva de Carlos Mariguela.

Nesta mesma semana, recebo pelo correio um presente de minha Tia Hânya: a partitura e a letra (em tcheco, alemão, francês e inglês) da “Marcha da Juventude Democrática”, de 1947. Algo que o www.google... não localiza, não encontra, não entende.

Nestas últimas semanas, sentei numa mesa de bar e pedi uma cerveja. Quatro jovens do Planalto Central – Plano Piloto (acho) estavam sentados em duas mesas ao lado. “O maior kaô”, “o cara era chapado, mano”, “a festa hoje é na Tenda”, “só...”, “então...”. mas também visitei um assentamento do MST na Paraíba, para acompanhar a formação de jovens agentes que trabalham em coletivos de esporte e lazer. Lá escutamos, sim, Kalipso... Mas também falamos de conjuntura, de educação, de Paulo Freire, de trabalho coletivo, de organização, de direito... jovens camponeses.

Hoje, escutei Arnaldo Jabor na CBN... “esses belcheviques ultrapassados, que vociferam o socialismo que já ruiu...”.

Essas semanas eu pensei nos hinos que aprendi e o quanto eles nos são importantes, o quanto eles são atuais, o quanto eles são verdadeiros.

“Em todos os lugares a juventude está cantando a canção da liberdade (...) Nós somos a juventude e o mundo clama por nossa canção da verdade” (Marcha da Juventude Democrática tcheca).

“Avante sem receio / Que em todos nós a Pátria confia / Marchamos com alegria, avante! Marchamos sem receio. / Aqui não há quem nos detenha / nem quem turve a nossa galhardia. / Quem nobre missão desempenha / Temer não pode a tirania, a tirania”. (Avante Camarada – Antonio Sarno – por ocasião da marcha da Coluna Prestes).

“Somos o povo dos ativos / Trabalhador forte e fecundo. / Pertence a Terra aos produtivos, / Ó parasitas, deixai o mundo!/ Ó parasita que te nutres / Do nosso sangue a gotejar, / Se nos faltarem os abutres / Não deixa o sol de fulgurar! / Bem unidos façamos, / Nesta luta final, / Uma terra sem amos / A Internacional!” (A Internacional).

“Vem, lutemos! / Punho erguido / Nossa força nos leva a edificar. / Nossa Pátria, Livre e Forte / construída pelo poder popular” (Hino do MST).

Vida Longa aos Lutadores do Povo!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

Obs.: Os direitos autorais, neste texto, tem muito pouco de minha pessoa. Mas se o artigo de hoje contribuiu com sua história, citar-me é apenas um detalhe.

domingo, 23 de setembro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... o dia mais feliz de mainha e painho...

“...Vejo um berço e nele eu me debruçar/

com o pranto a me correr/

E assim chorando, acalentar/

O filho que eu quero ter”

(Toquinho e Vinícius)

22 de setembro:

Em 1921, o poeta búlgaro Ivan Vasov, faleceu.

Em 1928, o cientista Alexander Fleming descobriu a penicilina...

Em 1960, Mali torna-se um país independente.

Mas a luta por um mundo verdadeiramente justo e igualitário “presenteou” a história com seus necessários exemplos:

Em 1897, o então estado brasileiro, depois de anos de frustradas tentativas, assassinou Antônio Conselheiro no Arraial de Canudos. E sua história e luta se transformou em exemplo e lição de resistência e compromisso com o povo oprimido do Nordeste deste País.

Em 1958, o comandante cubano Fidel Castro declarou o não à farsa eleitoral do então presidente Fugêncio Batista, dando novo início a vitoriosa revolução cubana, ao lado de Che Guevara.

Em 1969, o ex-presidente socialista mexicano Adolfo Lopes Mateos faleceu.

Em 1972, o então presidente do Chile Salvador Allende nacionalizou a multinacional ITT e, quase um ano depois, foi assassinado no golpe militar de 1973.

Por outro lado, alguns caminhos pareciam ser diferentes, mas continuam os mesmos, como quando em um 22 de setembro o então Presidente Abraham Lincoln proclamou a liberdade aos escravos dos Estados Confederados da América, ainda que os negros do hemisfério norte continuassem escravos.

Na música, foi em um 22 de setembro que nasceu o violinista Dilermano Reis (1916), o cantor Gonzaguinha (1945) e Andréa Bocelli (1958).

Em 2006, ainda com um longo e difícil caminho pela frente, foi assinada a Lei Maria da Penha, sob o número 11.340.

Em tempos de avanço da tecnologia e da informática, do mundo globalizado e conectado pela Internet, são 65 comunidades de “nascidos em 22 de setembro” no orkut (e deve ser parecido com os demais dias do ano).

Foi em um 22 de setembro que Iran e Iraque iniciaram a guerra entre os dois países, em 1980 (e todos sabemos quem os EUA apoiaram e financiaram).

Nos calendários espalhados pelo mundo, 22 de setembro é o dia da juventude brasileira, de defesa da fauna, do contador, do técnico agropecuário, dos amantes (e das amantes). É o dia internacional sem carro, mesmo com os mesmos congestionamentos mundo afora.

Muitos nasceram em 22 de setembro: minha irmã agregada Silvinha (ou fui eu quem foi agregado???) nasceu a dez anos. Tive (os tenho) amigos e “não amigos” que nasceram em 22 de setembro... Pessoas famosas e não, lutadores do povo ou não nasceram em 22 de setembro... conservadores, direitistas, racistas de um lado, lutadores, revolucionários, socialistas do outro...

Em 22 de setembro de 1984, minha querida prima Tita partiu (e minha Tia Sachenca relembra que teve que brigar no hospital para que ela pudesse levar sua filha)...

22 de setembro... em alguns eu tava namorando... outros eu tava sem namorada... alguns eu passei meio que em branco... outros (como o último, no dia de ontem) junto com amigos e companheiros, pessoas infinitamente importantes na minha vida...

Não existe, necessariamente, nenhuma magia particular nesta data... Foi, na minha opinião lúdica, o dia mais feliz de mainha e painho... Eu nasci e, desde então, 38 anos de caminhadas... caminhos tortuosos, caminhos felizes, caminhos difíceis, alguns firmes em meus princípios, alguns talvez contraditórios... mas venho caminhando.

Mais do que a data, pelos fatos históricos (e existem outros) aqui apresentados, trata-se de um dia de revigorar não apenas as forças pessoais, mas as forças particulares e universais. É um dia que compartilhamos e, perto ou longe, é um dia em que minha memória procura os lugares e as pessoas, as vitórias e as tristezas...

Esse é o 22 de setembro de mainha e painho.

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

terça-feira, 18 de setembro de 2007

“Síndrome do Fantástico... a ciência...”

“(...) Que os trabalhos do homem são muitos, já ficaram ditos alguns e outros agora se acrescentam para ilustração geral, que as pessoas da cidade cuidam, em sua ignorância, que tudo é semear e colher, pois muito enganadas vivem se não aprenderem a dizer as palavras todas e a entender o que elas são, ceifar, carregar molhos, gadanhar, debulhar à máquina ou a sangue, malhar o centeio, tapar palheiro, espalhar adubo, semear cereais, lavrar cortar, arrotear, cavar o milho, cavar as craveiras, podar, argolar, rabocar, escavar, montear, abrir as covatas ara estrume ou bacelo, abrir valas, enxertar as vinhas, tapar a enxertia, sulfatar, carregar as uvas, trabalhar nas adegas, trabalhar nas horas, cavar a terra para os legumes, varejar a azeitona, trabalhar nos lagares de azeite, tirar a cortiça, tosquiar o gado, trabalhar em poços, trabalhar em brocas e barrancos, chacotar a lenha, rechegar, enfornar, terrear, empoar e ensacar, o que aqui vai, santo Deus, de palavras, tão bonitas, tão de enriquecer os léxicos, bem-aventurados os que trabalham, e que faria então se nos puséssemos a explicar como se faz cada trabalho e em época, os instrumentos, os apeiros, e se é obra para homem ou para mulher e porquê” (SARAMAGO – Levantado do Chão).

Um prefácio longo, mas um belo prefácio... Fui durante minha viagem à Recife (na hora do Fantástico, mas com atraso, por isso perdi o dia da publicação deste texto) que, na busca por palavras que pudessem abrir este artigo “dominical de segunda-feira”, reencontrei-me com o escritor lusitano numa de suas obras mais belas – Levantado do Chão.
Minha viagem à Recife motivou este tema, a ciência, e por conta de duas atividades, similares em sua forma, divergentes em seu propósito: a primeira, um congresso científico no campo da educação física – minha área – com um programa que envolve mesas, conferência, apresentação de trabalhos orais e pôsteres abordando os mais variados temas, conteúdos, diferentes referenciais teórico-metodológicos, Projetos Históricos antagônicos, com o protagonismo de estudantes, professores e pesquisadores. A outra atividade, e paralela a esta, é uma ação de formação de educadores do campo – lideranças da juventude campesina, alguns, talvez, semi-letrados – também na área de educação física, com uma certa especificidade para a formação para e pelo lazer.
Duas atividades tendo como pano de fundo a formação, mas o objetivo das pessoas que protagonizarão cada uma destas duas atividades serão possivelmente diferentes e o serão pela natureza destas pessoas e pela natureza das atividades.
Mas essas duas ações de formação me fizeram lembrar de minhas idas e vindas na minha pós (mestrado) e em todas as atividades que participei no campo da formação, principalmente de militantes culturais, agentes comunitários, educadores populares. Eu, um pretenso Mestre, nunca saí destas formações sem ter aprendido e muito. E não falo de pequenas lições sobre a simplicidade, sobre a humildade, sobre a superação de situações difíceis. Falo de uma significativa quantidade de informações, que completaram-se direta ou indiretamente, mas que se transformaram em conhecimentos “patenteados”, constituindo uma boa tuia de “descobridores” na Universidade.
Assim, quanto mais perto de sua raiz nós, pesquisadores, conseguimos chegar do conhecimento – mesmo em sua assertiva mais complicada (“conhecimento é poder”) – este transforma-se sob formas variadas, em linguagens múltiplas, e, neste sentido, essa semana tenho a impressão de que vivenciarei momentos distintos de um mesmo objeto de educação. O conhecimento em sua forma mais próxima da radical (no sentido de raiz) e o conhecimento em sua forma mais rebuscada, patenteada, publicada e, algumas vezes (já testemunhada durante o dia de hoje), complexificada ao ponto de “quanto menos as pessoas entenderem, mas poderoso eu serei”...
Conhecimento... eis também um importante instrumento de luta... Os idosos lutam, os jovens lutam, as mulheres, os índios, os quilombolas, os ribeirinhas, os Andarilhos... e, como diria Makarenko (já o apresentei em outras oportunidades), as crianças. É no conhecimento que penso quando leio sua magistral passagem educacional:
“(...) eles vão à luta (...) é uma grande felicidade, quando se pode ir à luta por uma vida melhor”.

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira.

P.S.: E por falar em patente, não se esqueça! Se usares este, lembre-se de falar d’eu, ta?

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Palavras são palavras...

PALAVRA. s.f.1. unidade da língua escrita, situada entre dois espaços em branco, ou entre espaço em branco e sinal de pontuação. 2. GRAM. unidade pertencente a uma das grandes classes gramaticais, como substantivos, verbos, adjetivos,etc; vocábulo.3.GRAM vocábulo ('unidade que se agrega').4. LING.EST. para o estruturalismo norte-americano, unidade mínima com som e significado que pode, sozinha, constituir enunciado; forma livre mínima, vocábulo.5. manifestação verbal escrita, declaração. (...) Houaiss.
Minha amiga Priscila, mulher letrada, jovem intelectual da mais alta estirpe e poeta sensível costuma dizer que na tessitura de um texto há que se ter cuidado artesanal na seleção das palavras. A precisão na escolha é fundamental para a boa expressão de idéias e sentimentos. O próprio vocábulo tem diversos significados no dicionário. Conhecer, portanto, ou consultar o léxico em momentos cruciais é fundamental.

No entanto, a consulta ao dicionário por quem escreve não garante, por si só, a boa compreensão da mensagem. Por vezes é necessário também que o leitor o faça, a fim de uniformizar a compreensão. Isto porque, há sentidos ocultos nas palavras. Sentidos contextuais, sensos que são obtidos a partir da história que permeia a relação que a palavra adorna ou a forma com que é posta.

O sentido daquilo que se vê - ou mais precisamente se lê – vai além do significado semântico, é construído não só a partir da história de quem escreve, para quem escreve, porque escreve, como escreve, assim também pela história de quem lê e como lê. A leitura é o exercício de desconstrução do texto - ou da mensagem. Quais os significados daquela palavra escrita na situação? Que anseios ela encontra, que expectativas ela frustra?

Por vezes, diria ‘não raro’, ao escolher uma palavra opta-se por aquela que aos olhos do leitor subverterá o sentido da mensagem. Ou ainda, mais comum, causará ambigüidade, semeará a dúvida. Ao autor da mensagem parece claro o que se quer transmitir, ao leitor pode vir a causar mal-entendidos.

Exemplo disso vivi hoje, no trabalho. Eu disse: ‘...mas tal sugestão não inviabiliza a reunião de amanhã’. No mesmo instante fui surpreendida quando o autor da sugestão me respondeu: ‘... eu não quis inviabilizar a reunião’. Não, de fato não quis. Tampouco, do meu ponto de vista, minha sentença disse que ele o quis. No entanto, para ele, o mero uso da palavra ‘inviabilizar’ já causou a frustração de uma idéia.

Poderia eu, ter dito: ‘ mas tal sugestão agrega sentido ao tema da reunião de amanhã’, o que tornaria a mensagem melhor acolhida pelo interlocutor. Inviabilizar tem um sentido negativo, enquanto agregar sugere incorporação, acolhimento, recepção. A palavra e suas conseqüências.





‘’Olha, coisas inusitadas acontecem...’’ (SMS, hoje)
Maria Cláudia Cabral
Respeite os direitos autorais. Se for citar, dê crédito à autora.

domingo, 9 de setembro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... O Menino e o Palhaço...


A alguns anos eu fiz uma canção. Como outras tantas, coloquei o violão no colo, um papel na frente com a caneta do lado... dedilhei, cantarolei tipo alguns pequenos solfejos, para encontrar possíveis tempos vocais com os musicais, tinha algumas pequenas idéias, mas grandes e revolucionários sonhos (ainda os tenho integralmente, mas maiores)... Fui e voltei.

Lembro que era uma tarde em que podia ficar em casa, pois não dava aula e era a minha folga “física” da escola... tinha lido e resenhado mais um texto preparatório para uma seleção de mestrado, mas estava concentrado no instrumento...

Saiu esta canção, uma das minhas preferidas e, com ela, inauguro neste exercício permanente e delicioso de escrever neste blog: apresentar meus temas traduzidos em letra a música... Ops! Aqui não dá p’ra cantar! Quem sabe outra oportunidade...

Apresento: “O menino e o palhaço”.

Meus olhos, dignos/ Minha mente, uma recordação/ Um suspiro escolástico, a ignorância é ilusão/ Parto, não sei p’ra onde vou/ Fico, não sei se estou vivo.

Olho, assim, quase de repente, uma canção de carnaval/ E os meninos e as meninas, por quê brincam com o facão?/ O carinho ainda está em suas mãos/ Minha moda não é a sua moda.

Nasce um louco suspiro/ Tão pouco ele sabe que o louco e o palhaço vivem/ Amem, menino e menina, a boneca de pano e o carrinho de lata também/ Paira no ar o sorriso de quem só sonha em parar de tossir/ Eu também.

Ainda vou fingir minha derrota/ Minha esperança será também mentira/ E quando menos esperarem em seu vultuoso poder e vaidade,/ os pegarei por trás como um fantasma/ e me porei a rir e cantar e chorar sem tristeza/ O palhaço ri... O louco ri.../ Quem chorava ri...

Mas agora vou embora,/ chega a hora de minha história acabar/ Já amanheceu e o anoitecer só virá daqui a muitas horas/ Vou à minha lida, meu suor de sol a pico sobre minha cabeça.../ sobre minha cabeça...

Não há carnaval, pois o meu palhaço já se foi/ Então, nos vemos no Natal/ Quem sabe agora ele nasce para eu acreditar em vida além do sol/ Além do sol... só brincam o palhaço e o louco/ Os meninos e meninas não/ Ninguém se importa com a utopia/ Mas ninguém liga para a realidade.”

Vida Longa!

Marcelo "Russo" Ferreira

PS.: esta canção tem letra registrada, com a ajuda da Artista Plástica rondonense Joanna Trugílio...

PS2.: e não deixem de lembrar de mim se algum dia arriscar qualquer melodia sobre esta letra, ok?

quarta-feira, 5 de setembro de 2007

Casamento (?) II

''Para todas as coisas: dicionário
Para que fiquem prontas: paciência
Para dormir a fronha: madrigal
Para brincar na gangorra: dois''
(Marisa Monte e Nando Reis)
Para torneira quebrada: Encanador;
Para conta estourada: prudência;
Para insônia: livro;
Para pneu furado: macaco;
Para dor no peito: cardiologista;
Para coração partido: chocolate;
Para horas tristes: amigos;
Para mudanças bruscas: paciência;
Para todas as horas: amigos;
Para seguir adiante: coragem;
Para contas a pagar: salário;
Para o sonho abandonado: estrada;
...mas é natural ter medo quando se percorre um caminho desconhecido sozinho...
Para medo:
mão que afaga,
ombro que apóia,
sorriso que ilumina,
abraço que acolhe,
beijo que desperta,
sexo que envolve,
amizade que ouve,
telefone que atende,
carinho que aconchega...
Companheiro, parceiro, amigo, amante, namorado tudo num só!
Maria Cláudia Cabral
Respeite os direitos autorais. Se for citar, dê créditos à autora.

domingo, 2 de setembro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... “p’ra não dizer que não falei das flores”...

“Vem, vamos embora, que espera não é saber/

Quem sabe faz a hora, não espera acontecer”

(Geraldo Vandré)

Esta semana recebi um convite para visitar um material construído naquele sítio virtual a qual a ex-princesa do pseudo-fenômeno (Ronaldo) processou por colocar um vídeo de uma “affair” íntimo com seu namorado numa praia européia...

Mas, nem a modelo, nem o fenômeno, nem o vídeo... Minha epígrafe, penso, sinaliza que minhas pretensões temáticas de hoje são outras...

O material em questão tratava-se de uma apresentação, daquelas do estilo “power point”, tendo a música de Geraldo como fundo musical e uma série de cenas (fotos) que nos levavam a possíveis reflexões sobre o poder, a guerra, a miséria, a pobreza, a riqueza etc., temas que, inclusive, já me arrisquei por estas andanças.

Mas duas coisas me chamaram a atenção nesta visita a aquele sítio e de maneira significativamente contraditória: a primeira foi a quantidade de material com a música “p’ra não dizer que não falei das flores” (uma das primeiras que aprendi a tocar no violão), cerca de 300 apresentações; a segunda, as diversas opiniões sobre os diversos materiais.

Refletindo sobre a segunda, fiquei impressionado com a amplitude de opiniões sobre apresentações diversas: “poderia usar fotos melhores, mais atuais”, “precisamos fazer acontecer”, “nós estamos cada vez mais acomodados”, “ai!, que saudade do tempo da ditadura” e por aí vai... Mas, mesmo eu não tendo muita paciência em ler uma a uma das reflexões sobre cada apresentação (especificamente aquelas no estilo “power point”), não identifiquei nenhuma que fosse a fundo no tema que, em princípio, a canção poderia – ou deveria – instigar.

Por outro lado, a quantidade de apresentações construídas com a canção de Geraldo Vandré me levava a outras veredas: quantos ainda escutam, cantam, re-cantam e, em temos de linguagem digital e globalização virtual, utilizam esta bela canção como pano de fundo? Minhas reflexões me levavam também a incontável quantidade de mensagens, também em “power point” com outra celebre (mas não tão completa) canção: “Imagine”, de John Lennon.

Mas, já que recebi aquele convite, gostaria de resgatar uma das estrofes daquela canção que, em todas as apresentações que assisti (cerca de 6 ou 7), não recebeu o sentido e significado merecido – assim como outras tantas: “Os amores na mente, as flores no chão/ A certeza na frente, a história na mão”. Seguir caminhando em nossa constante luta, entendendo-a como aquilo que nos faz coletivo, que nos faz históricos e, nas palavras de Anton Mararenko, que nos constrói como novos homens e mulheres, é algo que se completa com nossos amores... Lutar, sem amar, talvez não seja tão significativo. Todas as histórias que li e escutei de lutadores e lutadores que tombaram lutando tinham, evidentemente, a história em suas mãos, mas também seus amores, um(a) companheiro(a), seus filhos, sua família...

Assim, e ainda na linha de minha opção crítica em relação aos que “cansaram”, parece-me que a luta ainda necessita, na busca de seu sentido e significado, que tenhamos a história na mão e o amor, o verdadeiro amor, no coração... eis o caminho dos lutadores do povo que conheci e que não conheci.

Viva nossa história que, mesmo no seio de uma cruel ditadura (e já marco meu tema da semana que vem), nos oportunizou compositores e canções como essa... E que, principalmente aos que continuam resistindo, que esta canção continue tocando nossos corações, como bem possivelmente Vandré o quis.

Vida Longa!

Marcelo "Russo" Ferreira

P.S.: Aos amigos Alexandre e Ana Maria, que essa nova escola na Venezuela continue construindo as fantásticas pessoas que vocês são.

P.S.2: minhas palavras estão aí, refletindo uma pequena parte de minhas reflexões... Se as utilizar, lembra-se de mim, ok?

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Trilha - Caminho e Caminhar

Foto: Karina Almeida








''Quando não houver caminho



mesmo sem amor, sem direção



A sós ninguém está sozinho



é caminhando que se faz o caminho''



(Titãs)







... E há caminhos de pedra, de pó e de asfalto. Há trilhas dinâmicas e trilhas contemplativas. Há momentos de seguir, momentos de parar, momentos de refletir. Esse fim de semana recebi um convite para cachoeiras Indaiá, um complexo de quedas d'água próximo ao município de Formosa/GO. Depois de muito rodar, chegamos à conclusão que nos havíamos perdido. Tarde demais, quase onze da manhã e sessenta quilômetros distante do caminho correto. Estávamos no rumo de Salto do Itiquira.




Para quem não conhece o Salto do Itiquira, é igualmente no município de Formosa, mas com infraestrutura turística, banheiros, restaurantes, trilhas sobre caminhos de pedras, enfim nada em comum com Indaiá, trilha talhada na mata, sem qualquer infra. Itiquira é aquela coisa para turista ver. Era assim que me lembrava dela. Ora, a última vez que estivera lá foi há anos. Não era o passeio que havia imaginado, mas como sou dada ao improviso, recebi o imprevisto com coração aberto. O que fazer quando todos os seus planos de domingo vão por água abaixo e você está há cento e quinze quilômetros de casa?



Ingressamos, depois de pagar dez reais por pessoa só para entrar, num parque em que era defeso portar comidas ou bebidas. Tudo bem, faz parte do passeio, pensei. O importante é curtir o dia maravilhoso, sentir a natureza e divertir-se muito com os filhotes e os amigos.


De repente fui entrando num mundo mágico, descortinou-se diante de mim uma paisagem exuberante e serena da qual não me lembrava. Árvores altíssimas, som de águas, céu azul. Pássaros por todos os lados e o caminho de pedra, previamente proposto. Lembrei-me de um diálogo entre Dora e Josué, no filme Central do Brasil. Ela explicava a ele que andar de ônibus é mais seguro, pois este tem caminho certo, ao contrário do outro que pode desviar-se. Eu estava num ônibus. Havia caminho certo para chegar à cachoeira. Caminho feito, trilha certa, determinada.


Ainda assim, trilhas são ótimas oportunidades de aprendizado. Seja quando são selvagens, seja quando são para turistas, mesmo que acidentais. As selvagens nos fazem refletir e construir o caminho, observar cada passo, cada escolha, cada decisão. As certas nos proporcionam o supremo prazer de olhar. Sim! Olhar, simplesmente observar tudo em torno, sem a preocupação de pensar por onde ir, onde pisar. Elas nos permitem o ócio. Ambas nos ensinam a viver o presente, o aqui e o agora.



No caso de Itiquira, já não me lembrava. Itiquira é pura contemplação. É exercício inequívoco do ócio. Oportunidade para fazer vibrar o silêncio interior e internalizar os sons do presente, os sons da natureza em nós. Casa folha, cada gota d'água, cada pássaro. Impossível descrever com perfeição a beleza do lugar. A energia do céu emoldurado pelas rochas, pelas matas e pela cachoeira. O caminho parecia mágico. Caminho de pedra e pó, em cuja rudeza tantas vezes antes caminhei.



Itiquira é a suprema e bela chance de silenciar e escutar-se, ao tempo em que se ouve os sussuros do vento nas folhas. É tempo de permitir acariciar pela brisa fresca da mata, sentir-se envolver pelas gotículas de água do imenso véu de noiva. É a vida, feita de silêncios, forjada em sons. Momento de parar, calar, permitir falar o espírito e ouvir a voz do coração. Momento macunaímico de ode ao ócio. Tempo de flutuar.



Assim, no domingo improvisei uma estrada, criei um caminho onde menos esperava, onde o caminho já estava. Talvez onde mais queria, talvez o que mais desejava.





''Preciso suar para conseguir relaxar, não gosto de trilhas turísticas'' (LC, no domingo)


''Este lugar me lembra concepção, afeto, saudade'' (C, domingo)





Maria Cláudia Cabral

Respeite os direitos autorais. Se for citar, dê créditos à autora.


















Caminhos:




Cachoeiras Indaiá

www.eco.tur.br/ecoguias/planalto/ecopontos/cachoeiras/indaia.htm


Formosa

http://www.eco.tur.br/ecoguias/planalto/roteiros/formosa.htm


Salto do Itiquira
http://www.eco.tur.br/ecoguias/planalto/ecopontos/cachoeiras/itiquira.htm

Central do Brasil

http://www.centraldobrasil.com.br/front.htm





domingo, 26 de agosto de 2007

“Síndrome do Fantástico”... meu convite...

“Assim será!” (M. Gorki - 1907)

Depois de duas pequenas viagens pessoais, em universos próprios (dia dos pais, S. Ardigam, Pernambuco, os “pais da Rua de Baixo”), mas sempre atento aquilo que nos move no dia-a-dia e que também vinha sendo o pano de fundo central de minhas reflexões mais anteriores (os valores da humanidade – ou mulharanidade), venho apresentar-lhes um pequeno texto, fantástico, profundo, atualíssimo (mesmo que escrito no início do século passado) e que, no mínimo, contribuirá com reflexões que todos nós, bem possivelmente, estamos fazendo ultimamente, muito ou não.

Mas, como ninguém fala de lugar nenhum, o micro-tempo-espaço desta reflexão tem, dentre outros, o seguinte acontecimento: Sexta-feira, 17 de agosto. Após sua passagem e manifestação ao “Ato Público do Cansei”, a apresentadora Hebe Camargo “se enfia no carro e é cercada por uma fã, que implora a atenção da apresentadora. Indiferente ao apelo, o segurança limpa o capô antes de partir” (Carta Capital nº 459, página 21).

Eis minha lembrança literária:

“- Nós somos revolucionários e assim seremos enquanto houver alguns que apenas mandam e outros que apenas trabalham. (...) A propriedade exige um esforço demasiado grande para se defender e, na realidade, vós todos (...) sois mais escravos do que nós; a vós, escravisaram-vos o espírito; a nós, o corpo. Não conseguireis libertar-vos do julgo dos preconceitos e dos hábitos que vos matam moralmente; a nós, nada nos impede de sermos interiormente livres. (...) Arrancastes o homem da vida e esmagaste-lo; o socialismo unirá o mundo destruído por vós num único todo grandioso”.

Há quase exatos 100 anos, Máximo Gorki, em sua obra “A Mãe”, convidava-nos a sermos revolucionários... Há quase exatos 100 anos, sua obra, mesmo que mea-ficção, parece-nos absolutamente atual e real.

Eu não cansei! E convido-os a não cederem à impressão de fadiga social que a imprensa, a mídia atual e seus coronéis da comunicação procuram ecoar em horários nobres ou não... Convido-os a serem revolucionários!

Marcelo “Russo” Ferreira

Ps: O Livro “A mãe” está reeditado na íntegra pela Editora “Expressão Popular”, além de inúmeras obras fantásticas... eu recomendo. Ah! E não se esqueça: se usar essas meias e esquisitas palavras por aí, divida o crédito comigo, tá?

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

...Se só te restasse um dia?

Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?
(Paulinho Móska)
... E você, diz aí. Diz o que você faria se hoje fosse o último dia? Será que você iria ao shopping, ao parque ou ao bar da esquina? Falaria com a namorada ou deixaria o telefone celular tocar e tocar? Jogaria o aparelho num rio? Diz. Diz aí o que você faria?
Eu, refletindo sobre o último dia, parei por horas. É, não sei responder assim, de estalo. Fiquei pensando se correria a fazer tudo o que ainda não fiz, se pararia para ver a banda passar. Pergunto-me, algo atônita, se saberia tomar uma decisão numa hora como essas. O que eu faria se só me restasse um dia?
Talvez revelasse sentimentos ocultos, por alguém improvável. Sem medo de eventual fracasso, afinal o orgulho não teria importância num mundo em falência. Talvez até gritasse para o universo tal sentimento e deixasse o rosto ser banhado por lágrimas de felicidade, que transbordariam intensas pelas portas e janelas recém abertas de um coração hermético.
Talvez brincasse de roda, jogasse amarelinha sem pensar no que os outros vão achar. Talvez abrisse mão da imagem forte, guerreira, invencível, construída e me entregasse ao prazer puro e simples da brincadeira de corda, de gangorra e de balanço.
Talvez, derrubasse as muralhas invisíveis que protegem essa alma velha e cansada e, enfim, abrisse os braços sobre a Guanabara ou sobre o Paranoá - no ponto mais alto da Ponte, enchesse os pulmões de ar, enchesse todo o ser com o ar puro da manhã e soltasse, libertasse - sem medo - todo o amor que trago em mim.
Talvez confessasse a todos os pecados - os grandes e os pequenos - num megafone em praça pública ou em rede nacional de televisão. Não! Talvez confessasse na CNN para o mundo todo, via satélite e jogasse fora todas as máscaras revelando humildemente a humanidade, que me resta.
...Eu desceria do salto, soltaria os cabelos, afrouxaria as amarras, abriria os braços, respiraria bem fundo e diria, num sonoro sussurro: Eu amo o mundo, seja lá o que for acontecer!
Talvez gritasse!
Maria Cláudia Cabral
Respeite os direitos autorais. Se for citar, dê crédito a autora.

domingo, 19 de agosto de 2007

“Síndrome do Fantástico”... Os pais da gente..."

“(...) Já alegre, perguntou ao discípulo do Cristo/ - Que queres de mim?
Ao que João amavelmente respondeu:/ Que sejas meu pai!”

(Francisco de Assis –João Nunes Maia, pelo Espírito Miramez– 1993).

No meio da semana que passou, enquanto eu ainda conversava com as pessoas sobre o artigo de domingo passado (“Lá em Pernambuco tem tudo aquilo mesmo?”), um amigo de infância e adolescência me enviou um torpedo pelo celular, falando sobre a partida de seu pai, por problemas do coração.

Procurei fazer contato com alguns amigos da época, para comunicar o fato. Neste processo, por uma questão de “falta”, de não estar presente no velório e despedida, passei a lembrar do velho S. Wilson, de tantos anos de convivência...

A conseqüência desta reflexão foi lembrar dos pais de todos nós, que jogávamos bola na “rua de baixo”... S. Roberto, S. Wilson, S. Hamilton, S. Geraldo, S. Odécio e S. Ardigam... Tinham os outros, mas realmente não lembro seus nomes... o pai do X-pita ou o pai do Bichiguinha. Mas esses seis marcaram, por sua presença mesmo.

S. Ardigam, já falei aqui semana passada. Mas acho que todos nós, da “Rua de Baixo” lembramos, dentre tantas coisas, que ele sempre passava na rua, com a velha e boa Caravan a álcool, e nos levava para tomar refrigerante em Santana. Normalmente íamos eu, Formiga, Edmilson e Baianinho. Sem falar que ele era um dos espectadores do imbatível T.Y.K., o time oficial da rua...

S. Roberto, pai do Formiga, também tem suas passagens... a principal, trago marcado em meu corpo. Lá vou eu dar uma de adolescente (bom, eu era adolescente!) e fazer a curva de bicicleta quase deitado... Quer dizer, quase não, literalmente deitado. E lá estava S. Roberto, que me levou ao Pronto-socorro e me trouxe de volta p’ra casa. Ele, um cara fantástico e rapidamente solidário, e eu inaugurávamos minhas costuras com os primeiros dois pontos dos quase 80 que trago no corpo hoje.

E S. Odécio, pai de Edmilson e Dudu, que vez por outra jogava com a gente na rua (ele também acompanhava o T.Y.K.)? Eu jogava no time de vôlei que ele montou para os campeonatos de férias que tinha no Salesiano. Mas, recordo-me de nosso jogo de final-de-ano, quando o Formiga conseguiu três medalhinhas com o Padre Manoel para que fizéssemos nossa partida. S. Odécio foi o árbitro e, inclusive, elegeu o atleta mais disciplinado e o melhor em campo. O disciplinado eu não lembro (claro que não fui eu nem o Formiga), mas o melhor em campo foi o “Gelinho”. Depois do jogo, tubaína e mini-pão com vários patês que nossas mães fizeram... Caramba!!!!

O S. Hamilton era o pai do Hamiltinho, ambos fantásticos, tipo tranqüilões... Cara gente boa toda, que também sempre gostava de ficar conversando com a gente, entre a casa dele e a do S. Odécio. Uma vez, daquelas que a gente também não esquece, arrumou emprego para minha irmã, passando ela na frente das demais candidatas, sem nenhuma vergonha. “Fica frio, Marcelo, a vaga é dela!”...

S. Geraldo, esse era (e ainda é, pois o vejo quando vou visitar mainha em Sampa) uma cara tranqüilão, mas tranqüilão todo. Católico (assim como D. Jô), é o pai de Eduardo, o querido “Gelinho” (aquele, melhor em campo no jogo de final-de-ano). Quando tínhamos a banda de rock, o Afã, S. Geraldo nos acompanhava nos festivais e nas nossas apresentações, fazendo, inclusive, a única filmagem de nosso show de primeiro ano de formação. Eu tocava guitarra e fazia vocais e o Edu era o baterista que, aliás, não ficava devendo nem para Neil Peart, aquele batera de oito braços do Rush.

E, finalmente, S. Wilson... Vozeirão grosso, um cara super trabalhador. O único problema era ser corintiano... Ah! Mas que problema pequeno, nem se dava bola. E quando o Wilsinho fez de seu aniversário, quatro diárias no hospital...? E lá vamos nós visitá-lo, com o S. Wilson guiando. Caramba, eu tinha prova de química no dia seguinte. Mas a casa de S. Wilson e D. Ana era visita certa de minha pessoa. Dele, lembro-me de ter editado o vídeo do Afã, que S. Geraldo filmou.

Pois é, esses foram nossos pais da Rua de Baixo, aquela do meu texto de estréia neste Arcamundo. E se eu fosse escrever cada passagem de “nossos pais”, era assunto para muitos textos.

Minha humilde e sincera homenagem não apenas a S. Wilson, mas aos meus (nossos, rua de baixo) pais... E aos pais de todos nós...

Marcelo “Russo” Ferreira...

Obs.: Não esqueça de dizer a painho que o texto aqui tem autoria, visse? Se citar, lembre-se de mim (é bom para meu currículo hehehe)

domingo, 12 de agosto de 2007

Saneamento Básico - O filme

'' O que é ficção?''
(personagem de Fernanda Torres, no filme)




Voltava para casa, pouco depois das dez da noite. Era mais uma noite de domingo, regada a cineminha, seguido de café no Bistrô do Fábio. De repente estava rindo sozinha. Aquela cena com a Camila Pitanga... A seqüência veio inteira a minha mente. Ri, gargalhei sozinha no carro enquanto dirigia para casa.
Acabara de assistir Saneamento Básico, de Jorge Furtado. Não me considero suspeita ao comentar o cinema de Jorge Furtado, porque embora não me lembre de algum filme dele que me tenha chateado, não sou exatamente uma super fã. Gosto do trabalho dele, e isto é tudo. Ou era. Depois de Saneamento, minha relação com o cineasta gaúcho já não é a mesma. Leitores, eu amei o filme.
Poderia escrever parágrafos e parágrafos sobre diversos aspectos que me chamaram a atenção na película . Poderia consultar os especialistas e fazer uma crítica cinematográfica. Não é o caso, até porque sou mera expectadora apaixonada de cinema. O fato é que há muito não me divertia tanto. Há um humor fino, mas há mais. Há poesia no ar durante todo o tempo de projeção. A trilha sonora ajuda a emoldurar as cenas mais líricas do filme, fazendo o expectador viajar numa saudade de algo que nunca viu ou viveu. Saudade não sei de quê, não sei de quando, não sei de onde. Talvez os gaúchos saibam, eu, nordestina que sou, não soube.
Mais que tudo o filme trouxe respostas ainda não muito elaboradas a questões que venho propondo nesse espaço há vários meses. Preciso amadurecer a percepção para compartilhar com vocês. Tive insights para a velha pergunta: Por que ser um par? E isso me fez muito bem, não sei se sou eu que estou amadurecendo as idéias ou se foi o roteiro que me balançou, certo é que vi os pares com um olhar menos cético, quase doce. Como ainda não elaborei, deixo para a próxima. Entrou por uma porta, saiu pela outra, quem quiser que conte outra!





Maria Cláudia Cabral
Respeite os direitos autorais. Se for citar, dê créditos à autora.

Síndrome do Fantástico... Pernambuco...




“Coração do Brasil! em teu seio/
Corre o sangue de heróis - rubro veio/
Que há de sempre o valor traduzir/
És a fonte da vida e da história/
Desse povo coberto de glória,/
O primeiro, talvez, no porvir/
Salve! Oh terra dos altos coqueiros!/
De belezas soberbo estendal!/
Nova Roma de bravos guerreiros/
Pernambuco, imortal! Imortal!”
(Hino de Pernambuco)


Semana passada me ausentei... não havia sido um bom final de final-de-semana... Mas, em outra oportunidade refletirei sobre o assunto daquela semana...
Hoje, falo de Pernambuco, pois estou em Recife.
Pernambuco! Terra do Maracatu de baque solto e de baque virado, do Cboclinho, do Coco de Roda, da La Ursa (“a La Ursa quer dinheio! Quem não dá é pirangueiro!”), da Ciranda, o Reisado, do Xaxado, Pastoril, Forró e Frevo... e de tudo isso misturado em todas as formas, num mosaico de ritmos que seguem cantando, dançando e escrevendo Cordel do Fogo Encantado, Cumadre Fulozinha, Cascabulho, Tiné, Devotos, Faces do Subúrbio, Mestre Ambrósio, Mundo Livre SA, Lia, Selma, Mestre Salustiano, Quinteto Violado, Lenine, Siba, Silvério Pessoa e duas dúzias de dúzias de artistas que cantam este estado e a região nordeste.
Pernambuco do Movimento de Cultura Popular (MCP da década de 60) e do Movimento Armorial, com Ariano Suassuna, Antônio Carlos Nóbrega, Antúlio e Antônio Madureira e de Nelson Ferreira, Raul Moraes e Capiba e suas obras imortais dedicas ao Carnaval de Pernambuco, além de obras contadas e cantadas nos quatro cantos deste país.
Pernambuco de belezas sempre focadas pela indústria do turismo – Ilha de Itamaracá, Caruaru, Porto de Galinhas etc. – mas com tantas outras belezas históricas que passam longe de nossos passeios programados pelas agências de turismo – Alto Zé do Pinho, Pina, Brasília Teimosa, Alto Santa Terezinha, Mercado São José, Parque do Caiara, Teatro do Parque, Madalena, Torre e a Várzea de Brennand e, saindo de Recife, de Moreno, Exú e Gravatá, de Aldeia, São Bento do Una e de Bezerros e seus mascarados. Das bacias hidrográficas do São Francisco (Velho Chico), Capibaribe, Ipojuca, Una, Pajeú e Jaboatão.
Pernambuco de inúmeras participações na história de liberdade deste país: Guerra dos Mascates, entre 1710 e 1712; a Revolução Pernambucana, em 1817 (cuja bandeira do estado teve seu nascedouro); a Confederação do Equador, em 1824; a Revolta Praieira, em 1848 e de Zumbi (pois Palmares ainda não era Alagoas) e de tantos outros movimentos no campo e da cidade, como o MASTER e o MCP.
Pernambuco de lutadores históricos: Abreu e Lima (que lutou pela América Latina Livre junto com Bolívar), de Joaquim Nabuco, Frei Caneca, Antonio Conselheiro, Lampião (bandido e herói), Miguel Arraes (que era cearense), Gilberto Freire, João Cabral de Melo Neto e de outras tantos mais anônimos aos livros de história – Hiram de Lima Pereira (que era de Caicó/RN e meu avô) e Paulo Cavalcante.
Pernambuco dos Blocos de Carnaval: Bloco das Flores, Andaluzas, Lírico Cordas e Retalhos, Bloco da Saudade, Eu Quero Mais, Flor do Eucalipto, Pierrots de São José, Madeira do Rosarinho, BrasCuba, o Homem da Meia-Noite, Bloco do Batata e incontáveis outros blocos resgatados nos últimos anos pelos governo populares do grande Recife.
Pernambuco, que com tudo isso, tem Glauce, Silvia (Tita) e Mateus, Jaime Amorim e Rubineuza, Ana Claudia Pessoa e Raminho, James, Mago e Dani (e o pequeno Vinicius), Báda, Modinho, Joanna, Aniele, Érika, Brunão, Magna, Janine e Antônio, Rei e Gi, Karina, Claudinha (e a pequena Bia), Adriana, Agostinho, Tereza, Socorro, Ana Rosa, Ana Maria e Alexandre, Mona, Bochecha, Hilberto, Daniele Cruz, Chica, Maris, Tio-primo Dinaldo, de meu Padrinho Nelson, Silvana e Karla, Tia Sônia, Bruno Maranhão, Cecinha (mana), Tati, Joba e Ísis, Serjão e o pé de feijão, Marli, Vanuza, Gerlane e o pequeno Mateus, Alexandre, Rossana e tanta gente que não cabem em dez balaios. Da UPE e o inesquecível ensinamento do Projeto Santo Amaro, do Projeto Nossa Escola, da UFPE – o mestrado (que me apresentou o Sertão de Pernambuco) e o Lúdico Revolucionário – e da grande idéia dos Círculos Populares de Esporte e Lazer.
Mas, hoje, e acima de tudo, terra de Seu Ardigam... homem de Limoeiro, e meu pai... e, por tudo isso e por Seu Ardigam, Viva Pernambuco...

Marcelo “Russo” Ferreira

Oxe! E vê se não se esquece de pesquisar esse povo “tudinho”, se for utilizar alguma coisa desta viagem de ritmos, nomes e cores, visse? E me cita também... Xêro!

terça-feira, 7 de agosto de 2007

O Rio de Janeiro continua lindo...(II)


''O Rio de Janeiro continua lindo,

O Rio de Janeiro, fevereiro e março...''







Esta viagem ao Rio trouxe muitas reflexões, esclarecimentos e novas sensações. Uma em especial me ocorreu compartilhar aqui. Sexta-feira tomei um taxi de Botafogo para a PUC. O motorista, algo atrapalhado, era do tipo conversador. Perguntei, curiosa: ' o senhor gosta de trabalhar na praça?' Ele prontamente respondeu que sim, e passou a elencar todas as excelentes razões para adorar o trabalho, todas as vantagens de morar na cidade maravilhosa. Parecia um homem feliz.


No dia que vim embora, novamente tomei táxi. Desta feita de Botafogo para o aeroporto do Galeão. Chovia, chovia aquela chuva fina, chata, o tempo estava fechado, mal se enxergava a baía. O motorista era do tipo caladão. Resolvi fazer um teste e repeti a pergunta 'o senhor gosta de trabalhar na praça?' Do Aterro ao aeroporto escutei atentamente a lista de razões pelas quais não valia a pena ser taxista no Rio de Janeiro. Desde a violência, até as condições climáticas que se lhe apresentavam naquele momento.


Não pude deixar de pensar quão curioso é o ser humano. Duas pessoas, uma mesma cidade, uma mesma profissão. Dois olhares distintos, dois olhares antagônicos. Qual deles teria razão? Qual deles estaria certo? Finalmente, a pergunta que não quer calar: o que é certo?


Nâo é questão de certo ou errado. A diferença reside na forma como vemos o mundo. Não foi difícil perceber que a vida daquelas duas pessoas, daqueles dois cidadãos residentes no Rio de Janeiro era exatamente o reflexo da forma como eles vêem o mundo. Busquei na memória, revirei os arquivos em busca da resposta à dúvida: eu sou o primeiro motorista ou sou tipo o segundo? Como tenho me colocando diante dos desafios da vida?


Termino sem concluir, ainda cheia de dúvidas, muitas perguntas sem resposta.



''Ah! minha vida é muito boa aqui no Rio, não troco isso aqui não.'' (Primeiro motorista)


'' Ihhhhhhh, Dona. Isso aqui é uma loucura. A praça já foi boa, antes de eu começar a ser taxista era ótimo. Agora a concorrência é enorme, tem a violência e esse trânsito que não anda. Ainda mais em dia de chuva...'' ( Segundo motorista)







Maria Cláudia Cabral

Respeite os direitos autorais. Se quiser citar, dê crédito à autora.