terça-feira, 21 de novembro de 2006

A primeira noite depois da tarde



No meu último texto eu fiz um desabafo sobre o como é ruim se sentir apenas mais um homem mediano no mundo. E concluí dizendo que estava tomando providências para que as coisas mudassem. Para minha alegria, ontem a noite tive indícios que estou seguindo o caminho certo.

Na exibição pública do “Além dos Outdoors”, meu primeiro documentário, tive uma prova concreta de que as coisas estão mudando. Deixei de ser um simples espectador para estar no centro das atenções. E devo confessar que isso nunca havia me acontecido antes. Falando em termos cinematográficos, deixei de ser um mero figurante pra me tornar um dos protagonistas.

Produzir esse filme foi um dos maiores presentes desse ano. Por causa dele eu deixei um emprego cômodo, mas desinteressante, conheci gente que nunca imaginava conhecer e tive a oportunidade de aprofundar laços com outras que eu já conhecia, mas que por puro preconceito e ignorância não tinha grandes vínculos. Esse filme me abriu a mente em diversos aspectos.

Para quem está acostumado com aplaudir, receber palmas é estranho. Fica a dúvida se aquelas palmas são sinceras ou puros gestos mecânicos que a boa educação preza. O mesmo acontece com a infinidade dos sorrisos recebidos. Se pelo menos 10% forem sinceros já fico feliz.

Em nenhum momento da minha vida eu me senti tão observado. Minha auto-estima também nunca esteve tão boa. Mesmo assim, ainda não foi possível levantar a cabeça pra encarar as centenas de olhares e nem falar o discurso que já estava pronto há anos na cabeça. Pra não passar uma vergonha ainda maior, é melhor falar pouco e coisas básicas, mesmo que fúteis.

É estranho se sentir querido. É estranho ver que pessoas deslocaram um pouco a rota de seus dias para poder lhe prestigiar. No fundo eu ainda acho que não mereço isso. No fundo eu ainda acho que eu sou uma fraude e que posso provar esse fato. Admito que pensei que aquele momento acabaria assim que as luzes do cinema fossem acesas. Mas quando sua rotina é marcada por pessoas especiais, a sensação se prolonga um pouco e vai até uma mesa de pit-dog. Isso tudo são resquícios de um homem que ainda não decidiu que rumo tomar.

Paulo Henrique dos Santos.

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2 comentários:

Anónimo disse...

Impossível imaginar que alguém com tal talento possa não sentir-se merecedor.

Você nasceu para brilhar, brilhe, então!

Siga adiante sem se perguntar se este é o caminho, simplesmente siga fazendo coisas que lhe dão prazer realizar.

Na vida, o importante não é onde chegamos e sim o caminho que percorremos.

Aliás, o caminho é que nos leva à reta de chegada - ou não.

Maria Clara Dunck disse...

Lindo texto PH!