domingo, 2 de dezembro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... socialismo e esperança...

“Quando penso no futuro, não esqueço do passado”

(Paulinho da Viola)

É verdade que a epígrafe escolhida (a maravilhosa “Dança da Solidão”) não foi escrita para o que neste artigo pretendo... Mas foi escutando esta canção, dentre outras, que me inclinava na leitura da Segunda Encíclica de Bento XVI.

Enquanto lia o texto completo da Segunda Encíclica, anunciado pelos telejornais na última sexta-feira como aquela em que o Papa centrava sua crítica “contra o Marxismo e o ateísmo”, essa parte da canção me levava a uma interpretação poética bastante significativa do que consegui sintetizar e sistematizar da vasta obra marxista que, obviamente, não se resume a Marx: passado e futuro como elementos concretos de meu presente... histórico.

Mas chamava-me a atenção, na oportunidade da matéria jornalística, a coincidência de quadro sobre as matérias em questão. Explicando: em especial atenção ao Jornal Nacional da rede Globo de Televisão, anunciava-se a publicação da Segunda Encíclica Papal e, em seguida, uma cobertura detalhada da manifestação popular em favor do referendo constitucional na Venezuela (detalhada porque, diferente da cobertura a manifestação do dia anterior, contrária ao presidente venezuelano, só faltou dizer o endereço de cada um dos manifestantes favoráveis a Chavez).

Em tempos em que Hugo Chavez defende efusivamente a Revolução Bolivariana e o socialismo do século XXI, nada como continuar-se o bombardeio aos princípios e referências mais conhecidas da teoria fundante do Materialismo Histórico Dialético.

Fui à Segunda Encíclica. Um texto que, formatado para a impressão, ocupou 29 páginas e fonte “times new roman” tamanho 12. Dois parágrafos, caros leitores do Arcamundo. Sintéticos (e equivocados) dois parágrafos que falaram da obra de Marx e Engels. Destaca-se que, destes dois, Bento XVI faz o primeiro comentário: “(...) Com pontual precisão, embora de forma unilateralmente parcial (o “lateral” da classe trabalhadora” – meu destaque), Marx descreveu a situação do seu tempo e ilustrou, com grande capacidade analítica, as vias para a revolução. E não só teoricamente, pois com o partido comunista, nascido do manifesto comunista de 1848, também a iniciou concretamente. E a sua promessa (como???), graças a agudeza das análises e à clara indicação dos instrumentos para a mudança radical, fascinou e não cessa de fascinar ainda hoje”. Posteriormente, indica que o erro fundamental de Marx foi não nos dizer como as coisas deveriam proceder depois da revolução, dando o exemplo da Revolução Russa.

Não pretendo aprofundar minhas reflexões, pois implicaria a construção de um texto longo, só para tratar deste trecho. O farei, mas sob outras circunstâncias, outros tempos para o debate, em momento histórico apropriado.

Opto por lançar pequenas e objetivas reflexões, pelas quais espero instigar aos tantos quantos convidados deste tempo/espaço de todos os domingos, a outras tantas reflexões... e, conseqüentemente, a debates profundos e, em que pese a crítica do Sr. Rasting, a debates que permitam a radicalidade de nossas reflexões, porque partem da raiz do problema.

Primeiro: Marx, até onde me consta, nunca se propôs a dizer a como a classe trabalhadora deveria proceder após a revolução proletária. Aliás, a máxima deste filósofo-economista era “Trabalhadores do Mundo, uni-vos!”, afirmando que a revolução proletária não deveria acontecer em um único país.

Segundo: Lênin, assim como Pistrak, indicavam que a teoria revolucionária nada era sem a prática revolucionária, deixando claro que esta iria sistematizar a primeira, construindo aquilo que, no campo da educação, denominamos como “prática social”... Partimos e voltamos à ela cotidianamente.

Terceiro: a crítica do pensamento marxista, dentre outras, era apontar a necessidade histórica de enfrentar o projeto histórico de mundo e de sociedade que fazia (faz) do homem e da mulher (classe trabalhadora) um ser passível às relações de força e de poder que os levavam (e levam) a acreditar que suas condições de pobreza, de miséria, muitas vezes de escravidão e servidão era uma determinação divina. E é por trás desta “determinação” que poderosos e exploradores se camuflam de forma quase abençoada.

Seguir-se-iam quarto, quinto, sexto e tantos quantos pontos necessários à mais justa e correta reflexão sobre não apenas os dois parágrafos aos quais Bento XVI refere-se superficialmente ao pensamento marxista, mas à prática de nossa mídia, que, mais uma vez, em nada contribui a formação da opinião de nosso povo; que mais uma vez abstém-se da realidade e da prática social como critério de verdade.

Já fiz, neste espaço, convites para um lado da trincheira, o da luta da memória contra o esquecimento, do homem (e da mulher) contra o poder, como com rara sensibilidade nos lembra Eduardo Galeano. E o convite se mantém: em defesa da liberdade... sejamos revolucionários!

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

P.S.: Lembrem-se... as palavras aqui são poucas, mas defendem um ponto de vista. Usando-as, lembre-se de citar-me.

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