O sol, em muitos dias, nasce aparentemente sem compromisso algum. E foi assim ao longo daquele três de outubro, tão recente que a memória é capaz de eternizá-lo. A terça-feira parecia comum como as outras. A rotina começou cedo, quando nasce o sol. Mas algo começou a mudar o que parecia igual.
Ao chegar na faculdade, todos falavam de um certo “filme de jornalista”, chamado O Sol – Caminhando contra o vento. Pelos corredores não se ouvia outro assunto. Diziam alguns, alunos e professores, que o tal documentário seria exibido às sete da noite, numa sala nova de cinema do Banana Shopping.
O motivo mais convincente entre os comentários para que eu fosse assistir ao Sol era a presença de um tal Reynaldo Jardim, que debateria sobre a temática do filme. Os sádicos diziam que aquela oportunidade era única, já que o tal jornalista estava à beira da morte.
Eu ouvi várias versões da sessão de logo mais. Tipo palpite clichê, meio sinopse barata e informal de internet, “Sol é o nome de um jornal da época da ditadura militar, tipo o Pasquim. Nesse filme tem até aquela música do Caetano ‘ o sol nas bancas de revista’, sabe?”, discursavam alguns entendidos.
Fiquei constrangida por não saber nada sobre a exibição do documentário. Não sabia sobre a história do jornal O Sol, e muito menos de Reynaldo Jardim, “um dos grandes jornalistas brasileiros”.
Enquanto isso, o dia passava com um sol escaldante. Pensei em pagar para ver o Sol. Uns me convidavam daqui, outros ligavam de acolá. Mas o fato é que fui ao shopping com uma colega do jornalismo e também amiga de algumas bohemias.
Ao longo do filme notei a presença de Reynaldo Jardim. Cutucava a Pessoa da poltrona do meu lado: “o Reynaldo – notem a intimidade – já chegou!”. Na telona, observava-o, depois olhava para as poltronas debaixo e lá estava ele. Aquela emoção de fã me consumia, no entanto eu não entendia comigo mesma esse sentimento de tietagem. Afinal, há poucas horas eu era mais uma ignorante sobre o tema do filme e sobre seus personagens! Se estiver no cinema, na TV, nos jornais, conquistou o estrelato, o povo conhece mesmo...
O Sol acabou. Em seguida era a vez do debate, das perguntas dos espectadores, da fala de Reynaldo. A discussão foi calorosa, empolgante, porque agora eu já sabia que estava diante de uma parte da história do jornalismo deste país. Tinha conhecido alguém apaixonado pela época em que vivera. Reynaldo parecia, na verdade, uma criança ao falar de quando o nasceu O Sol. Ele estava mais jovem e lúcido que muitos daquelas poltronas.
Todos o questionavam sobre a falta de sonhos da nossa juventude. Alguns jovens diziam que essa mocidade não luta, como ele e seus amigos lutaram, contra um “agressor” ou para manter um jornal subversivo, por exemplo. Os tempos mudaram, eu pensei, mas não disse sequer uma palavra. Reynaldo não se mostrava desiludido com os jovens de hoje. Afinal, segundo ele, não há um inimigo visível. Entretanto, conclamou: “sejam subversivos!”
Fomos apresentadas a ele. Eu pedia conselhos sobre a minha dificuldade de escrever os odiosos lides e sublides. “Escrevo por obrigação e daí perco o interesse pelo jornal diário que existe hoje, esse modelo tão quadrado...”, disse a ele. Quanto a isso Reynaldo me tranqüilizou. “Escreva o que você gosta, cada um tem o seu estilo. Não aceite que façam você perder o encanto e subverta sempre que puder”, disse-me com a sabedoria de alguém que eu parecia admirar há anos.
Reynaldo aconselhou minha amiga e eu a criarmos um meio alternativo e livre para escrever conforme o nosso desejo. A Pessoa que estava comigo precisava de ânimo para fazer sua vida jornalística ter sentido. Necessitava ver o sol nascer pra que pudesse conseguir bons motivos para sonhar, para dar sentido à sua capacidade. Pra mim, o sol, a luz, nasceu através daqueles conselhos. Escrever é mesmo prazeroso quando se pode ser livre, quando se pode ir atrás do sol de todos os dias. Ir à procura do nosso sol, do nosso caminho, contra o vento, sem lenço e sem documento.
A lição número dois é mais simples: não se pode subestimar o nosso sol de cada dia, pois ele talvez não seja tão comum quanto pensávamos.
Ao chegar na faculdade, todos falavam de um certo “filme de jornalista”, chamado O Sol – Caminhando contra o vento. Pelos corredores não se ouvia outro assunto. Diziam alguns, alunos e professores, que o tal documentário seria exibido às sete da noite, numa sala nova de cinema do Banana Shopping.
O motivo mais convincente entre os comentários para que eu fosse assistir ao Sol era a presença de um tal Reynaldo Jardim, que debateria sobre a temática do filme. Os sádicos diziam que aquela oportunidade era única, já que o tal jornalista estava à beira da morte.
Eu ouvi várias versões da sessão de logo mais. Tipo palpite clichê, meio sinopse barata e informal de internet, “Sol é o nome de um jornal da época da ditadura militar, tipo o Pasquim. Nesse filme tem até aquela música do Caetano ‘ o sol nas bancas de revista’, sabe?”, discursavam alguns entendidos.
Fiquei constrangida por não saber nada sobre a exibição do documentário. Não sabia sobre a história do jornal O Sol, e muito menos de Reynaldo Jardim, “um dos grandes jornalistas brasileiros”.
Enquanto isso, o dia passava com um sol escaldante. Pensei em pagar para ver o Sol. Uns me convidavam daqui, outros ligavam de acolá. Mas o fato é que fui ao shopping com uma colega do jornalismo e também amiga de algumas bohemias.
Ao longo do filme notei a presença de Reynaldo Jardim. Cutucava a Pessoa da poltrona do meu lado: “o Reynaldo – notem a intimidade – já chegou!”. Na telona, observava-o, depois olhava para as poltronas debaixo e lá estava ele. Aquela emoção de fã me consumia, no entanto eu não entendia comigo mesma esse sentimento de tietagem. Afinal, há poucas horas eu era mais uma ignorante sobre o tema do filme e sobre seus personagens! Se estiver no cinema, na TV, nos jornais, conquistou o estrelato, o povo conhece mesmo...
O Sol acabou. Em seguida era a vez do debate, das perguntas dos espectadores, da fala de Reynaldo. A discussão foi calorosa, empolgante, porque agora eu já sabia que estava diante de uma parte da história do jornalismo deste país. Tinha conhecido alguém apaixonado pela época em que vivera. Reynaldo parecia, na verdade, uma criança ao falar de quando o nasceu O Sol. Ele estava mais jovem e lúcido que muitos daquelas poltronas.
Todos o questionavam sobre a falta de sonhos da nossa juventude. Alguns jovens diziam que essa mocidade não luta, como ele e seus amigos lutaram, contra um “agressor” ou para manter um jornal subversivo, por exemplo. Os tempos mudaram, eu pensei, mas não disse sequer uma palavra. Reynaldo não se mostrava desiludido com os jovens de hoje. Afinal, segundo ele, não há um inimigo visível. Entretanto, conclamou: “sejam subversivos!”
Fomos apresentadas a ele. Eu pedia conselhos sobre a minha dificuldade de escrever os odiosos lides e sublides. “Escrevo por obrigação e daí perco o interesse pelo jornal diário que existe hoje, esse modelo tão quadrado...”, disse a ele. Quanto a isso Reynaldo me tranqüilizou. “Escreva o que você gosta, cada um tem o seu estilo. Não aceite que façam você perder o encanto e subverta sempre que puder”, disse-me com a sabedoria de alguém que eu parecia admirar há anos.
Reynaldo aconselhou minha amiga e eu a criarmos um meio alternativo e livre para escrever conforme o nosso desejo. A Pessoa que estava comigo precisava de ânimo para fazer sua vida jornalística ter sentido. Necessitava ver o sol nascer pra que pudesse conseguir bons motivos para sonhar, para dar sentido à sua capacidade. Pra mim, o sol, a luz, nasceu através daqueles conselhos. Escrever é mesmo prazeroso quando se pode ser livre, quando se pode ir atrás do sol de todos os dias. Ir à procura do nosso sol, do nosso caminho, contra o vento, sem lenço e sem documento.
A lição número dois é mais simples: não se pode subestimar o nosso sol de cada dia, pois ele talvez não seja tão comum quanto pensávamos.
Maraísa Lima
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