Meu amor
O que você faria se só te restasse um dia?
Se o mundo fosse acabar
Me diz, o que você faria?
(Paulinho Móska)
... E você, diz aí. Diz o que você faria se hoje fosse o último dia? Será que você iria ao shopping, ao parque ou ao bar da esquina? Falaria com a namorada ou deixaria o telefone celular tocar e tocar? Jogaria o aparelho num rio? Diz. Diz aí o que você faria?
Eu, refletindo sobre o último dia, parei por horas. É, não sei responder assim, de estalo. Fiquei pensando se correria a fazer tudo o que ainda não fiz, se pararia para ver a banda passar. Pergunto-me, algo atônita, se saberia tomar uma decisão numa hora como essas. O que eu faria se só me restasse um dia?
Talvez revelasse sentimentos ocultos, por alguém improvável. Sem medo de eventual fracasso, afinal o orgulho não teria importância num mundo em falência. Talvez até gritasse para o universo tal sentimento e deixasse o rosto ser banhado por lágrimas de felicidade, que transbordariam intensas pelas portas e janelas recém abertas de um coração hermético.
Talvez brincasse de roda, jogasse amarelinha sem pensar no que os outros vão achar. Talvez abrisse mão da imagem forte, guerreira, invencível, construída e me entregasse ao prazer puro e simples da brincadeira de corda, de gangorra e de balanço.
Talvez, derrubasse as muralhas invisíveis que protegem essa alma velha e cansada e, enfim, abrisse os braços sobre a Guanabara ou sobre o Paranoá - no ponto mais alto da Ponte, enchesse os pulmões de ar, enchesse todo o ser com o ar puro da manhã e soltasse, libertasse - sem medo - todo o amor que trago em mim.
Talvez confessasse a todos os pecados - os grandes e os pequenos - num megafone em praça pública ou em rede nacional de televisão. Não! Talvez confessasse na CNN para o mundo todo, via satélite e jogasse fora todas as máscaras revelando humildemente a humanidade, que me resta.
...Eu desceria do salto, soltaria os cabelos, afrouxaria as amarras, abriria os braços, respiraria bem fundo e diria, num sonoro sussurro: Eu amo o mundo, seja lá o que for acontecer!
Talvez gritasse!
Maria Cláudia Cabral
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