terça-feira, 27 de novembro de 2007

Dânia

Dânia era bela segundo o olhar sobre-humano: nas perenes manhãs de felicidade, bastava pensar que era rotina que a cumpria alegre no início, entediada no meio e cansada no fim. Quando desejava alguém, eram rostos diferentes que a ocupavam, pois nunca sabia ao certo os traços de uma noite só, de duas... Por isso exigia poder fixar seus olhos sob as feições sempre, beijando de olhos abertos, se podando. Mentira. O que ela queria era sempre mais dos suspiros, que jamais dava, apenas esperava, maravilhada, esperançosa.
Do que não queria, lembrava até das traições estampadas, porque as rugas ficam com os erros, ela pensava, e quem erra demais envelhece acelerado. O ingênuo era quem estava sempre novo, recuperado a cada choro de vítima, sem melancolias. Mas Dânia era doce e amargurada, um pouco insossa no finzinho, e a cada espirro de lágrima era pelo mesmo motivo: a paixão deslavada. Mas na boca ficava um gostinho bom, continuado.
Odiando a maneira como os lanterninhas levantavam ao fim do filme para abrir as cortinas, anunciando que o final chegara, cria que da mesma forma se davam os relacionamentos: uma contradição percebida, e já é hora (mesmo acabando na hora certa ou não. Pensa que poderia ter acabado antes, se poupado daquela cena, meio desnecessária, e colocado outra bonita. As vezes acha que acabou no momento exato, meio que previsível, ou perfeito.) Aceita, crispada de dor, mas como sempre, comedida até na sem-graceza.
Essa paixão pela respiração alta sempre traz a ilusão. Dânia enclausura-se num pensamento de derrota e, se quer chorar, chore agora. E Dânia nunca chora quando a dor é demais. Não sei por quê. E acorda, com o mesmo rosto não muito bem delineado em sua memória, mas o suficiente claro para mal humorá-la; quando a pobre dorme, é claro. Demora-se insone, frente a um perfume que a comicha toda, e a textura de um cabelo mal lavado, mas tão negro, ou não. Era o que tinha do pouco que perdia. E, Dânia o vendo, agora claro, pois à sua frente alguém está a fingir que nunca a desejara - ou que sincera o que enfim, acabou, me desculpe - Dânia se sente quase feliz, quase triste... Se sente Dânia.
Maria Clara Dunck. Copyright da Autora. Todos os direitos reservados.

domingo, 25 de novembro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... Happy Xmas..

“A very merry Xmas/and a happy new year/

Let’s hope it’s a good one,/Without any fear”

(John Lennon & Yoko Ono)

Já começou e faz algumas semanas...

Os “shopping’s” (populares ou chiquês) há tempos vem indicando suas promoções para mais uma fase de intenso consumo, a velha adjetivação: “consumo natalino”... Quem diria que a festa católica prioritária do mundo anglo-saxão pudesse transformar o “nascimento do s(S)alvador” na mais infinita e profunda relação de homem-coisa, homem-consumista já imaginável.

Telejornais, semanários, o próprio programa dominical mencionado neste blog em minhas insensatas viagens, além, é claro, dos espaços comerciais que (pode prestar atenção) sempre faz nossos aparelhos de TV aumentarem SOZINHOS o volume, as ofertas, promoções, formas de pagamento “para 2008” etc. abundam nossos lares.

Cantigas de atores e atrizes (focando sempre os mais famosos, bonitos e formadores de opinião), comerciais-musicais com nossos cantores/as e favoritos/as ou em evidência, com músicas que tocam nossos corações também ocupam, fácil, fácil, 50% destes espaços.

Mais angustiante é a sensação de que quem acaba definindo o que “queremos” comprar e adquirir para nossas vidas não é a gente e, sim, a grande propaganda de bens e serviços. Aliás, o documentário “The Corporation” aborda isso com uma profundidade espetacular.

Ou seja, parece-me que qualquer crítica ao “tempo de ser feliz”, “tempo de amar” e, claro, “tempo de dar presentes” que os festejos de Natal e Final de Ano serviriam, apenas, para pequenas reflexões, pois a grande maioria de nós, caros leitores e não-leitores, sempre planeja algo para o Natal e o Ano Novo e, neste planejamento, as nossas listas de compra de presentes fazem parte. Então, por mais que sejam coerentes, fundamentadas e verdadeiras as minhas ou nossas reflexões, críticas, preocupações etc., viveremos esse momento por nós, por nossas famílias, por nossos amigos... E eu até acho que é bom, pois também podemos (e precisamos) resignificar este momento.

Há alguns anos eu aprendi uma pequena, mas importante lição e que vem me guiando há tempos nestas e outras épocas tendenciosamente consumistas – Natal, Dia das Mães e dos Pais, Namorados etc.: que possamos fazer de nosso(s) presente(s) de “Feliz Seja-lá-o-que-for” algo que supere a sensação de consumo que os valores capitalistas nos impõe cotidianamente.

A lição: sempre que presenteamos alguém, o fazemos como forma de dizer o quão importante esse alguém é em nossas vidas, o quanto significam e, também, o que essa pessoa, sua história, suas palavras, as alegrias e tristezas significam, qual o papel disso tudo em nossas vidas, quais marcas e palavras deixam, quais cicatrizes nos impõe e/ou até mesmo curam. E fazemos disso uma relação recíproca. Algo do tipo: “por sua história, por seus valores, por sua vida e pelo que tudo isso significa em minha vida, te presenteio...”.

Imaginem, caros amigos, vocês não apenas fazerem uma lista de pessoas que irão presentear, mas, e principalmente, o que irão presentear!

Que este Natal que se aproxima possamos nos desafiar a encontrar um elo concreto, verdadeiro, histórico em nossas relações e que nossos presentes possam, sem medo de chavões (e as críticas), ter sentido e significado.

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

E não se esqueçam... pode ser que esses artigos ajudem em meu humilde currículo. Se for citar algumas das viagens que faço por aqui, me cite também, ok? E boas compras.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Síndrome do Fantástico... para além da pipoca...

“Nosso medo mais profundo não é sermos incapazes. Nosso medo mais profundo é termos poder demais. É a nossa luz, não nossa escuridão, que mais nos assusta...”

(do filme “Coach Carter”)

Busquei neste belo filme, em que Samuel L. Jackson interpreta um técnico de basquete de uma escola (acho que pública) americana, as minhas reflexões desta semana. Com toda a conhecida e repetida performance e produção hollywoodiana, os valores subscritos e explícitos nos vários diálogos dos jovens alunos-atletas de basquete daquela escola, nas cenas cortadas – mas que ficam no menu do dvd – nos critérios sobre o futuro de cada jovem ali personalizado, a pergunta que me instiga, e que é repetida por duas vezes durante o filme, é: “qual o seu maior medo?”. Essa pergunta era feita (por que será?) ao jovem de origem hispânica, de sobrenome Cruz.

O que me chamava a atenção neste filme e, em especial, nesta personagem, é justamente o desafio. Algo na linha – como já escrito em outra oportunidade neste espaço – do “mudar dói, mas não mudar dói muito”. Neste momento, minha reflexão tenta ser mais desafiosa ainda.

O que nos move a mudar e/ou o que nos move a não mudar, a permanecer no mesmo lugar, no mesmo sentimento, no mesmo ponto de vista de mundo? Alguns diriam, com o forte incentivo moral de nossa mídia tupiniquim, que é a força de vontade de cada um, aquela que está “dentro” de nós. Diriam, como costumamos escutar enfaticamente nos mais diversos programas matinais, dominicais etc’ais que, “se você tem um sonho, vá atrás dele”, “tens que ter força de vontade para conquistar seus sonhos, somente assim irá alcançá-los”, como se o mundo, a sociedade, as relações humanos fossem um grande oceano de oportunidades iguais para todos os 6 bilhões iguais neste mundo.

Outros diriam que está em nossa luz espiritual, bem no estilo “nasceu iluminado”. Para mais além, diriam (e dizem, principalmente, os “exemplos” de vencedores globais”) que “Deus foi bom comigo”, o que nos levaria a arriscada conclusão de que Deus pode não ser tão bom com outros – isso me lembra o sub-comandante Marcos, do EZLN, mas já é história para outro domingo.

Bom, meus ímpares parceiros de viagens do Arcamundo. Eu acho que o trecho em epígrafe traduz bem aquilo que não apenas acredito, mas que paciente e historicamente procuro defender todos os dias de minha vida e existência: o poder que temos dentro da gente é o que nos move e/ou nos imobiliza. Mais ainda, é o poder coletivo que temos que nos fortalece ou nos imobiliza... coletivamente.

Certa vez, comentei neste espaço um treco do livro “A Mãe” de Máximo Gorki – foi no artigo “Síndrome do Fantástico... meu convite...” de 26 de agosto último – um fantástico escritor do período revolucionário da extinta URSS. Citei um trecho, uma passagem realmente bonita e profunda da personagem de nome Pavel (“(...) a nós, nada nos impede de sermos interiormente livres (...)”), e é naquela passagem que me inspiro quanto penso no “poder que temos dentro da gente” e o quão é importante não apenas conhecê-lo, mas conquistá-lo e, acima de tudo, colocá-lo à disposição da construção de um mundo não apenas melhor, mas completamente diferente deste que assistimos debaixo da sacada de nossas janelas... mas é apenas um ponto de vista.

Assistir um filme, vez ou outra, nos provoca isso: revermos nossos sonhos (não apenas os nossos sonhos individuais, mas aqueles com a qual acreditamos serem úteis e verdadeiros para a humanidade), revermos os caminhos percorridos para chegarmos o mais perto possível destes sonhos, termos a certeza de quem está ao nosso lado e quem está contra nós por esses sonhos... Mas, também, sonharmos sempre juntos, como “sonho que se sonha junto, vira realidade”.

Temos muito o que sonhar... ainda bem...

Vida Longa!

P.S.: e lembre-se: se algo do que escrevi por aqui puder ser honrosamente usado por ti, em seus caminhos e descaminhos, não esqueça de citar-me, ok?

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

A imagem

Interessado, junto à caixa de ferramentas, fez a ele muito bem espairecer no meio da noite. Pesadelos a parte, o cheiro forte de tiner invadia um coração cansado através das fendas de seu nariz pontiagudo. Se ardia, só ele mesmo haveria de saber. Deixando-se levar pelo cheiro, que agora tomava todo o ar da cozinha, caiu sobre o chão, desconfortavelmente, uma perna sobre a outra. Depois de horas, a luz do sol incomodou seus olhos que demoradamente se abriram.
Acordou de súbito num lugar que não o era estranho: ainda no chão frio da cozinha. Bom dia, uma mulher sorriu, e ele olhou um olhar de ironia insossa, fazendo-a se irritar com a demora de sua resposta. Bom dia eu disse, sim, e bom dia eu ouvi, respondendo dessa vez rapidamente. Se a conheço me diga de onde, senão, se apresente. Não brinque comigo logo de manhã, homem, que muito bem sabe de meu mal-humor matutino. Se a conhecesse poderia tê-la entendido, mas nunca havia visto aquele rosto sereno e azul do sol que acabava de nascer. Por que está no chão? Acaso não tem onde dormir? Não me diga que novamente caiu e lamentou-se toda a noite da queda, sem que eu tivesse ouvido? Não sei porque estou no chão dessa cozinha e não lhe conheço. Como vim parar nessa casa? Já falei para não brincar assim comigo logo pela manhã, em que ainda me recupero dos variados pesadelos que sempre me acometem.
Mas ele não estava brincando. Usando da mesma expressão de ironia que dirigia à estranha que se prostrava mais estranha ainda com aquela cara confusa, olhou todo o cômodo buscando algo nas paredes ou na memória, que lhe explicasse o porquê daquilo tudo. Além da sensação incômoda do frio, lembrou-se somente do cheiro de orégano. Levantou-se, olhou apenas para suas passadas, e chegando ao corredor, analisava cada detalhe da casa como se o lar que habitava há vinte anos fosse um lugar totalmente desconhecido, uma casa envelhecida por qualquer coisa que faz com que as coisas envelhecem e uma atmosfera tão árida quanto o gosto que sentia na boca.
Nada que existia naquela casa ele sabia de cor e um só suspiro que dava era uma sensação nova. Tocou seus próprios cabelos e estabeleceu com sua voz uma cumplicidade. Um música ressonava a cada palavra e ele queria ouvir mais. Disse como é belo poder nomear as coisas, não é? Ela simplesmente não sabia dizer nada. Acompanhava com os olhos cada um dos movimentos de seu marido, estupefata, aguardando que ele acordasse daquela injustiça, daquela perda de tempo, safadeza. Eu trabalho muito para ver você nossos filhos felizes, e você me chama de mulher, nos momentos bons, eu gosto.
Mulher.... repetiu dezenas de vezes. Pena não ser a minha, pensou. E ela já estava esquentando o leite, barriga e braços no fogão. É minha mulher? Por que pergunta isso? Sou sua mulher. E tenho filhos? Tem três lindos filhos que agora dormem, esperando que você vá trabalhar e os deixe em paz. Por que não me lembro de nada disso, mulher? Eu não sei, está a fazer piadas hoje. Gostam de mim? Já gostaram. E por que não gostam mais? Está estranho hoje, homem. Eu sei.
Encontrou um quarto, uma cama e deitou-se. Olhou para o despertador, percebendo ser aquela uma boa hora para morrer. Boa noite, luz do sol, boa hora para morrer. Antes de dormir novamente, escreveu num papel um verso. Um verso de que se lembrava: é um meta-poema a imagem incauta do meu peito... E dormiu, sereno.
Acorde, meu bem, está atrasado. E chega de brincadeiras pela manhã, me assustam. Bom dia, mulher. Sonhei com tintas essa noite...
Maria Clara Dunck
Copyright da Autora. Todos os direitos reservados.

domingo, 11 de novembro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... Olhos negros...

No início de 1999, estava assistindo a uma aula de Introdução de Fundamentos Psicológicos da Educação, uma disciplina de primeiro semestre de meu curso de Mestrado em Educação, na Universidade Federal de Pernambuco. Aliás, no tempo certo farei menção à minha dissertação e esse período de mestrado.

Lembro-me que era uma disciplina muito polêmica, mas não no sentido da reflexão e do debate profundo, mas no sentido da proposta metodológica da própria disciplina.

Naquela minha turma de mestrado, havia uma colega que tinha olhos lindos, negros e que me lembravam uma pessoa de longe, uma pessoa que mexia com meus distantes e profundos sentimentos – aliás, é preciso destacar que com essa colega não houve absolutamente nada, nem em sentimento.

Era um período em que a Universidade viva um pesado e violento período de sucateamento público, em que os blá-blá-blá’s do pensamento pós-moderno, do fim do mundo do trabalho etc. começava a ganhar força nos cursos de pós-graduação e era cada vez mais difícil estabelecer reflexões produtivas que tratassem da realidade concreta, da prática como critério de verdade.

Pois então... naquela aula, eu estava próximo à janela e lembro-me que chovia... Ficava a escutar as reflexões daquela disciplina e caí na real: nada daquilo, naquele momento, me fazia qualquer sentido ou significado. Essa colega estava sentada no outro lado da sala e, já que não conseguia ser produtivo intelectualmente naquele momento (ou seja, eu reconhecia meu limite acadêmico naquele momento – restaria saber se o professor se daria à mesma auto-crítica), virei a página de meu caderno e escrevi um pequeno verso irregular, com algumas frases para que, pelo menos por alguns minutos, aquela manhã me fizesse sentido.

Ao chegar em casa, pus novamente o velho companheiro de guerra no colo e dei mais vida aqueles pequenos versos irregulares. A primeira pessoa que presentei foi aquela colega de olhos negros e, na primeira oportunidade, cantei à aquela pessoa que longe morava. Transformou-se em mais uma de minhas melodias preferidas.

Apresento “Olhos Negros”:

“A ponte não te liga ao que acontece embaixo dela / O que você faz a respeito? / O quadro negro prende ou liberta suas idéias? / O que você pensa a respeito? / À minha frente, olhos negros, belos negros, parecem fitar-me. / E a chuva lá fora não mata a sede, / não molha o rosto de todos.

Aprendi com a minha voz a não acreditar no silêncio. / O que você diz à respeito? / Se são seus livros os que falam suas palavras, / o que falam a respeito de você? / A distância me parece tão pequena quando penso em seus braços. / Mas eu vejo tantas mãos, / palmas p’ra cima, estendendo-se a nós. / O que nós fazemos?

Liberta minha alegria não-liberta. / Não quero mais brincar de escravos-de-jó. / Liberta o meu jogo de esconde, / minhas palavras, minha arte de voar. / Liberta as palavras das palavras não-libertas. / Quero fazê-las voar. / Não quero ser ou me fazer Mártir da esperança / dos pequenos, nos palhaços. / Quero, como o bêbado, fazê-la girar.

‘Olha a cana! Olha o sal! Olha o corpo! / Quem vai querer comprar?

Olha a farinha! Olha o carvão! Olha o corpo! Só para o seu prazer de poder!’

Olhe para os meus pés descalços, / minha casa de jornal molhou-se com a chuva. / Não importa a cor dos seus negros olhos. / O que nós faremos à respeito?”

Marcelo “Russo” Ferreira

PS.: Essa canção tem registro da letra e tem melodia própria. Em citando-a, lembre-se da história destas letras amontoadas, melodicamente amontoadas... são, como as demais já apresentadas aqui, parte de minha história.

domingo, 4 de novembro de 2007

“Síndrome do Fantástico”... O racismo II...

“Socialismo ou Barbárie!”
(Rosa Luxemburgo)

Há cerca de duas semanas fiz um comentário sobre a publicação de um pseudo cientista (e seu não-pseudo Prêmio Nobel por sua descoberta da seqüência genética), quando o mesmo afirmava publicamente que os “brancos” eram mais inteligentes que os “negros”... Dentre outras angústias, me preocupava o caminho que, cada vez mais, leva a humanidade ao “caminho sem volta” – ou o que preconizou Rosa Luxemburgo, na epígrafe acima. A manifestação em questão leva a humanidade ao risco de legitimar frases do tipo “o Brasil não é o Piauí”...
Durante aqueles dias, reitero, a mídia se comportou do tamanho de sua sinceridade, do tamanho de sua imparcialidade: muito pequena!
Naquela oportunidade, recordava um belíssimo texto assinado pelo Subcomandante Marcos ante a uma possível “descoberta” da direita oportunista (bem ao nível das descobertas racistas do Nobel Watson) de que existia, no meio dos revolucionários zapatistas, um “maricas revolucionário”.
Reproduzo, abaixo, o texto gentilmente cedido por Décio Mello e Regina Garbelline da Editora A Tribo. Reproduzo para contribuir com seu eco...

"Em abril de 1994, o São Francisco Chronicle referiu-se ao subcomandante Marcos, voz dos zapatistas revolucionários em Chiapas, México, dizendo que tinha trabalhado num restaurante de São Francisco, mas que havia sido despedido por ser gay. A imprensa governamental do México lançou-se no ar: Um maricas revolucionário! Os Zapatistas responderam com o seguinte comunicado: Marcos é um gay em São Francisco, um negro na África do Sul, um asiático na Europa, m chicano em San Isidro, um anarquista na Espanha, um palestino em Israel, um índio maia nas ruas de San Cristóbal, um judeu na Alemanha, um insurrecto no Ministério da Defesa, um comunista no pé da Guerra Fria, um artista sem galeria nem portfólios, um pacifista na Bósnia, uma dona de casa só num sábado à noite em qualquer bairro do México, um repórter escrevendo histórias que enchem as páginas negras, uma mulher solteira às dez da noite, um camponês sem terra, um trabalhador desempregado, um estudante fracassado, um dissidente no meio da economia de livre-mercado, um escritor sem livros nem leitores, e, sobretudo, um zapatista nas montanhas do sudeste do México. Assim é Marcos, tão humano como qualquer outro neste mundo. Marcos é todas as pessoas exploradas, marginalizadas, as minorias oprimidas, resistindo e dizendo ‘Basta!’ – El Despertar Mexicano”

Que este belo texto, este magnífico comunicado dos revolucionários zapatistas, mesmo para aqueles e aquelas que silenciam-se ante à ditadura não mais simbólica do hemisfério norte (sobretudo os EUA) e ironizam os movimentos pré-revolucionários dos estados soberanos, sobretudo os latino-americanos, possa ressoar em seus corações e valores... Ou, no mínimo, os façam perguntar: “porque nossa mídia foi tão medíocre neste assustador silêncio racista?”.

Vida Longa!

Marcelo “Russo” Ferreira

Obs.: reitero que o texto em itálico foi subtraído do Livro A Tribo (uma agenda-livro produzida pela Editora A Tribo). Sobre as demais palavras, lembre-se de mim se for reproduzi-las...