Dânia era bela segundo o olhar sobre-humano: nas perenes manhãs de felicidade, bastava pensar que era rotina que a cumpria alegre no início, entediada no meio e cansada no fim. Quando desejava alguém, eram rostos diferentes que a ocupavam, pois nunca sabia ao certo os traços de uma noite só, de duas... Por isso exigia poder fixar seus olhos sob as feições sempre, beijando de olhos abertos, se podando. Mentira. O que ela queria era sempre mais dos suspiros, que jamais dava, apenas esperava, maravilhada, esperançosa.
Do que não queria, lembrava até das traições estampadas, porque as rugas ficam com os erros, ela pensava, e quem erra demais envelhece acelerado. O ingênuo era quem estava sempre novo, recuperado a cada choro de vítima, sem melancolias. Mas Dânia era doce e amargurada, um pouco insossa no finzinho, e a cada espirro de lágrima era pelo mesmo motivo: a paixão deslavada. Mas na boca ficava um gostinho bom, continuado.
Odiando a maneira como os lanterninhas levantavam ao fim do filme para abrir as cortinas, anunciando que o final chegara, cria que da mesma forma se davam os relacionamentos: uma contradição percebida, e já é hora (mesmo acabando na hora certa ou não. Pensa que poderia ter acabado antes, se poupado daquela cena, meio desnecessária, e colocado outra bonita. As vezes acha que acabou no momento exato, meio que previsível, ou perfeito.) Aceita, crispada de dor, mas como sempre, comedida até na sem-graceza.
Essa paixão pela respiração alta sempre traz a ilusão. Dânia enclausura-se num pensamento de derrota e, se quer chorar, chore agora. E Dânia nunca chora quando a dor é demais. Não sei por quê. E acorda, com o mesmo rosto não muito bem delineado em sua memória, mas o suficiente claro para mal humorá-la; quando a pobre dorme, é claro. Demora-se insone, frente a um perfume que a comicha toda, e a textura de um cabelo mal lavado, mas tão negro, ou não. Era o que tinha do pouco que perdia. E, Dânia o vendo, agora claro, pois à sua frente alguém está a fingir que nunca a desejara - ou que sincera o que enfim, acabou, me desculpe - Dânia se sente quase feliz, quase triste... Se sente Dânia.
Do que não queria, lembrava até das traições estampadas, porque as rugas ficam com os erros, ela pensava, e quem erra demais envelhece acelerado. O ingênuo era quem estava sempre novo, recuperado a cada choro de vítima, sem melancolias. Mas Dânia era doce e amargurada, um pouco insossa no finzinho, e a cada espirro de lágrima era pelo mesmo motivo: a paixão deslavada. Mas na boca ficava um gostinho bom, continuado.
Odiando a maneira como os lanterninhas levantavam ao fim do filme para abrir as cortinas, anunciando que o final chegara, cria que da mesma forma se davam os relacionamentos: uma contradição percebida, e já é hora (mesmo acabando na hora certa ou não. Pensa que poderia ter acabado antes, se poupado daquela cena, meio desnecessária, e colocado outra bonita. As vezes acha que acabou no momento exato, meio que previsível, ou perfeito.) Aceita, crispada de dor, mas como sempre, comedida até na sem-graceza.
Essa paixão pela respiração alta sempre traz a ilusão. Dânia enclausura-se num pensamento de derrota e, se quer chorar, chore agora. E Dânia nunca chora quando a dor é demais. Não sei por quê. E acorda, com o mesmo rosto não muito bem delineado em sua memória, mas o suficiente claro para mal humorá-la; quando a pobre dorme, é claro. Demora-se insone, frente a um perfume que a comicha toda, e a textura de um cabelo mal lavado, mas tão negro, ou não. Era o que tinha do pouco que perdia. E, Dânia o vendo, agora claro, pois à sua frente alguém está a fingir que nunca a desejara - ou que sincera o que enfim, acabou, me desculpe - Dânia se sente quase feliz, quase triste... Se sente Dânia.
Maria Clara Dunck. Copyright da Autora. Todos os direitos reservados.
2 comentários:
Lindo...
Uma métrica quase que saramaguiana, mas absolutamente original...
Um texto que, com certeza, seria melhor lido sentado sobre uma pedra, na beira do rio...
Um deleite.
Parabéns.
Incrível... Você se superou e quase traduziu o intraduzível: alma feminina.
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