terça-feira, 19 de dezembro de 2006

“Todo estado de alma é uma paisagem. Isto é, todo estado de alma é não só representável por uma paisagem, mas verdadeiramente uma paisagem. [...]

Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de suas paisagens. [...]

De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Tem de ser duas paisagens, mas pode ser – não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem – que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior. [...]”.

(Fernando Pessoa)


A ausência das nuvens


Dias ensolarados nos lembram felicidade
Ou sono, que ao sol coube dissipar e não pode.

Dias nublados nos lembram dias nublados...

Mas no dia nublado de hoje
Eu lembrei da felicidade.

Esse descompromisso compromissado em sorrir por instantes.
Um desleixo preocupado em ouvir a dor do outro
E esquecer-se das próprias fadigas cotidianas.

No dia nublado de hoje eu lembrei de você
E tive seu rosto frente aos meus olhos
Suas mãos postas sobre minha força contida
E toda sua inconstância esmiuçada na minha amargura de viver
Com a sensação do tempo pela metade.

E lembrava daquele momento na brisa da tarde
De um dia nublado que nasceu ensolarado.
E de sua dor que já é minha.

Maria Clara Dunck
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2 comentários:

Anónimo disse...

"de sua dor que já é minha"


Ah, companheira...
E quem nos acompanha quando "a malvada da

Anónimo disse...

Ah, companheira...
E quem nos acompanha quando "a morte chegar"?