Antes, uma matéria sobre chacinas na região Norte Paulistana... depois, óvnis em uma cidade americana – “nós, agora, queremos saber que história é essa de disco voador”.
Entre elas, cá estão as falas dos repórteres espetaculares: “Tudo isso aqui a senhora ‘cata’ no CEASA’... “... nesta feira da exclusão”, “você chega as quatro da manhã aqui (no lixão da CEASA)... p’ra catar?”... e bote a câmara filmando, em câmara lenta, as lágrimas e o sorriso destas pessoas...
E, depois de filmar idas e vindas, com baldes, caixas, sacos de estopa, carregando comida colhida no lixão da CEASA, pergunta-se: carregou tudo??? Só faltou perguntar se estavam cansados...
As comidas no lixão da CEASA, quando chegam na comunidade, são vendidas a 0,10, 0,20 ou 0,30 centavos, numa ocupação ainda, claro, na lona preta.
As frutas e legumes estão com ótima aparência... as pessoas da comunidade com certeza adquirem no mesmo dia, enquanto sua esposa separa o que vai para o almoço e para os vizinhos.
“É a luta de nós, sofredor...”... “Aprenderam a tirar das sobras o alimento de cada dia”, concluiu o repórter.
E dá-lhe “solidariedade” p’ra cá, “solidariedade p’ra lá”...
Já a Regina foi uma “carta” que a produção recebeu, falando da saudade de mãe, no Ceará... viagem na hora, um dia num parque aquático e no shopping popular... “Você sente falta da sua mãe?”, “você gostaria de revê-la?”... Ela é camelô e o marido está desempregado... Eles têm cinco filhos... “Vocês passam necessidade?”
Nestes meses passeando semanalmente por este espaço, nunca me senti tão incomodado com o que assisto na tv ou com o que leio em revistas semanais. É verdade que antes do arcamundo, sim, diversas vezes. Mas está cada vez mais difícil assistir a um telejornal da mídia aberta sem me perguntar: “o que é isso?”, mesmo já tendo comentado diversas vezes, neste espaço, a imparcialidade de nossos meios de formação de opinião... Mas a pergunta continua: o que é isso?... e o que nós temos a ver com isso? Com a fome de quem freqüenta o lixão, com os óvnis, com a violência, com as reportagens...
Hum... o que vocês pensa disso tudo?
Marcelo “Russo” Ferreira
Obs.: Se as perguntas que ando me fazendo são parte das perguntas que andas fazendo também, lembre-se de mim se achares algum caminho para alguma resposta.
As coisas passam em nossas vidas e estamos cada vez "naturalizando" as barbaries. Um viva a raiva que sinto contra todas as injustiças, e que me dá animo para tentar de alguma forma modificá-las.
ResponderEliminarRenata