“Meu caro amigo me perdoe por favor,
se não lhe faço uma visita.
Mas como agora apareceu um portador,
mando notícias nesta fita”
(“Meu Caro Amigo” – Chico Buarque e Francis Hime)
Olá, meu/minha velho/a amigo/a. Quanto tempo!
Desculpa não ter respondido sua última carta há mais tempo. Sei que já faz, aliás, um bom tempo, mas, uma hora a gente cria vergonha na cara e responde... ou não...
Espero que esta o/a encontre bem, assim como os seus... Aliás, sua família já deve até ter crescido um pouquinho, né não? Em tamanho e quantidade...
Bom, como deves saber, há alguns anos ando pelo Planalto Central. Uma experiência interessante, mas sinto falta de trabalhar com política pública lá na ponta mesmo, como quando morava em Recife. Ah! Tem também a sala de aula, né? Atualmente, meus alunos de ensino fundamental já devem estar razoavelmente grandes, os meninos falando grosso, as meninas já quase mulheres...
Mas, sobre tantas coisas que a gente conversava em nossas longas cartas, algumas a gente tinha uma ansiedade para receber, né? Ops... lá vai eu tergiversando de novo... Bom, acho que continuo com a mesma cara. Tocando violão e, agora, um baixo também faz parte de meu “equipamento musical”... E tem os três cachorros: Janis Joplin, Kaia e Hércules...
Nestes tempos, amizades vieram e foram-se... algumas rápidas demais... outras, longas amizades, se perderam no poder, ah!, o velho poder... “queres conhecer o homem...”. Alguns outros “tiveram” que ficar em silêncio... Mas outras amizades cruzaram o caminho e, essas, ficaram... tanto melhor foi “re-ver” “a-amigar” velhas amizades. Acho que essas são as mais importantes.
Ando numa de “Orkut” (e não fui eu quem criou o meu perfil, tu acredita?)... Incrível como acabamos nos inclinando para essas coisas que nos tiram da rua, da frente de casa, da conversa com vizinhos (aqui em Brasília? É difícil!). Encontrei algumas pessoas, algumas comunidades bacanas (Saramago, Che, MST, Máximo Gorki, Marx, alguns rock’n’roll de primeira). Também encontro as manifestações que nos assustam ante a convicção de ódio quase racial... “Eu odeio isso, esse e aquele outro” e seguem livremente... O que será que pensam de outras coisas, além daquilo que expressam nessas comunidades isoladas?
Também vi e ouvi de tudo: meias palavras, palavras oportunas, alpinistas de todo o tipo... Também me vi em minhas incoerências e as tenho tratado...
No mais, continuo vendo as coisas, a vida, a sociedade, o mundo, o homem e a mulher, como sempre os vi, pois não transformam-se:
Continuo vendo os programas espetaculares e fantásticos da tv com suas meias palavras, com suas matérias sensacionalistas, com os fatos pela metade (e a metade que lhes interessa, claro) com seu jeito estranho de apagar a memória de nossos contemporâneos brasilis.
Acompanho, quando posso, as novelas... ah! As novelas... Agora tem novela em quatro estações abertas de televisão... favelas com dono, faculdades particulares “sociais”, mutantes, anjos, igreja, dança... gente boa e gente má, apenas por serem boas ou más... E, ainda, as matérias jornalísticas popularizando a máxima hollywoodiana: a vida imita a arte.
Neste final de ano, claro, como todos os outros, as incontáveis “festas de final-de-ano”. Algumas eu fui... Uma coisa legal, foi uma experiência de um amigo secreto no trabalho, em que a gente “dispensou” a idéia do valor mínimo e passamos a ver a pessoa que sorteamos e a nossa própria pessoa para dar sentido e significado ao presente que fôssemos dar... Não sei se funcionou com todo mundo, mas comigo, pelo menos, deu certo.
Ah! Mas mais complicado foi uma festa em que a música “sensação” que tocou e lotou o salão era uma que tinha uma rima difícil, complicada até de decorar, mesmo com as 120 repetições seguidas. Era “creu! Creu! Creu!”... 120 vezes... Imagina...
Bom, meu/minha bom/boa e velho/velha amigo/a... O mais importante é que escrevi p’ra ti e isso me faz muito bem. Escrever para as pessoas, para os amigos... isso é muito bom. Pois são nossas notícias que também continuam falando da gente, não é mesmo?
Torço para que essa boa nova, de minhas notícias, de nossas notícias, assim continuem... da minha parte, continuo no mesmo lado da trincheira, continuo tentando arregimentar novos e velhos lutadores, continuo com minha boa sina de trabalhar com formação... E, mais ainda, continuo aprendendo... sempre.
Vida Longa, caro amigo...
Vida Longa, cara amiga...
Marcelo “Russo” Ferreira
Obs.: Essa é uma carta... só uma carta. Guarde-a no melhor lugar que merecer.
Bom dia chefão, feliz da vida por ter me lembrando de mandar uma carta para um amigo de fortaleza/ce, parabens, você com suas idéias aumenta cada vez meus conhecimento que pouco achava interessante.
ResponderEliminarabraços
marcelynho
"Assim a brisa
ResponderEliminarNos ramos diz
Sem o saber
Uma imprecisa
Coisa feliz" (Fernando Pessoa)
Assim você, na carta revela parte de uma vida: saudoso, solitário e sincero, mas tranquilo e feliz.
Continue escrevendo!
Um abraço,
Lu.
Que bom saber de ti, de teus pensamentos e crescimentos... compreendi muito desta carta... Qualquer dia escrevo uma carta assim pra ti, tá bom?! No momento estou naquela roda - viva de que te falei: por um Recife Livre de Fumo! :)
ResponderEliminarbeijos
Maris.
Meu caro e querido amigo "Russo", .Tua carta me fez relembrar e refletir sobre as relações, as amizades,as pessoas, as cartas escritas manuscritamente,etc, etc ....coisas saudosas,e isso nos faz um bem, pq optamos em lembrar de coisas boas,somente as boas mesmo...sem se perder do tempo. Nesta carta faltou aquele carinha q fazia uma careta a cada despedida....não é?Um grande beijo.Joselene
ResponderEliminarEssa carta me inspirou e ...
ResponderEliminar"A Rua Castro Alves é do povo.
É do povo da vila Rezende e depois do Parque Anhaguera,
Se essa rua fosse minha ela seria como era...
Não teria mais empresas, caminhoes, carros e motos.
Era assim, antes, a casa na arvore, o campinho, as pipas voando, os meninos jogando.
Os vizinhos eram parentes, desse que sao escolhidos para fazer parte da vida da gente.
Ah se essa rua fosse minha ela seria como era...
como era em minha infancia."
Isso é um texto que escrevi inspirado em suas palavras Marcelo.
Obrigada por me proporcionar esse momento.
Bjos
Renata - Goiania - Vila Rezende - Rua Castro Alves.
A quanto tempo não mandamos cartas aos nossos amigos não é?
ResponderEliminarEsta mesmo sendo passada desta forma (internet) nos faz pensar como era bom receber cartas através do carteiro nas nossas casas; ficar na ansiedade da chegada e do retorno da mesma!
Mas não podemos tb dizer, que a internet é fantástica, conversas em tempo real, matando logo a saudade q temos um dos outros...
Achei muito bacana esta carta que escrevestes, me fez lembrar tantas que ja enviei....
Grande beijo!!!
Oi...Eu estava com saudades de seus escritos...
ResponderEliminarA Carta... me fez um bem danado...
Bjos do Ceará