''Vossos filhos não são vossos filhos.
São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma.
Vêm através de vós, mas não de vós.
E embora vivam convosco, não vos pertencem...'' (Khalil Gibran)
Essa semana fui buscar na sabedoria ancestral de Khalil Gibran a lição do desapego aos filhos, esses seres maravilhosos que enchem nossas vidas de amor, aprendizado e alegria.
É talvez, uma das lições mais difíceis de se colocar em prática. Os pais, em geral, têm a falsa noção de que os filhos lhes pertencem, que nunca se separarão deles. Ledo engano, a separação pode ocorrer muito antes do que se imagina. Para a maioria de nós, pais despreparados para a verdade da vida, é doloroso, muito doloroso.
Os pais freqüentemente constroem suas vidas em torno da vida de seus filhos. Desde coisas simples, como seus horários – se é que pais têm seus próprios horários – até questões mais complexas, como escolhas profissionais. Se vão ao cinema, têm de ser depois que os filhos jantam; se querem férias tranqüilas nas montanhas, têm de colocar os pés nas areias escaldantes de alguma praia da moda, porque filhos adolescentes querem 'ver gente'. Enfim, suas vidas ficam governadas por eles.
''Filhos, melhor não tê-los, mas se não tê-los, como sabê-lo?'' Eles nos acordam 5 vezes por noite quando são bebês, não nos deixam cochilar nem por um instante na fase dos 3 aos 7, até a adolescência somos professores, motoristas, babás e, nas horas vagas, cozinhamos para eles. Na adolescência, somos tão somente motoristas – e isso é bem chato – 'mãe: me leva ao shopping', 'mãe: preciso ir à casa da Nat', 'pai: minha aula de ginástica'; 'mãe: tem festa no sábado à noite, não marca nada'. Depois da carteira de motorista, você, que acordava 5 vezes por noite, fica acordada a noite inteira. Quando se mudam, não comem direito, não dormem direito e quando o telefone toca um pouco mais tarde, acordamos alarmados.
Mas os filhos são uma dádiva de Deus – para os que acreditam Nele. Eles nos ensinam o verdadeiro significado da palavra amor. Nos exercitam no altruísmo, arrebentam com nosso egoísmo, eles nos ensinam todos os dias o valor da paciência, da tolerância, da aceitação integral do outro. Filhos nos ensinam que não somos deuses, e, portanto, não temos controle sobre tudo o que acontece na vida. Filhos são um pedaço de nós com personalidade própria. São nossa estória escrita diferente, e, em alguns momentos, tão igual que chega a assustar.
Eles fazem parte de nossas vidas, mas não nos pertencem, têm vida própria, tomam decisões, fazem escolhas. Só nos cabe alertá-los das conseqüências e apoiá-los em suas decisões.
''Mãe: Tomei uma decisão. Não me adaptei, vou voltar para Brasília no ano que vem. Vou morar com meu pai.'' (V., 11 anos)
''Mãe: Não gosto daqui. Vou morar com meu pai.'' (I., 14anos)
Maria Claudia Cabral.
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Li o seu texto e fiquei a pensar na química que vem com a gravidez, e a mutação depois dela, com todo o ritmo imposto pelos filhos, e a alteração do ritmo da mãe. Sendo assim, ao diluir e desfazer-se esse ritmo, de acordo com os acontecimentos, em que momento o progenitor toma a rédea de seu ritmo? Como estará esse bioritmo depois de tantas interferências e concessões dos filhos? É um caso a se pensar. Eu já decidi, há algum tempo, que não permitirei que o ritmo se congele a mercê dos filhos. Mais que isso, irei soltá-los e quero que sigam seu caminho (patctuei com meu terapeuta).
ResponderEliminarUm texto totalmente verdadeiro,claudinha! é isso q eu posso dizer d suas belas palavras! E tenha certeza,daqui uns dias eles vão escrever da nostalgia e do aprendizado que a escolha deles causou...
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