“(...) A vocês que me fizeram escravo-de-Jó, escutem bem: / ainda vou brincar de roda / ainda vou contar estrelas / ainda vou ensinar vocês a / semear plantações e construir casas, / ainda vou ensinar vocês a mentir / e a fingir de verdade” (Sujeito Finge-dor – Maurício Roberto da Silva – 1996).
Passamos por uma semana difícil aos nossos sentidos e aos nossos sentimentos. Se fôssemos buscar explicações sobre o que aconteceu em São Paulo, iríamos a muitos, mas muitos lugares diferentes: alguns iriam para o campo da engenharia de aviação, outros iriam para o campo da política, outros tantos caminhariam para o campo da economia, existiriam aqueles que optariam pelo caminho da espiritualidade e por aí vai... por aí iriam...
Assim a grande maioria de nós caminha... sempre procurando por explicações, quer dando-as, quer literalmente procurando-as, perguntando aqui e ali... É longo o caminho do conhecimento.
Mas foi uma semana em que vi(mos) tanta coisa que, inclusive, não resisti a assistir ao fantástico de hoje e não me surpreendi com o formato e com o conteúdo. E continuei, nestes poucos minutos de telespectador, a caminhar e ver possíveis caminhos.
Vi(mos), nestes dias, as idas e vindas de reportagens do editor que trata seu público de “Hommer Simpson” (seja lá como se escreva o primeiro nome deste personagem de desenho americano).
Vi(mos) pessoas falando ao telefone, com amigos, familiares e o repórter e o microfone ali do lado.
Vi(mos) pessoas procurando lugar para seu sofrimento e, lá estava, o repórter e seu microfone e, pior ainda, suas perguntas: “Você está sofrendo?”.
Vi(mos) a tragédia virar notícia sob todos os ângulos: dos prédios ao lado, próximos ou não, das casas, as testemunhas oculares e suas filmagens de celulares. Vi câmaras escondidas e gestos de todas as formas, bem como as matérias e seus apresentadores bem ensaiados.
Não pretendo analisar (muito longe de mim) aquilo que, em jornais, crônicas, matérias, entrevistas etc. nos foi bombardeado durantes esses dias. Fatos e contra-fatos foram e voltaram.
O que mais me chamou – novamente – a atenção nesta semana, nas conversas, nas notícias, nos comentários ao lado, foi a solidariedade e a indignação. Não que tenham sido explícitas nestes meios, talvez mais a segunda, mas ainda assim de uma maneira um tanto quanto “fabricada”
Lembro que, durante muito tempo, a solidariedade me era resumida com o “doar aquilo que não lhe serve mais ou que não irás utilizar”. Era neste núcleo que se ensinava a arte de ser solidário. Lembro-me, também, que a indignação era o tu opinares sobre algo que não concordavas e, assim, te deixava indignado.
Com o tempo, uma pergunta sobre esses dois valores não parava de me bater à porta: não seriam essas definições algo um tanto quanto individualista? Eu me indigno com o que ME incomoda e sou solidário quando ME sobra algo!?!?
E, caminhando e procurando respostas, aprendi que são dois valores absolutamente inseparáveis: a capacidade de nos indignarmos só me passou a ter sentido e significado quando acompanhada da postura de solidariedade. E minhas atitudes pretensamente solidárias só puderem ser verdadeiras quando a indignação falava-me com todas as letras, sons e espiritualidade... claro que aos meus olhos de aprendiz.
Uma tragédia me leva, resgatando esses dois valores, a pensar que temos tanto o que nos indignar e com tantos a sermos solidários. E o temos que ser todos os dias...
Desejo muita paz de espírito a todos os envolvidos com essa tragédia, porque muitos serão seus caminhos... e desejo que possamos continuar nosso difícil caminho por aprendizados tão caros à humanidade (ou mulheranidade) todos os dias: nossa capacidade de indignação e de solidariedade...
Vida longa!
Obs.: não que eu acho que tudo isso venha a ser citado por aí afora... mas se citar, pode dizer que fui eu, ok? Dê crédito...
Tem um sentido grandioso essa análise Marcelo, e o que me preocupa é que para essas ações tomarem forma, ainda precisamos vivenciar grandes tragédias.
ResponderEliminarÉ impossível mensurar a dor dessas famílias, mas a cada gesto e atitude nobres, encontramos a referência de acolher, de abraçar na alma... E em outras: a indiferença às perdas - às vidas e suas histórias -, o empenho para apontar o culpado e a lentidão em solucinar o problema,a visão capitalista, o nicho político...
Tantas coisas para serem ditas e poucas são ditas...
Muito a fazer.