quarta-feira, 2 de maio de 2007

Do Improviso e do Desapego

''Eu quero uma casa no campo
Do tamanho ideal, pau-a-pique e sapê
Onde eu possa plantar meus amigos
Meus discos e livros e nada mais''
(Zé Rodrix e Tavito)
Cá estou eu, correndo de novo. Escrevendo de improviso e atrasada - está virando hábito. Embora costume acordar segunda-feira cheia de idéias para o texto de terça, e ainda o faça, a mudança tem-me imposto novas rotinas. Questões urgentes para resolver, realização de sonhos. Ainda assim, sinto-me saudosa do som dos dedos no teclado. Sinto saudades de expor o pensamento e os sentimentos - e são tantos nesse momento de mudanças que talvez o ciberespaço seja pequeno para lhes dar cara.
Passada a semana em que me virei em mil para arrumar minha ''casa no campo'', passado o alvoroço da seleção, a vida vai aos poucos tomando seu rumo. Emprego novo, trabalho novo. Novos desafios, sonhos realizados e as coisas do dia-a-dia vão se assentando - ainda que a base de improviso e desapego.
Improviso, no entanto, não é privilégio do blog. Tenho exercitado dioturnamente essa qualidade como há muito não fazia. Desapego é desafio. Fazer caber o conteúdo de um apê de 140m, num loft charmoso de pouco mais de 50m é fazer o caminho de Santiago de Compostela. Creiam, é verdadeira viagem interna. Há que exercitar o desprendimento das coisas materiais. Há que exercitar a escolha. Isto ou aquilo - senão não cabe!
Rearranjar os móveis - escolhidos por outrem - num pequeno espaço e ainda deixar com a sua cara é tarefa das mais árduas - e das mais criativas também. Arrumar solução para uma cômoda pesada num espaço pequeno ou para um sofá-cama preto e volumoso, idem. Ter de abrir mão da sua Brastemp novinha e ultra moderna em favor da Cônsul da locadora - já meio carcomida pela longa vida - não é mole - mas nada que uma adesivagem não resolva, claro!
E os livros e cds, como ficam? Bem, depois de abrir mão de boa parte dos livros em favor de amigos e instituições, resta virar-se em mil para que os 'heróis da resistência' caibam no espaço do loft. Para isso usar os metros cúbicos, em lugar dos tradicionais metros quadrados na hora de calcular o espaço a ser utilizado, é fundamental. Funciona ou pelo menos está funcionando - mas ainda não acabou. Quanto aos cds - não me agridam, por favor - cometi o sacrilégio, segundo uma grande amiga, de digitalizar (esse verbo existe?) todos. Sim, todos! Música pertence à dimensão virtual, é intangível, amigos, cd é objeto da dimensão real. Como vivo lá e cá, optei por guardar minhas músicas lá, em seu habitat natural.
Deixar todos os bilhetes, cartinhas, objetos e coisinhas acumuladas. Abrir mão de roupas e utensílios que não se usa há anos, ''mas podem ser úteis em algum dia'' é um super exercício de desapego. Assim vai seguindo a mudança, abrir mão de objetos e coisinhas acumuladas até aqui vai ficando mais fácil a cada instante. Deixar ao longo do caminho aquilo que não é essencial, manter tão somente aquilo que se pode carregar sozinha é tornar a vida mais leve. Filosofia de vida.
''Eu gosto de ler os encartes, ver a ficha técnica e todas as informações que vêm no cd...'' (A.L., filósofo)
'' Como assim vai dar todos os seus cds???? Não, eu não consigo, preciso vê-los e tocá-los'' (C.A., jornalista)
Maria Cláudia Cabral
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5 comentários:

  1. Anónimo23:17:00

    Belíssimo texto... saudades!!!
    Marley

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  2. Anónimo11:10:00

    Só me resta lmebrar que no jogo da transformação, sua pedra caiu na casa da transformação. Transformar e descartar o velho e acolher o novo. No seu artigo vê-se muito bem a atitude transformadora. Parabéns, pois afinal você está se saindo muito bem: rearranjando um espaço que é fundamental - a casa.
    Valéria

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  3. Puts ! Escreveu pra mim !
    Fiz uma limpeza dessas, compulsória, diga-se de passagem, no começo do ano e foi um bom começo de ano !
    Boa sorte pra vc !
    =)

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  4. Anónimo11:49:00

    perdeu os cds mas ganhou uma linda piscina aquecida q eu tô louquinha pra conhecer \o/ ps.: pq fechou a casa da dayse? =o| não gostei.

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  5. Anónimo09:16:00

    leva um tempo. um dia descobrimos que não precisamos de muito. ter muito espaço é bom para o vento circular.

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