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quinta-feira, 28 de dezembro de 2006
Editorial nº 09: Dando adeus a 2006.....
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Para viver devagar e intensamente...
Preciso escrever... Sinto que de alguma forma tenho que pôr pra fora o que estou sentindo e estou sentindo tanto!!!!!! Sinto pureza, sinto magia, sinto paixão. Acabo de pensar naquele filme... como as pessoas poderiam ter um tanto bom de paixão dentro de si, um tanto daqueles... simplesmente sentir, sem culpa, sem medo, sem remorso, sem temor, sem vergonha.... eu sonho em poder ser assim, me libertar. Quem sente e sente somente com orgulho do que traz dentro de si é livre, mas tão livre, mas tão livre, que mal cabe dentro de si de tanta paixão, de tanto sofrer, de tanto imaginar, de tanto pintar e colorir e dizer e tocar e sorrir e correr e beijar e cheirar... pude sentir o cheiro de todas as coisas hoje. Cheirava a jardim, cheirava a nascer do sol, com aquelas gotinhas de orvalho e a neblina na estrada, como aquela música que cheira os seus cabelos. Quando percebo-me tão transbordando de dentro de mim como estou agora, sinto vontade de chorar. Hoje choro por pensar no quanto consigo gostar de você. Vou chorar e vou sentir o seu perfume e vou tocar os seus cabelos e te abraçar bem forte. De um jeito passional, de um jeito secreto, cheirando a rosas vermelhas do meu quintal. Hoje choro por pensar que não me importa o que vai acontecer amanhã.... não sei se amanhã chegaremos ao fim da rua, daquela rua que é o fim de nós dois... e é por isso que não me importa... só quero chorar agora de saber que gosto tanto de você e que acaba de me acariciar o rosto com a pontinha do seu nariz. Eu gosto de você não por você mesmo, mas porque sua presença me faz me sentir bem, e me sentir mal, me faz sorrir e me causa espanto, porque você não é gratuito, nem é clichê, mas é pra ser desvendado, mesmo que eu sinta que talvez nunca saiba você.Te saber seria sem graça, te saber seria muito simples.... não gosto de você simples, gosto de me aventurar e de me sentir segura nessa aventura, nem que seja na duração de um momento sublime em que toca a música: “Parece que o amor chegou aí... eu não estava lá, mas eu vi!” E de pensar que em outras noites em que o caminhão de lixo passava, eu nem sabia que existia você. E que a minha felicidade reside em tantas coisas secretas... queria poder ser passional o bastante pra te dizer, mas sabe? Acho que o silêncio tem sido tão belo nos últimos tempos... acho que o não-dizer me tem feito tanto bem... porque nessa ânsia de falar, de desenhar, de querer transparecer... acabo apagando a magia e perdendo meus segredos pelas pernas.... quero que você me saiba, sim! Mas de outro jeito, fora da minha loucura antiga, sem que eu precise dizê-lo... de um jeito sutil que você possa cheirar, possa ler, possa tocar no silêncio e entender tudo. Enquanto eu te beijava, eu pensava: Nossa! Eu gosto muito de você! Mas acho que o meu olhar dentro das minhas pálpebras serradas, dirigindo-se à sua direção, pôde te dizer muito mais. Não pretendo me deixar dominar por sentimentos obsessivos, por doutrinas utópicas, por expectativas absurdas.... eu quis resistir a você hoje, por um segundo apenas... e logo, novamente eu te quis...além de minha imaginação, sei que posso amar de novo, sei que posso amar diferente, de um jeito mais maduro, mais inocente e que posso dirigir meu amor a você e que posso receber com muito sorriso o que você tem a me dar...e que posso querer mais sem precisar pedir nada em troca..... você mesmo se dirá e se dirigirá a mim, como tiver de ser, simples assim...Estamos começando de novo... e acho que agora é mais profundo, mais sincero, mais calmo e mais bonito. Independentemente de amanhã, só queria te dizer que hoje foi maior, mais belo e que me lembrarei disso, pretendo me lembrar.
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quarta-feira, 27 de dezembro de 2006
É NATAL
Ou Dr. João da Silva, homem de bem.
" Então feliz natal
Para negros e para brancos
Para amarelos e vermelhos
Vamos parar de brigar
Um natal muito feliz..."
(John Lennon)
...É Natal! Até ontem era natal, e o Dr. João da Silva, homem de bem, pai de família, cumpridor de seus deveres cívicos e morais foi a missa do galo com a família. Ele e a esposa criaram 3 filhos com esmero, dentro da mais absoluta moral cristã.
Ele era funcionário público, embora houvesse arrumado esse emprego com a ajuda do tio nos idos de 88, bem no apagar das luzes, era servidor dedicado. Chegava às 09 e saía às 05, certamente que com duas horas de almoço, porque afinal, família é muito importante, protegida pela Constituição! Até se tornar deputado.
Dr. João da Silva era boa gente, tudo sempre tinha solução. Fazia amigos por onde passava, sempre auxiliando aqueles conhecidos que precisavam de seus préstimos na repartição. Um dia o vizinho, José Oliveira, precisando de um contrato com a administração para engordar a conta da família e poder mandar a filha para o intercâmbio, falou com Dr. João. Este, homem de bem, pai de família, cidadão exemplar, logo deu um jeitinho para que o vizinho conseguisse seu contrato. Afinal, para que servem os amigos? Solidariedade com o próximo é uma virtude.
Não foi o José Oliveira, igualmente homem de bem, policial aposentado que arrumou para darem cabo daqueles dois moleques que rondavam a vizinhança incomodando todo mundo? Merecia este agradecimento, porque quem pode agüentar com dois marginaizinhos de 9 e 11 anos rondando a vizinhança, quando se tem filhas em casa?
Aliás, Dr. João da Silva é pai exemplar. Cuida das filhas como se flores fossem, tal delicadeza. Estão sempre belas e perfumadas, sempre bem vestidas e calçadas. E ai daquele que passar dos limites! Embora ele não tenha idéia de quais são os limites. Afinal, elas são meninas de bem, moças de família. Diferentes da Ditinha, aquela guriazinha faceira, filha da Maria, que Dr. João levou para a última pescaria de amigos, com mais uma dúzia de meninotas iguais a ela para entretê-los nas noites quentes na beira do rio.
É tão generoso, Dr. João da Silva, depois que se elegeu deputado, com a ajuda do primo Eduardo, dono da construtora, e do cunhado Dionísio, que dirige a companhia de eletricidade, ficou ainda mais caridoso. Acredita que deu emprego para mais de 100 bóias-frias? Pois é, vivem agora como reis em sua fazenda no Centro-Oeste – ou será no Norte, no Nordeste, no Sul ou no Sudeste? – têm até direito a refeição, sim senhor! Comem uma vez ao dia, dormem em barracão coberto de telha – com forro! E trabalham todos os dias. Como é bom, o Dr. João! Dá-lhes de comer, local para dormir e ainda lhes dá trabalho, tudo por uma mísera contribuição do dobro do salário.
E é tão caridoso, Dr. João, que cuida dos filhos dos bóias-frias, os meninos vão para a carvoaria, aprender a ser homem desde cedo e ajudar a família. ‘’Um homem sem trabalho e sem família não é nada!’’ As meninas... Bem, as meninas ele leva para a pescaria.
E é natal, ou era até ontem. Dr. João reuniu a família, foi a igreja, orou a Deus para que tivesse piedade dos pobres de sua cidade, do seu estado e de seu país. Coitadinhos dos pobres! Ao sair, deixou generosa contribuição e ainda deu uma esmola para o sem-teto que beirava a escadaria. Como é bom, Dr. João!
E é natal, ou era até ontem!
''O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.'' (Érico Veríssimo)
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terça-feira, 19 de dezembro de 2006
Editorial nº 08: Sem maiores interferências...
Assim, tendo nós, ao mesmo tempo, consciência do exterior e do nosso espírito, e sendo o nosso espírito uma paisagem, temos ao mesmo tempo consciência de suas paisagens. [...]
De maneira que a arte que queira representar bem a realidade terá de dar através duma representação simultânea da paisagem interior e da paisagem exterior. Tem de ser duas paisagens, mas pode ser – não se querendo admitir que um estado de alma é uma paisagem – que se queira simplesmente interseccionar um estado de alma (puro e simples sentimento) com a paisagem exterior. [...]”.
(Fernando Pessoa)
A ausência das nuvens
Dias ensolarados nos lembram felicidade
Ou sono, que ao sol coube dissipar e não pode.
Dias nublados nos lembram dias nublados...
Mas no dia nublado de hoje
Eu lembrei da felicidade.
Esse descompromisso compromissado em sorrir por instantes.
Um desleixo preocupado em ouvir a dor do outro
E esquecer-se das próprias fadigas cotidianas.
No dia nublado de hoje eu lembrei de você
E tive seu rosto frente aos meus olhos
Suas mãos postas sobre minha força contida
E toda sua inconstância esmiuçada na minha amargura de viver
Com a sensação do tempo pela metade.
E lembrava daquele momento na brisa da tarde
De um dia nublado que nasceu ensolarado.
E de sua dor que já é minha.
IÉ! Preacher na HBO!
Está confirmado: Preacher realmente vai virar uma série pela HBO, com uma hora de duração por episódio. A data de estréia é indefinida, mas já se sabe que o roteiro do piloto ficará por conta de Mark Steven Johnson, que assinou Demolidor e O Motoqueiro Fantasma (este estréia em março de 2007). Os criadores da série em quadrinhos, Garth Ennis (roteirista) e Steve Dillon (ilustrador), serão co-produtores da empreitada da HBO.
Eu, particularmente, estou bastante otimista com a série. Não só porque Preacher tem um argumento maravilhoso e reinventou o arquétipo do anti-herói (e é um dos meus quadrinhos favoritos, sem dúvida), mas também porque a HBO, atualmente, produz as melhores séries que tenho visto. Deadwood e Rome, por exemplo, deixam para trás – e muito – a grande maioria de suas concorrentes sem grandes dificuldades. Outro bom motivo é a inclusão de Ennis e Dillon na equipe do seriado, o que enriquece muito a adaptação (é só ver o resultado de Sin City, acompanhado de perto por Frank Miller), ao contrário do que aconteceu com Alan Moore, que viu uma a uma de suas séries quadrinizadas serem acompanhadas por péssimas adaptações para o cinema, salvo algumas exceções.
Para quem não sabe, Preacher é a série que lançou Ennis no estrelato, sendo escrita de 1995 a 2000 e perfazendo um total de 66 edições. A história gira em torno de Jesse Custer, um pastor possuído pela entidade Gênesis, uma criança nascida da união entre um anjo e um demônio. Sua voz tem um poder parecido com a palavra de Deus, que faz as pessoas o obedecerem forçadamente e sem questionamentos. Ele fuma demais, bebe demais, diz palavrões em excesso e é acompanhado por Tulipa, sua ex-namorada que reencontra anos depois e Cassidy, um vampiro que nada tem do estereótipo do espécime, é obsceno, recheia seus diálogos de fucks, bebe demais e dorme na carroceria de uma caminhonete sob uma lona. Jesse é perturbado por anjos burocratas que estão atrás de Gênesis para aprisiona-lo enquanto procura Deus, que sumiu no mundo, para buscar explicações e saber porque ELE abandonou sua criação.
Garth Ennis, como a maioria dos bons roteiristas da atualidade, é Inglês (na verdade, é da Irlanda do Norte), e não tem papas na língua. Seus quadrinhos são fortes e bastante críticos, esculachando qualquer forma de moralidade (e a cristã é apenas uma delas) e com um senso de humor (negro) bastante aguçado, criando personagens como Billy Bob, o amigo de Jesse Custer na infância que era todo deformado pois sua família casava entre si para ‘preservar a linhagem’. Agora é torcer para a série de TV ser tão boa quanto sua versão original, mas não igual (como a maioria dos fãs de quadrinhos chatos e bitolados exige), pois isso nada acrescentaria.
AAAhh... só mais uma curiosidade: Jesse Custer, o pastor protagonista de Preacher, é assombrado pelo fantasma de John Wayne, que conversa com ele, lhe dá dicas e o segue desde seus cinco anos de idade.
NAMORO OU (E) AMIZADE
‘’ Amor é um livroSexo é esporteSexo é escolhaAmor é sorte...’’
(Rita Lee)
Alguém comentou sobre o porquê não namorarmos nossos melhores amigos – apresentou como razões a possessividade, o rótulo do compromisso, a fidelidade – e atenção, desavisados, fidelidade não é lealdade - que surgem em razão do sexo. Fica a pergunta a martelar a minha cabeça: por que o sexo altera as relações a ponto de gerar expectativas e posse?
quinta-feira, 7 de dezembro de 2006
Editorial nº 07: Sobre o dia-a-dia
As Cores de Almodóvar
Eis então, que ele surge com o extraordinário Tudo Sobre Minha Mãe, filme em que ele destila sua paixão à cinefilia, homenageando o clássico All About Eve (A Malvada de Joseph Mackienwiks) ao mesmo tempo que abusa do melodrama, mantendo um impressionante domínio da imagem, nesse que é talvez o seu melhor roteiro e possivelmente o mais sensível de seus filmes. Filme ainda com forte toque feminino, Tudo Sobre Minha Mãe é, entretanto, uma mudança forte na carreira de Almodóvar, em que ele parece mais sóbrio, lidando com temas mais caros, mais fortes, abusando do melodrama e da metalinguagem pra homenagear o cinema e sua mãe, numa de suas obras-primas mais bonitas, que fazem brotar lágrimas dos olhos sem muito esforço.
Mas é com Fale com Ela - na minha opinião, seu melhor filme - que Almodóvar irá chegar ao ápice de seu talento como fazedor de imagens que é. Ele parece estar num equilíbrio impressionante entre estética e conteúdo, nesse que é o seu primeiro filme efetivamente masculino, ainda que diga muito sobre as mulheres. Almodóvar nessa história monstruosamente humana e delicada, irá criar um filme denso, triste e riquíssimo, nos brindando ainda com seqüências inesquecíveis como a da tourada ao som de Elis Regina e da magistral cena do cinema erótico mudo, em que um dos personagens adentra uma imensa genitália feminina.
Má Educação é o encerramento de um ciclo de um Almodóvar mais sombrio, forte, emocionalmente mais violento e contundente. Nesse que é o seu filme mais pessoal, ele irá numa abusada homenagem aos filmes Noir, criar sua obra mais obscura e visceral. Um filme que escancara os fantasmas de seu passado, numa crítica contundente à igreja, mas antes de qualquer outra coisa, uma homenagem ao cinema, porque, com seus planos meticulosamente filmados, no seu uso impressionante de vários tipos diferentes de janelas ao longo do filme e na montagem absurdamente impecável ele irá criar o seu filme mais seu, mas inquestionavelmente o mais singular de toda a sua carreira.
Chegamos então a Volver, novo filme do mestre espanhol em que ele parece encerrar sua brilhante fase dark, pra nos confrontar com a leveza do universo feminino (ainda que leveza para Almodóvar seja algo como incesto ou coisas do tipo), repleto de cores que só mesmo ele consegue pintar com tanta beleza, num retorno a seus temas do início da carreira, às suas antigas musas – Carmen Maura e Penélope Cruz excelentes – e a sua maneira bem particular de tratar de dramas humanos. Volver é indiscutivelmente um belo filme, mas não chega a ter a potência dos filmes da recém terminada segunda fase de Pedro.
Se Volver não é a obra-prima que passamos a esperar de Almodóvar depois de uma sequência impressionante de filmes geniais, é na pior das hipóteses, um dos melhores filmes do ano, o que quer dizer que Almodóvar não precisa se superar filme a filme pra fazer cinema de alto nível. Até seus filmes menores são maravilhosos. O que faz de Volver uma pequenina e formidável pérola pintada lindamente com as cores de Almodóvar.
quarta-feira, 6 de dezembro de 2006
Sessão de cinema
Acaso não construímos dia-a-dia nossas próprias tragédias?
"Não me conheço com certeza suficientemente bem para saber se poderia escrever uma verdadeira tragédia; porém me assusto só de pensar em tal empresa, e estou quase convencido de que a simples tentativa poderia destruir-me”.
(Goethe)
Fazer tudo como se fosse a primeira vez
Eu vi pichado naquela parede fria
Porque cada livro, filme ou tato
É um achado inverossímil
Nessa dormência.
Pra quem já quis mil peças
Numa mesma imaginação,
Pedir uma presença é dureza.
Agora eu só sei que o acaso
Tem suas verdades incontestáveis.
Esses lugares-comuns da existência,
As brotoejas de um corpo carregado,
São os poucos espaços que ainda possuo.
Talvez tudo seja só um passado
Que continua afetando meus pulsos
Por ser o que me sustenta.
Cada cena daquele espetáculo
É um pedido de carência.
E eu já tenho tudo, menos satisfação.
Acostumei-me a pedir sem cobrar
E a receber sem recibo.
Na verdade eu nunca o quis,
Mesmo clamando na janela de Deus
Um gole dessa piedade sem adjetivos.
Então é natal...
A cada dia parece que o “clima de natal” chega mais cedo. Já em outubro pode-se perceber que pessoas estão mais felizes. Os adultos estão ansiosos com o depósito da primeira parcela do 13º salário e as crianças já estão com suas extensas listinhas de presentes prontas. Mas, certamente, os mais radiantes com a chegada dessa data tão especial são os comerciantes.
Afinal, é nesse período que a maioria dos trabalhadores está recebendo um salário a mais. Um rendimento que teoricamente deveria ser “extra”, mas que quase sempre está comprometido há tempos. Isso devido às dívidas acumuladas no ano (o que de certa forma inclui as despesas do natal passado) ou aos gastos previstos para o natal que está para chegar.
Mas por que é no natal a época em que o comércio está mais movimentado? Para responder a essa pergunta podemos utilizar inúmeras explicações históricas e religiosas, as quais não nos interessa abordar nesse artigo. O mais sensato é pensarmos no caráter capitalista do natal. Assim como todas as outras datas comemorativas, o comércio e a cultura consumista construíram o evento como sendo uma desculpa para se gastar. Para você fazer parte da sociedade comum, você tem que dar presentes e consumir uma ceia farta nessa época. Ou então você é um alienígena e está fora do jogo.
Mas para tornar o natal a melhor data para o comércio brasileiro, foi preciso forçar um pouco mais a barra que nas outras datas. Para chegar a esse ponto, apelou-se para a força da família. O natal é uma data especificamente familiar. Não se ouve falar de grandes festas ou comemorações públicas na noite de natal. O dia 25 é uma data para se passar com os familiares. Família que é feliz de verdade tem que distribuir presentes entre si e passar a noite se fartando de comida.
A indústria cultural norte-americana tratou de criar o estereótipo das comemorações natalinas. Famílias reunidas num momento feliz, comendo o tradicional peru, cantando músicas natalinas e distribuindo os presentes depositados em baixo do frondoso pinheiro enfeitado com artefatos decorativos. Tudo isso sob a neve do inverno rigoroso.
Como bons subdesenvolvidos que somos, tratamos logo de copiar esse modelo, ainda que com algumas adaptações. A família reunida permanece, agora acrescida de alguns parentes mais distantes. O peru não é tão tradicional, mas também continua firme, podendo ser trocado pelo Chester®. As músicas natalinas se resumem ao CD da Simone lançado há décadas, mas que insistem em nos atormentar anualmente.
A distribuição de presentes também acontece. Entretanto, agora possui o nome de “amigo secreto”, uma maneira econômica de se distribuir presentes, já que normalmente pelo menos um item todo mundo recebe. O pinheiro decorado é bem semelhante. Porém, agora ele deixa de ser natural e passa a ser sintético. Alguns até com pontinhas de tinta branca simulando neve. A decoração permanece, agora acrescida de luzes piscantes coloridas que, às vezes, até tocam alguma música. Por fim, por incrível que pareça, até a neve nós tentamos copiar. É uma anomalia que no Brasil, em pleno verão tropical, as lojas enfeitem suas fachadas com espumas brancas que, acreditam os comerciantes, dão efeito de neve. Tudo extremamente cafona. Alguns lugares ainda forçam seus empregados a usarem gorros e jaquetas semelhantes ao que o Papai Noel usa. Isso em lugares em que ar-condicionado só existe na sala do chefe. Não consigo entender o motivo de tal escolha. Tudo bem que o Papai Noel é do pólo norte, mas será que não existem maneiras mais criativas de se representar o natal? Com certeza sim. Basta usar um pouquinho da criatividade.
Ser Inteiro e Não pela Metade
Por que não namoramos nossos melhores amigos?
''...somos feitos de silêncio e sons,
tem certas coisas que eu não sei dizer''
(Lulu Santos)
Mídias ambientais também têm seu preço.
Cada vez mais cresce o número de jornalistas e outros profissionais que se interessam pela divulgação de temas ambientais, a conscientização ecológica alastra-se pelo universo da comunicação. No entanto, as mídias são verdadeiros problemas para os profissionais que pensam ambientalmente.
As pautas ambientais sofrem todo tipo de resistência, retaliações e, como não poderia deixar de ser, divergências entre os modelos implantados pelas cartilhas econômicas ortodoxas que reproduzem a mentalidade de países industrializados. As mídias ambientais produzem uma quantidade enorme de informação, mas acabam sendo obrigadas a pesquisá-la, traduzi-la, estudá-la, para reduzir tudo isso e enquadrar no espaço pequeno que lhe é disponibilizado na grande mídia. Quando conseguem um espaço maior, esse é disputado a tapas com as pautas convencionais nos cadernos de economia, ciência, agricultura, entre outros.
O jornalismo diário é essencial para o mundo de hoje, principalmente para oferecer empregos para todos os que estão aí, saindo das faculdades e procurando oportunidades para estarem na mesma pirâmide social que o atual modelo de consumo aspira. No entanto, é necessária a existência de mídias especializadas, principalmente as ambientais, elas procuram no seio das redes eletrônicas a estratégia para suas organizações, a fim de implantar um modelo econômico sustentável.
A mídia ambiental é uma potencial forma de fomentar uma economia sustentável. Seus profissionais muitas vezes pagam e, na maioria dos casos, com voluntarismo, boa vontade, compromisso e abnegação para verem a consolidação e a democratização da informação ambiental. Tudo isso porque os amantes da ecologia acreditam que só uma revolução sócio-ambiental pode dar uma nova chance à sobrevivência e a boa vivência da humanidade.
SEU JEITO DE OLHAR
Com um olhar mais atento
Verá o Planeta em agonia
Verá a vida ameaçada
Verá destruição da ecologia
Verá água e ar contaminados
E entenderá a minha teimosia
Q seu olhar, atinja seus sentimentos
Q sua reação seja de preservar
Q assumas compromisso pessoal
O que foi destruído ajude a recuperar
Q o meio ambiente seja protegido
Q seja cidadão, o seu jeito de olhar
Para que as flores não sejam de papel
arvores não deixem de existir
Para que a vida prevaleça no amanhã
A consciência precisamos difundir
Para que os animais não sejam dizimados
Precisamos urgentemente reagir
Sem amor não haverá sensibilidade
Sensibilidade é condição para o agir
Sem o respeito à diversidade da vida
O equilibrado, não vamos conseguir
Se o homem não parar para pensar
Que aguarde
O pior está por vir
Virgilio - Ecologista
quarta-feira, 29 de novembro de 2006
Editorial nº 6 : Acho que estamos todos muito sentimentalistas....
Pedimos desculpas pelo atraso da sexta edição! E sem mais demoras: leiam-nos!
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Uma homenagem ao mestre Fernando Pessoa
- Álvaro de Campos, 15-1-1928
- TABACARIA
Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.
Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.
(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.
(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)
Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente
Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.
Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.
(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.
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A FELICIDADE
Com força e com vontade
A felicidade há de se espalhar
Há de mudar os homens
Antes que a chama apague
Antes que a fé se acabe
Antes que seja tarde.
(Ivan Lins e Vitor Martins)
Esta semana fui surpreendida por uma indagação curiosa. Um amigo especial queria saber com que livros fiz minha receita de felicidade. Isto porque quando nos conhecemos, afirmei que me considero uma pessoa feliz. Haverá receita de felicidade?
Refleti um tiquinho sobre o meu sentido de felicidade. Acho que qualquer coisa que eu diga vai soar muito clichê. O fato é que, sendo ''clichê'' ou sendo acadêmica, a noção de felicidade passa pela noção de amor, portanto, farei uma viagem indo do teórico ao empírico, e quem quiser que conte outra.
Falar de felicidade é lembrar de Ortega y Gasset, filósofo espanhol do século XX. Acho fantástico como ele coloca o amor no centro das coisas, como mola propulsora. Acho interessante o seu ''eu sou eu e minhas circunstâncias'', que eu diria ''eu e minhas possibilidades''.
Falando em possibilidades, não poderia deixar de citar o ótimo documentário, que assisti recentemente: ''Quem somos nós?'' Afinal, é ciência - portanto ainda estamos na academia - física quântica, a física das possibilidades e a nossa capacidade de criar realidade. O meu sentido de felicidade passa pela idéia de escolha, de optar por criar a felicidade dentro e em torno de mim.
Mesmo não sendo afeta a livros de auto-ajuda ou fórmulas prontas, citaria algumas frases, que embora bastante clichês – não há como fugir - são verdadeiros ''mantras sagrados'' no caminho da felicidade que criei para mim. Ei-las:
1. A dor sempre vai existir, o sofrimento é opcional; Eu escolhi aceitar a dor, quando inevitável, mas escolhi também não sofrer. Como diria Roberto Shinyashiki, ''Ter problemas é normal, ser derrotado por eles é opcional''.
2. A felicidade depende exclusivamente de mim, de mais ninguém.
Essa é uma de minhas prediletas, porque realmente acredito que nossa felicidade afetiva não está nas mãos de outra pessoa, seja amigo, namorado, marido, seja quem for. A responsabilidade por nossa felicidade está em nossas mãos. Não é justo transferí-la para os ombros de outro.
3. Sou responsável por minha vida, por minhas escolhas, por meus sentimentos e por meu comportamento diante da vida. Só posso mudar a mim mesmo. Mudar a mim mesmo é escolher mudar minha atitude diante da vida, e isso já é um passo bem grande (e difícil).
Aqui vale uma observação: Sou dona das minhas ações, das minhas escolhas, mas não sou Deus. Isto significa que não tenho o controle de tudo a minha volta, ao contrário, tenho governabilidade sobre nada, salvo minha forma de reagir aos fatos. Isto é muito importante, ajuda a evitar a ansiedade. Tendo feito minha parte, aguardo os acontecimentos.
4. Ninguém dá aquilo que não tem. Amar-se é fundamental, só então posso realmente amar outra pessoa.
5. Sou minha melhor companhia. Se eu não me acho uma boa companhia, como posso esperar que os outros gostem de estar comigo?
6. Faço coisas inéditas, extraordinárias, ao menos uma vez por ano.
Resolvi fazer coisas extraordinárias no Reveillon de 2003. Decidi que no Reveillon de 2004, em lugar de estar na frente da TV assistindo a queima de fogos no Rio, eu correria a São Silvestre. Preparei-me durante todo o ano de 2004, e no dia 31 de dezembro, lá estava eu – uma ex-sedentária – correndo os 15km do percurso da 80ª São Silvestre. Cruzei a linha de chegada, depois de 1h53min da largada, exausta, na presença de milhares de pessoas que aplaudiam os grandes vencedores daquela prova. E entre eles, estava eu, que venci minhas próprias limitações. Acreditei, investi e realizei algo extraordinário. Dali em diante tenho feito isso sempre, ao menos uma vez por ano realizo algo inédito em minha vida.
5. Auxiliar os outros é uma grande forma de ser feliz. Vale a pena experimentar.
O que mais posso dizer? Não sei, sinceramente sou Maria Cláudia, não sou Dalai Lama. Não sou perfeita, estou longe disso. Ainda tenho um longo caminho a percorrer. Estou percorrendo o caminho, ''porque o caminho só existe quando a gente passa''.
''Acho que a 1ª vez que nos falamos, você disse que era feliz.''(Um amigo, 20 de novembro de 2006).
"Felicidade não é uma meta, mas um estado de espírito". "Ela é feita de pequenas coisas". (Roberto Shinyashiki)
Maria Claudia Cabral
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Caminhada
Por isso, ou por nada, vi a necessidade de transformar em poesia o andar nosso de cada dia e todas as suas farpas adquiridas ao longo do caminho; ou pelo menos uma tentativa, pois para o bom brasileiro, ou não, talvez o melhor slogan seja caminhar é preciso, pelos olhos de outros poetas: os de nós mesmos.
Caminhada
Hoje eu aprendi o significado do “caminhar para espairecer”
Que sempre me disseram entre rugas,
Mas nunca pude compreender.
Porque minhas pernas inquietas, chatas e estranhas
Não conseguem mais suportar toda a angústia
De quem pouco tem a ansiar ou desistir.
Pois eu sei, mais do que meus próprios ossos,
Que andar é negociar com os sentimentos,
E eu ando.
Então descobri, que além de escrever
Pra estragar e consertar,
Posso caminhar e respirar o orvalho.
Então direi aos interessados
Que as lágrimas vieram da madrugada,
Das pessoas que entoavam preces nas esquinas,
E das que paravam em fila dupla pra fumar um cigarro.
E eu que não sabia que às vezes é preciso parar...
Eu cantei e esqueci que o dia veio
Pra que eu pudesse ver claramente a realidade.
Deitei e esperei a noite chegar
Pra sonhar aquilo que eu não consegui ver.
Insista, me disseram, nesse eterno espairecer.
Ontem eu insisti, e por volta das 20 horas eu morri.
Volto inadequada, insana e veloz pra lhe dizer
Que não dura, aqui, a hipocrisia,
Pois ela é cansativamente esmiuçada em segredo.
Ordem, calma e regresso.
No outro dia é preciso acompanhar a volta,
Mesmo que tardiamente:
Já que nem mesmo no caos eu me acho
Devido à minha incapacidade de lidar com o incoerente.
A representação dos negros nos quadrinhos
Pensar os quadrinhos no Brasil, bem como a questão racial no país, é uma tarefa complexa e delicada, sempre margeada pela problemática da exclusão e consubstanciada pela indiferença. No âmbito da discussão racial a problemática toma contornos maiores, tocando questões como direitos humanos, transformação e redimensionamento histórico das formas de preconceito, a apropriação simbólica de um grupo, o negro, pelo outro, o branco – esse outro portador dos meios e canais de difusão comunicacional – capaz de construir hegemonicamente não somente o discurso sobre si mesmo e demais grupos, mas apropriar-se da realidade social e histórica, redimensionando-a para criar simbolicamente um universo moldado pelo seu olhar.
Em relação aos quadrinhos, a questão da marginalidade, menor em dimensões pragmáticas, mas também importante nos limites desse editorial, configura-se igualmente no universo da apropriação discursiva: as mídias surgidas em fins do século XIX e difundidas durante o século XX são vistas pela maioria como instrumentos de massificação, moldadas dentro da lógica da utilidade econômica, diluídas em termos de profundidade teórica e submetidas ao compromisso com a lógica do prazer demandada pelo capital, em detrimento do compromisso com o conhecimento. Essa visão academicista e textualista sofreu transformações à partir da década de 70, com o advento da semiótica. Á partir daí, a imagem alcançou novo patamar na compreensão dos processos da produção de sentido, antes limitada à análise do texto.
O binômio quadrinhos e representação do negro pode ser bem percebido no Brasil em Ziraldo e Maurício de Souza. Maiores produtores de quadrinhos no país desde a década de 70, conseguiram superar as sérias restrições a quem tenta sobreviver de HQ's por aqui, criando universos significacionais de relações extremamente complexas. No primeiro, destacam-se as histórias da Turma do Pererê, publicadas à partir de 1960. Do segundo, a Turma da Mônica, de 1970.
A Turma do Pererê é um universo mitológico criado por Ziraldo, claramente ancorado no nacionalismo modernista. Herdeiro da tradição lobatiana, também influenciado por outros nomes do modernismo – a exemplo de Mário de Andrade – o autor foi capaz de discutir a realidade nacional de forma extremamente crítica através de um universo lúdico infantil, protagonizado por Saci-Pererê, mito do folclore brasileiro redimensionado pelo autor e inserido em um universo cujo epicentro espacial é a Mata do Fundão. Aí, Pererê convive com um grupo composto por duas negras (além do próprio Pererê), Boneca-de-Piche e Mãe Docelina e dois Índios, Tuiuiú e Tininim, além de um grande grupo de animais típicos da fauna brasileira humanizados e batizados com nomes como Moacir (jabuti), Galileu (onça) e Alan (macaco). Os dois brancos presentes no núcleo principal de personagens, o caçador de onças Compadre Tonico e seu companheiro Sêo Neném, são dimensionados com características típicas de vilania, apresentando-se como antagonistas no universo em questão.
A Turma da Mônica de Maurício de Souza, universo quadrinizado mais popular do país, apresenta características bastante distintas da realidade forjada por Ziraldo. As quatro personagens principais, Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão, são construídas através de estereótipos e características muito bem definidas, de onde é extraído o humor nas tiras. A primeira, dentuça e com enorme força física, sempre carrega um coelho de pelúcia azul. È freqüentemente almejada por planos infalíveis que sempre falham de Cascão e Cebolinha, o primeiro com aversão a água, o segundo, troca a letra R pela letra L ao falar. Magali, companheira de Mônica, tem um apetite voraz e insaciável, sem, com isso, engordar. A habilidade com que Maurício constrói estórias baseadas nos estereótipos supracitados é notável.
Além das personagens centrais, destaca-se ainda um enorme núcleo de personagens secundárias, acionadas em momentos muito específicos, normalmente quando é necessário para a história formar grandes grupos. Servem, portanto, como um universo de reserva. Nesse núcleo secundário, encontram-se diversas personagens que se encaixam no que podemos chamar de minorias: O mudo Humberto, o japonês Nimbus, os negros Jeremias e Pelezinho (esse já não publicado), a deficiente visual Dorinha e o cadeirante Luca, estas, personagens recentes.
O que se vê portanto, é uma configuração base seguida por Ziraldo e Maurício de Souza, centrada na utilização de um núcleo central de protagonistas que atua como agente causal. Entretanto, Ziraldo, ao fazer a Turma do Pererê, tomou o cuidado de adequar suas personagens à realidade étnica do país, enquanto Maurício de Souza fez justamente o contrário. As minorias de Maurício de Souza são mera propaganda social, enquanto a turma do Pererê assume contornos muito maiores. Jeremias só é utilizado quando são necessárias personagens secundárias que dêem continuidade à cadeia de acontecimentos da trama. A função dele na Turma da Mônica, nesse sentido, é muito precisa: ser negro. Ele não tem nenhuma característica destacada ou excentricidade como as outras personagens, serve somente para o autor se mostrar politicamente correto. Obviamente, isto não deve ocorrer de maneira proposital. Entretanto, é mais uma daquelas lacunas quase imperceptíveis, involuntárias e mesmo inocentes, em que percebemos que a problemática do racismo e da exclusão está muito longe de seu fim.
Cesar Henrique Guazelli.
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terça-feira, 21 de novembro de 2006
Editorial nº 05: Para discutirmos....
sobre cinema de ação, sobre amores e descobertas, sobre arte, sobre liberdades...
Não só descobrimos as liberdades que a Internet nos proporciona, como também fomos descobertos. Amanhã (22/11) será votado um projeto de lei que controla o acesso de todos os brasileiros à Internet. Foi lançada a enquete: e você? O que pensa sobre isso?
“O que eu espero, companheiros, é que depois de um longo período de discussão, todos concordem comigo!” Winston Churchill
P.S: Gostaríamos de parabenizar de maneira pública e solene, nosso colaborador Paulo Henrique dos Santos, pela exibição de seu primeiro documentário, Além dos Outdoors!!! Um filho que finalmente nasceu e só tem a dar mais e mais frutos!!!
A Menina e o Gato.
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Na tentativa de controlar
Projeto de lei no Senado prevê controle da Web brasileira
O Senado brasileiro discute na quarta-feira, em reunião da Comissão
de Constituição e Justiça, um projeto de lei que prevê o controle do
acesso à internet, a exemplo do que se pretende estabelecer na China,
um dos países que mais controla o uso da rede.
Conforme o projeto, cujo relator é o senador Eduardo Azeredo, do PSDB
de Minas Gerais, qualquer usuário precisaria se identificar quando
acessasse a internet ou qualquer outra aplicação como o acesso a e-
mail ou a criação de blogs.
Dessa forma seria possível monitorar precisamente o que cada usuário
faz quando está online, sabendo que sites visita ou que tipo de
arquivos está baixando da rede, como músicas ou filmes.
Além de extinguir a privacidade, o projeto prevê fazer do acesso não
identificado crime passível de reclusão de dois a quatro anos.
Provedores de acesso ficariam responsáveis pela veracidade dos dados
cadastrais dos usuários e seriam sujeitos às mesmas penalidades.
Dados cadastrais
Para obter o acesso à internet, os usuários precisariam fornecer
dados pessoais comprovados como nome completo, endereço, número de
telefone, RG, e CPF aos provedores de acesso.
A favor do projeto estariam administradoras de cartões de crédito e
bancos. Procurada pela reportagem, no entanto, a assessoria de
comunicação da Febraban - Federação Brasileira dos Bancos, afirmou
que não irá comentar o projeto por enquanto.
Os provedores de internet são contrários à medida, que estabeleceria
um novo encargo burocrático para os provedores. Analistas também
criticaram a justificativa do projeto, de extinguir a privacidade dos
internautas brasileiros, já que suspeitos de crimes digitais podem
ser rastreados e identificados por meio do seu endereço IP (internet
protocol), número que é atribuído a cada usuário no momento em que
ele acessa a internet.
Agência Estado de Notícias
Discutamos, portanto, a noção de liberdade, de comunicação independente que colocamos em debate com a criação da Arca Mundo. Um dos maiores motivos pelo qual buscamos a Internet para a publicação de nossos pensamentos, foi, justamente, a não necessidade de patrocínios, financiamentos, ligações políticas, censuras, limites... É claro que essa ausência de limites é, ao mesmo tempo aliada a “causas” como a nossa e a pessoas que praticam crimes como rackers e pedófilos. Uma das grandes conseqüências inevitáveis do mal estar na civiliazação: tudo o que é novo, útil, acaba sendo subvertido de todas as formas, para todos os fins.
O fato é que os grandes monopólios de comunicação, aliados às formas de governo sempre tiveram o controle absoluto dos registros de informação, do que é colocado em pauta na sociedade, e agora, de alguma forma, isso está sendo corrompido, impedido. Longe de mim pintar as empresas eios im pintar como grandes viltoa todos os fins.como grandes vilãs ou colocar a culpa “no sistema”. Acontece, que um dos últimos meios livres, novamente, está na iminência do controle. É legal que seu sigilo telefônico ou bancário seja violado ou controlado diariamente? Por que seria legal, portanto, que seu acesso à Internet o seja? Deve-se, sim, procurar uma saída que evite os crimes cometidos via web, e todos sabem que não é essa necessariamente. Como na ditadura, as censuras foram estabelecidas para nos salvar da ameaça comunista, agora, querem nos controlar, para nos salvar da ameaça online. Sim, é um exemplo extremista, mas por que não sermos exagerados agora?imes cometidos via web, e todos sabem que ns do Mal Estar na Civiliazaraticam crimes como rackers e ped
Posso estar fazendo um alarme trivial, mas a maioria esmagadora da sociedade, simplesmente não sabe como o seu direito de comunicar e de receber informações é violado diariamente, sem que ninguém perceba. Alguém, alguma vez, pensou que poderia reclamar à Globo pela porcaria dos filmes ridículos e repetidos que passam, no mínimo, cinco vezes por ano em sua programação? Ou questionar por que os jogos de futebol são comprados para serem exibidos sempre depois da porcaria da novela das nove, fazendo com que você vá dormir de madrugada, se quiser comparecer ao estádio na quarta feira? Alguém se interessou ou buscou pesquisar qual seria o melhor plano de tv digital para a sociedade? Alguém se manifestou a favor do diploma para os jornalistas, quando queriam abolir sua necessidade para o exercício da profissão? As pessoas simplesmente acompanham passivamente o que acontece, sem ter a noção de que a cada dia são mais podadas e impedidas de se expressar!
Sejamos todos a favor de maneiras que impeçam atitudes criminosas, mas que não limitem mais esse meio de comunicação. Não sabemos no que isso vai dar, mas declaro aqui a minha indignação!
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Decifrador de sonhos
Do ser que se vê passional mas se faz cego aos apelos dos sonhos.
Engraçado como é indiferente seus atos falhos e seu pobre caráter
Frente a uma palavra que confessa a todos o que não precisa a mim dizer...
A mecha de cabelo que interrompe nossos olhares sinceros
Mente ao solidificar na ausência a espera de um sinal augusto:
Todas as mortalhas sabem que a minha busca é pelo que me abala
Nas gigantes manhãs em que nada se dá ao sol que o acordar de bem.
Sempre cri no talvez, o odiando mais que amar a quem se idealiza...
De alguém que, conscientemente nunca amou,
Forjado nesse mundo de esperas e de pestes loucas e verossímeis:
A minha quase inquietação se metadiza pois é vã na morte e na vida.
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