Ou Dr. João da Silva, homem de bem.
" Então feliz natal
Para negros e para brancos
Para amarelos e vermelhos
Vamos parar de brigar
Um natal muito feliz..."
(John Lennon)
...É Natal! Até ontem era natal, e o Dr. João da Silva, homem de bem, pai de família, cumpridor de seus deveres cívicos e morais foi a missa do galo com a família. Ele e a esposa criaram 3 filhos com esmero, dentro da mais absoluta moral cristã.
Ele era funcionário público, embora houvesse arrumado esse emprego com a ajuda do tio nos idos de 88, bem no apagar das luzes, era servidor dedicado. Chegava às 09 e saía às 05, certamente que com duas horas de almoço, porque afinal, família é muito importante, protegida pela Constituição! Até se tornar deputado.
Dr. João da Silva era boa gente, tudo sempre tinha solução. Fazia amigos por onde passava, sempre auxiliando aqueles conhecidos que precisavam de seus préstimos na repartição. Um dia o vizinho, José Oliveira, precisando de um contrato com a administração para engordar a conta da família e poder mandar a filha para o intercâmbio, falou com Dr. João. Este, homem de bem, pai de família, cidadão exemplar, logo deu um jeitinho para que o vizinho conseguisse seu contrato. Afinal, para que servem os amigos? Solidariedade com o próximo é uma virtude.
Não foi o José Oliveira, igualmente homem de bem, policial aposentado que arrumou para darem cabo daqueles dois moleques que rondavam a vizinhança incomodando todo mundo? Merecia este agradecimento, porque quem pode agüentar com dois marginaizinhos de 9 e 11 anos rondando a vizinhança, quando se tem filhas em casa?
Aliás, Dr. João da Silva é pai exemplar. Cuida das filhas como se flores fossem, tal delicadeza. Estão sempre belas e perfumadas, sempre bem vestidas e calçadas. E ai daquele que passar dos limites! Embora ele não tenha idéia de quais são os limites. Afinal, elas são meninas de bem, moças de família. Diferentes da Ditinha, aquela guriazinha faceira, filha da Maria, que Dr. João levou para a última pescaria de amigos, com mais uma dúzia de meninotas iguais a ela para entretê-los nas noites quentes na beira do rio.
É tão generoso, Dr. João da Silva, depois que se elegeu deputado, com a ajuda do primo Eduardo, dono da construtora, e do cunhado Dionísio, que dirige a companhia de eletricidade, ficou ainda mais caridoso. Acredita que deu emprego para mais de 100 bóias-frias? Pois é, vivem agora como reis em sua fazenda no Centro-Oeste – ou será no Norte, no Nordeste, no Sul ou no Sudeste? – têm até direito a refeição, sim senhor! Comem uma vez ao dia, dormem em barracão coberto de telha – com forro! E trabalham todos os dias. Como é bom, o Dr. João! Dá-lhes de comer, local para dormir e ainda lhes dá trabalho, tudo por uma mísera contribuição do dobro do salário.
E é tão caridoso, Dr. João, que cuida dos filhos dos bóias-frias, os meninos vão para a carvoaria, aprender a ser homem desde cedo e ajudar a família. ‘’Um homem sem trabalho e sem família não é nada!’’ As meninas... Bem, as meninas ele leva para a pescaria.
E é natal, ou era até ontem. Dr. João reuniu a família, foi a igreja, orou a Deus para que tivesse piedade dos pobres de sua cidade, do seu estado e de seu país. Coitadinhos dos pobres! Ao sair, deixou generosa contribuição e ainda deu uma esmola para o sem-teto que beirava a escadaria. Como é bom, Dr. João!
E é natal, ou era até ontem!
''O oposto do amor não é o ódio, mas a indiferença.'' (Érico Veríssimo)
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Então era Natal, para brancos, mulatos, ricos e famintos... e até para o Dr. João, Lulas, Rorizes, Cristóvaos e Marias... e também para aqueles que continuam fiéis a seus princípios...
ResponderEliminarE novamente o será, pois assim é a vida!
(com Cristo, ou sem Cristo)
crônicamente inviável. sem sombra de dúvida viável. e o carrossel gira, gira, gira. . .
ResponderEliminarcrônicamente inviável. sem sombra de dúvida viável. e o carrossel gira, gira, gira. . .
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