terça-feira, 31 de outubro de 2006

Por que a guerra?




Imagine all the people living life in peace.
John Lennon

“Existe alguma forma de livrar a humanidade da ameaça de guerra?” (Por que a guerra?, Einstein, p.193)

A agressividade é algo inerente ao homem e dela provém, inclusive, a origem de nossa civilização, uma vez que a mesma, com suas leis, regras e imposições, surgiu para conter os impulsos agressivos do homem e permitir que fosse possível a convivência em comunidades.

O ser humano é naturalmente egoísta, daí sua agressividade. Ele é incapaz de ser completamente altruísta, de pensar em irmandade e seguir o mais notório mandamento cristão, “Amar ao próximo como a si mesmo”. Na verdade, o mais correto, segundo Sigmund Freud, seria “Amar ao próximo como ele me ama”. O amor completo e gratuito ao próximo é algo impossível, utopia, pois o ser humano só é capaz de amar, se ele encontra no próximo características de si mesmo, ou seja, se ele se vê ou vê seus ideais de vida no próximo. “Ela merecerá meu amor, se for de tal modo semelhante a mim, em aspectos importantes, que eu me possa amar nela; merecê-lo-á também, se for de tal modo mais perfeita que eu, que nela eu possa amar meu ideal de meu próprio eu (self)” (O mal-estar na civilização, Freud, p.114)

Se o homem fosse capaz de amar incondicionalmente, não haveria agressividade e portanto, nunca teria havido guerra. A forma encontrada pelo ser humano de conter a agressividade foi a criação de leis que regem e determinam a vida e impedem que todas as pulsões (Isso, Princípio de Prazer, Pulsão de Morte) sejam exteriorizadas.

O Isso é o repositório de todas as pulsões, onde ficam os desejos, a libido, o impulso de agir, de buscar prazer incessantemente, sem limites. O Supereu se desenvolve do Isso e domina-o, trata-se das inibições das pulsões. É o repositório das leis, a ordem máxima interiorizada e que não é a mesma para todos os indivíduos.

Através do Supereu a agressividade do homem é recalcada e vai sendo acumulada até certo ponto, quando o mesmo encontra alguma justificativa para exteriorizar essa agressividade. Podemos dizer, portanto, que a guerra é nada mais que uma válvula de escape de toda agressividade recalcada. Muitos homens justificam sua participação em guerras porque foram seduzidos por alguém ou alguma ideologia. Só que para ser seduzido é preciso se deixar seduzir, ou seja, toda justificativa não passa de uma desculpa banal.

Não seria absurdo afirmar, portanto, que a guerra é uma busca, mesmo que inconsciente, pelo prazer. Segundo Freud, Princípio de Prazer é uma busca incessante pela satisfação sem limites e também uma forma de evitar o desprazer, sofrimento. Frente ao Princípio de Prazer, temos o Principio de Realidade, que nada mais é que o Princípio de Prazer adaptado ao mundo real. “Um homem pense ser ele próprio feliz, simplesmente porque escapou à infelicidade ou sobreviveu ao sofrimento, e que, em geral, a tarefa de evitar o sofrimento coloque a de obter prazer em segundo plano.” (O mal-estar na civilização, Freud, p.85)

O homem só consegue distinguir o prazer porque já experimentou o sofrimento (contraste), se a dor não existisse, não seria possível a alegria (satisfação) na sua ausência. Portanto, a guerra é uma busca de prazer, pois sem a guerra (sofrimento) não haveria paz (satisfação). “Nada é mais difícil de suportar que uma sucessão de dias belos” (Goethe) .

Outra possível causa da guerra, é a divisão da humanidade em grupos, nações, crenças, castas etc. Na maior parte das vezes, para conseguir unir um grupo, é preciso que se estabeleça, em comum, ódio a um outro grupo. Podemos citar vários exemplos, Hitler contra judeus, negros e homossexuais; atualmente, a briga entre Ocidente e Oriente, envolvendo o terrorismo e a idéia maniqueísta distorcida do mal contra o bem; os conflitos entre torcidas de futebol; e o próprio sentimento nacionalista exagerado, que coloca culturas e povos em confronto.

Se não houvesse uma divisão, se todos nos enxergássemos como homens, humanidade, irmandade e não como grupos que competem entre si, aí sim poderíamos eliminar a guerra da sociedade. Se nos amássemos incondicionalmente, talvez poderíamos controlar nossa pulsão agressiva e dar um verdadeiro sentido à noção de civilização. Contudo, isso se mostra utópico, pois o egoísmo humano nunca o permitirá “amar ao próximo como a si mesmo” e como a guerra sempre fez parte da história do homem desde o princípio, sem que fossem necessárias maiores justificativas, ela sempre se fará presente, até que consigamos pôr um fim a nós mesmos.
Camila Pessoa e Carollyne Almeida
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