''Eu conheço tantos caras legais que me pedem para apresentar uma amiga legal para namorar, e tantas amigas que me pedem para apresentar um cara legal para namorar, por que essas pessoas não estão conseguindo se encontrar?''
Já há algum tempo ouço a queixa de que as pessoas não se encontram. Se há tantos homens em busca de um relacionamento bacana - e creio que há - e se há tantas mulheres sozinhas buscando seu par, por que eles não se encontram?
Uma das verdades possíveis é que homens e mulheres mudaram muito nas últimas décadas e, embora supostamente saibam quem são, ainda não sabem o que querem. Ficam espremidos entre a programação secular dos papéis aprendidos e reforçados por gerações e as conquistas alcançadas com a revolução sexual.
Querem a independência, leveza e auto-suficiência construídas pela carreira bem sucedida, mas sentem falta - especialmente os solteiros - do par-perfeito, da alma-gêmea, do modelo socialmente estabelecido da família feliz de fotografia (pai, mãe, 2 filhos – um menino e uma menina – dois carros na garagem, casa própria e apartamento na praia).
Chegam a ficar escravos desse holograma e a viver em função da busca incessante pela realização do modelo. A certa altura não importa quem seja o 'par-perfeito', importa que com ele formará a esperada família feliz.
Tal busca começa de mansinho, no final da década dos vinte anos. O tempo vai passando... ao entrar na era balzaquiana, a cobrança vai ficando mais premente e ao aproximar-se dos quarenta vira uma verdadeira caça ao tesouro, em que não importa se um gosta de praia e o outro de montanha, o importante é ser um par. O importante é constituir família. Se assim não é, um discreto sabor amargo surge na boca e a sensação de não-pertencimento toma conta, invade.
Por outro lado, outros disponíveis 'no mercado' – notadamente aqueles que já foram casados – oscilam tal qual um pêndulo entre a serenidade da vida sozinho e a angústia da solidão. Ora querem alguém, ora querem a auto-suficiência. Desejam um colo aconchegante numa noite chuvosa, mas não estão dispostos a negociar espaços, compartilhar conquistas. Construíram uma imagem idealizada de parceiro e vão, por tentativa e erro, experimentando as pessoas que encontram, verificando se encaixam no modelo.
Daí surgem as intermináveis listas de requisitos 'básicos', tais como: 'dormir do lado esquerdo da cama'; ' não gostar de Roberto Carlos'; ou idealizam o tipo de relação, querem, às vezes, um amor tatuagem. Enfim, esses requisitos 'imprescindíveis' para a felicidade a dois. Se não encaixa, se não atende aos requisitos 'básicos', é o fim daquilo que nem começou.
Alguém pode me dizer quem quer estar agarrado à pele de alguém nos dias de hoje, sem vida própria, totalmente parasita de outro alguém, sendo levado? Sem vontade própria, sem desejos, sem sonhos, sem caminho? Enfim...
''Você já ouviu Tatuagem, do Chico? Quero uma tatuagem como aquelas para mim.'' (Um homem, 28 de outubro de 2006)
''Eu não sou como tatuagem.'' (Uma mulher, 28 de outubro de 2006)
Maria Claudia Cabral
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Acho que no fundo as pessoas não sabem o que procuram. E quando encontram o que lhes seria confortável, preferem continuar com a busca eterna da perfeição. Se fugimos de nós mesmos o tempo todo, por que não fugiríamos do outro? Edson.
ResponderEliminar“Alguém pode me dizer quem quer estar agarrado à pele de alguém nos dias de hoje...”
ResponderEliminarTalvez alguém cuja vontade, cujo desejo, cujo sonho, seja a de representar esse papel!
Alguém que mesmo agarrado à pele de alguém consiga realizar seus seus desejos, conseguindo assim ter o brilho e a beleza de uma tatuagem.
Poético o comentário do Luiz Carlos, seria possível realizar seus próprios desejos, ter vida própria sendo tatuagem colada à pele de outrem?
ResponderEliminarAcho que o texto é muito certo... sentimos falta de alguém, de companhia, de carinho, mas não queremos abrir mão de nosso espaço, de nossa liberdade. Além disso, por idealizar demais um amor perfeito, acabamos por nos decepcionar muito fácil. A solução? não sei mesmo... alguém pode me responder? :(
ResponderEliminarEu achei muito interessenta a abordagem da Claudinha. Afinal, o que o homem e a mulher querem num relacionamento? Estamos vivendo um um modelo de amor romantico romantico e arcaico. Temos que ter um par romantico e termos como base esse modelo. Eu penso que num futuro próximo, a tendência é rompermos com esse modelo, a busca, sem dúvida, é dar vazão a mais liberdade e a possibilidade de viver sem culpas por fugir desse modelo. Quem não sentiu vontade de viver uma relação ligeira com quem o agradou? Acontece é que somos limitados demais pela ideia da exclusividade.
ResponderEliminarEu posso dizer que os encontros e desencontros acontecem à nossa revelia... Belo texto, Claudinha.
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