''And so this is Christmas War is over
For weak and for strong If you want it
For rich and the poor ones War is over
The road is so long Now
And so happy Christmas War is over
For black and for white If you want it
For yellow and red ones War is over
Let's stop all the fight'' Now
...Mais um Natal. Olho em volta, nas ruas, nas praças e nos jardins, há luzes. Há luzes por toda parte. Há luzes, pinheiros, Papai Noel, botas enfeitadas, bonecos de neve... Ooops! Bonecos de neve? Estamos abaixo da linha do Equador, em pleno verão brasileiro. Estou em meio ao cerrado, aos piquizeiros em flor, já dando seus frutos. Estou no centro-oeste do Brasil. Faz calor e chove muito. O que esse boneco de neve faz na Esplanada?
Impossível não me incomodar com aquela figura gorducha e branca no meio da Esplanada, no coração do Brasil. Queridos, não estamos em São Joaquim (RS)e, ainda que estivéssemos, nem lá, nesta época do ano, neva. Estamos celebrando a mais eurocêntrica festa do mundo. Celebramos a Lapônia, Santa Klaus, a neve, as renas de nariz vermelho. Celebramos a distribuição de presentes às crianças que se comportaram bem(?) durante todo o ano, que comeram legumes, que foram obedientes.
Boa parte de nossas crianças estão pelas ruas, comendo restos, cheirando cola. Boa parte de nossas crianças são espancadas, abusadas, boa parte de nossas crianças frequentam escolas retóricas, em que professores mal-remunerados fingem que ensinam, enquanto crianças mal-nutridas e desprovidas de perspectiva fingem que aprendem.
Elas não comem legumes, elas não tiram boas notas na escola, elas não são obedientes. Elas são invisíveis durante todo o ano ou são incômodas com a sujeira e a pobreza que nos lembram a todo momento em que lado da desigualdade estamos. Elas não ganham(?) presente do Papai Noel.
Ainda assim, o gorducho boneco de neve está lá... No centro do centro do Brasil, lembrando a todos nós o frio e a fartura no Hemisfério Norte. Lembrando a força da hegemonia eurocêntrica, a força da cultura do Norte em face a cultura do Sul. Lembrando a força do consumo em face da solidariedade. Natal nos lembra 'compras de Natal', nos lembra presentes, comércio, peru, pernil, leitoa.
O Natal no Hemisfério Sul está repleto de símbolos importados de todos os cantos do Hemisfério Norte. A desigualdade parece ser celebrada nesta época, sem ela não poderíamos praticar - ao menos uma vez por ano - o amor pregado e tão bem exemplificado por aquele 'cara', que nasceu há 2007 anos e que, coincidentemente, faz aniversário nesta data.
A propósito... Ele prescindiu de bonecos de neve, de Santa Klaus e das renas do nariz vermelho para deixar seu exemplo de solidariedade, que tal seguir seu exemplo e praticar o amor e a solidariedade dia após dia, em lugar de deixar para o dia da festa?
Feliz Natal a todos, feliz natal... Sem boneco de neve, mas com muito amor pelo próximo.
''Amarás o teu próximo como a ti mesmo" (Mt 22.36-39)(Jesus Cristo)