quinta-feira, 28 de junho de 2007

Casamento

''Pois sem você, meu tesão
Não sei o que eu vou ser
Agora preste atenção
Quero casar com você...''
(Tetê Spindola)
Aprendemos desde sempre que casamento é para a vida toda, é verdade que com as mudanças do novo século, para sempre já não é todo dia. Além disso, descobrimos com Einstein que tempo é relativo, logo o 'para sempre' pode durar alguns poucos meses ou vários anos. Tudo é negociável. Aprendemos ainda, de tanto ouvir os votos dos noivos na igreja, que casamento é parceria na ''alegria e na tristeza, na saúde e na doença''. No momento do compromisso civil, aprendemos que são deveres do casamento mútua assistência, fidelidade recíproca, respeito e consideração mútuos.
Fico imaginando se a lei é mesmo capaz de obrigar um indivíduo a ter respeito por outro, mas esse não é o objeto deste texto. A verdade é que a reflexão sobre o casamento veio a partir de pergunta que me foi dirigida outro dia: 'se alguém resolve tudo sozinho, porque iria querer se casar?' Fiquei fermentando essa idéia em minha mente por semanas. Por que casar-se nos dias de hoje?
Há quem diga que é a paixão que une os casais, mas paixão não garante nem respeito, nem consideração, muito menos fidelidade. Paixão garante, certamente, encantamento, frio na barriga, mãos suadas, brilho nos olhos e muito prazer - ou não. O capítulo da assistência mútua, consideração, respeito e fidelidade é outro.
Fidelidade, por exemplo, é tema que merece texto próprio. Respeito dá pano para manga. Consideração é um conceito amplo e por isto mesmo, vou simplificar. Sabe quando você está atrasada para aquela reunião importante, esquece a chave dentro do carro, a bateria do celular acaba e o seu cachorro passa mal? Então, é exatamente nessas horas que mais se precisa da manifestão inequívoca da tal consideração e da tal de assistência, que não necessariamente é financeira, como faz crer a lei.
Ocorre que, nestes momentos fatídicos, não se consegue falar com o companheiro em questão, ou ele também tem uma reunião importantíssima, ou ainda - o que é mais grave - está almoçando com os amigos e não pode interromper para lhe estender a mão. Depois de passar por esta experiência uma, duas, três vezes ou dúzias delas, resta claro que, hoje, é cada um por si e Deus por todos.
Muito bem, se é cada um por si e Deus por todos - ou contra todos - se nos momentos de maior sensibilidade e aperreio, virar-se sozinha for a solução, realmente a pergunta procede: para quê casamento? Sigamos, sigamos, cada um por si e Ele por todos, sigamos nos encontrando nos bons momentos - ou até - nas conversas profundas da madrugada. Não esperemos 'na saúde e na doença', porque na hora que a rotina estiver prestes a explodir, creia, se não for a criatividade e uma mãozinha do Lá de Cima, ela vai explodir mesmo e, de repente, estar sentada no meio fio, olhando para o infinito, será a cena final do capítulo.
'' ...e você, por que está sozinha? Imagino que por opção.'' (F. T., Chef de cuisine um dia desses)
'' Antes só que mal acompanhada'' (as sábias avós, sempre).
Maria Cláudia Cabral
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