''Céu de Brasília
traço do arquiteto
gosto tanto dela assim''
(Caetano Veloso e Djavan)
É isso aí... Hora de partir mais uma vez, arrumar a mala, empilhar os livros, encaixotar a casa, puxar o cachorro pela coleira – filhos, comigo já não há – e seguir adiante, novos horizontes à vista.
Hora de abrir os braços, esticar as pernas, apertar os olhos e enlarguecer o sorriso para os desafios que se descortinam bem à frente. Momento de realizar. Tempo de acontecer!
Acontecer em Brasília, cidade – repito e repito – que escolhi para chamar de minha. Não há como, perdoem-me os cearenses, os paraenses, os paulistas, os baianos, os cariocas e os goianos, mas Brasília – em minha vida – é fundamental. Não que os lugares por onde passei antes e depois de Brasília não tenham importância, dizer isso seria descarada mentira. Cada uma das cidades em que morei foi responsável por um pedaço de mim, por uma parcela importante do meu pensamento caótico, por um tiquinho das minhas sentimentalidades, mas ela me traduz na íntegra, me acolhe, me come, me toma inteira. Brasília me fez mulher.
Brasília me devora e eu – impulsiva – me entrego a ela como me entrego a mais ninguém. Posso chamá-la 'meu único amor', pois só a ela me dou: corpo, alma, coração e mente. Nela, sinto-me espírito liberto e libertador. Em suas quinas me encontro, e encontro a essência feminina: menina, mulher. Na retidão de seus traços, a linha reta do meu pensamento tortuoso. No céu - ah! O céu de Brasília - a grandiosidade daquela que supera todos os obstáculos naturais, guerreira, sobrevivente de uma vida errante. Nascida do sonho visionário, feita de silêncio e sons, surgida no meio do nada, no centro de tudo.
Brasília da diversidade de sabores, da pluralidade de cores, dos cheiros, dos gestos, dos sons. Sons de todos os pontos e das pontes. Aquela que forja o Mercado, que inventa esquinas e pinta tradução dos botecos de outrora. Que se resguarda no leito e se entrega no púlpito, ou será o contrário? Brasília, a loba correndo em círculos, que não só alimenta a matilha - lobos vorazes – como os enfeitiça. Quadradinho mágico.
Bras'ILHA da fantasia' dos visitantes sazonais, da labuta de filhos e enteados, agregados e desterrados que por aqui transitam sem pudor, sem licença. Brasília tribalista: de todos e de ninguém. Livre e limitada, grandiosa e provinciana, sagrada e profana, urbana e rural. Brasília dicotômica, controversa, antagônica. Brasílias: plural! Ame-a ou odeie-a, ignorá-la: jamais!
Brasília, '' põe meia dúzia de Brahmas p'ra gelar, que eu 'to' voltando!
''Sou colcha de retalhos, identifiquei-me com Brasília. Saí duas vezes, voltei. Aqui é meu lugar!'' (M.C. Ontem)
'' Vir para Brasília me fez ver muitas coisas sobre Goiânia, estou voltando'' (M.A.V., 09 de abril/2007)
Maria Cláudia Cabral